Investimentos do setor dependem das cotas para importação de aço, diz Sérgio Leite de Andrade

*de São Paulo
Os investimentos de R$ 100 bilhões previstos pelo setor siderúrgico até 2028 podem depender do sucesso da política de cotas para a importação de aço, adotada pelo governo federal neste ano. A afirmação é do recém-empossado presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil, Sérgio Leite de Andrade, que defendeu medidas para manter a isonomia competitiva no mercado brasileiro.
As usinas no País vêm enfrentando uma invasão de aço, principalmente da China, o que resultou na paralisação de algumas operações e postergação de investimentos bilionários no Brasil. Em meio a este cenário, as empresas do setor conseguiram, após 11 meses de negociações com o governo federal, que o Brasil adotasse o sistema de cota-tarifa para nove tipos de produtos siderúrgicos.
“A indústria do aço, tradicionalmente, é um setor que investe no Brasil. Nos últimos 15 anos, nós investimos, em média, na indústria do aço, R$ 12 bilhões”, destacou Andrade. Somente no ano passado, os aportes foram de aproximadamente R$ 15 bilhões, valor acima da média histórica.
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Segundo o executivo, que também é vice-presidente da Usiminas, o principal risco para a realização dos investimentos previstos é que o sistema de cota-tarifa não consiga frear as importações. A projeção do Instituto Aço Brasil é que o sistema consiga reduzir em 12% os desembarques de aço em um ano. Somente para 2024, a estimativa é que as compras externas de produtos siderúrgicos tenham queda de 7%, uma vez que a medida passou a valer no mês passado.
“Nós estamos confiantes de que vamos ter sucesso no sistema de cota-tarifa, e a indústria brasileira do aço vai investir os R$ 100 bilhões. Agora, o que mais a indústria deseja é que haja realmente um crescimento de mercado significativo e que a gente possa, a ver no tempo, investir até mais, dependendo do crescimento”, disse.
Crescimento e competitividade
O presidente da entidade apontou outros desafios enfrentados pelo setor. Um deles é o crescimento econômico, uma vez que o incremento no consumo de aço no mercado doméstico está atrelado ao desempenho do PIB.
Para Andrade, o crescimento do PIB está aquém do potencial do Brasil, que poderia ter índices na casa de 5% ao ano. Entre os motivos para este desempenho, na avaliação do executivo, está o baixo nível de investimento no País. “Nós temos despesas, principalmente, com o custeio da máquina pública. Nós precisávamos ter mais recursos para investimento”, disse, em uma crítica aos gastos públicos elevados.
Um segundo desafio, segundo ele, é em relação à competitividade sistêmica de toda a cadeia do aço, incluindo fornecedores e clientes. “Nós precisamos, acima de tudo, trabalhar integrados”, disse.
Meio século de experiência
Andrade assumiu a presidência do Aço Brasil para o biênio 2024-2026 na segunda-feira (5). Esta é a segunda vez que o executivo, com 50 anos de experiência na indústria do aço, assume o posto. O primeiro mandato foi entre 2018 e 2020, período em que comandava a Usiminas.
Atualmente, além de vice-presidente de Assuntos Estratégicos da siderúrgica mineira, Andrade é também presidente da Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais (ABM). É a primeira vez que alguém assume as duas entidades de forma simultânea.
Compras externas recuaram em julho
Alguns dos indicadores de desempenho do setor siderúrgico apresentaram melhora, após entrar em vigor a medida do governo federal que criou cotas para a importação de produtos siderúrgicos. Em julho, os desembarques recuaram 23,7% frente ao mês imediatamente anterior, de acordo com dados do Instituto Aço Brasil.
“Acabou a farra do boi”, afirmou o presidente-executivo da entidade, Marco Polo de Melo Lopes. Segundo ele, o setor tem agora uma “lupa gigantesca” sobre as importações de produtos siderúrgicos e mantém diálogo constante com o governo para evitar uma competição predatória no mercado brasileiro.
Outro resultado positivo observado pelo setor siderúrgico é a aumento do ritmo de produção, que passou de 62% para 67%. De acordo Lopes, ainda é preciso de mais tempo para ter certeza que este desempenho é resultado da medida que reduz as importações, uma vez que a adoção da cota-tarifa ocorreu em julho.
Apesar da queda registrada em julho, os volumes de importação ainda estão elevados, uma vez que cresceram 23% no primeiro semestre na comparação com o mesmo intervalo do ano passado, passando de 2,208 milhões de toneladas para 2,735 milhões de toneladas.
*O jornalista viajou a convite do Instituto Aço Brasil
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