Economia

IPCA-15 volta a ter deflação na RMBH em setembro

Prévia do índice oficial calculado pelo IBGE registra queda de 0,47% neste mês contra recuo de 1,58% em agosto
IPCA-15 volta a ter deflação na RMBH em setembro
O preço da gasolina já caiu 8,09% na RMBH em setembro | Crédito: REUTERS/Amanda Perobelli

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) registrou deflação de 0,47% em setembro, pela segunda vez consecutiva, porém inferior à de agosto, que foi de 1,58%. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a desaceleração na prévia da inflação foi puxada pela queda dos preços no grupo de Comunicação (-2,64%), em especial dos planos de telefonia fixa e pacotes de internet.

Também contribuiu fortemente para a redução do índice o segmento de Transportes (-1.85%), no qual se destacou a queda dos preços da gasolina (-8,09%), maior impacto individual negativo do período. Entretanto, a variação do IPCA-15 na RMBH acumula alta de 6,79% nos últimos 12 meses, quarto menor resultado entre as áreas de abrangência da pesquisa, vindo atrás de Porto Alegre (5,87%), Belém (6,31%) e Goiânia (6,54%). No Brasil, a variação foi de 7,96%.

Na RMBH, o grupo de Alimentação e Bebidas também apresentou deflação, de 0,95%. Seis grupos apresentaram variações positivas: Vestuário (1,82%), Saúde e Cuidados Pessoais (0,61%), Despesas Pessoais (0,50%), Habitação (0,21%), Educação (0,10%) e Artigos de Residência (0,07%). O maior impacto individual positivo do mês foi provocado pelas passagens aéreas, cujo preço subiu 21,73%.

As maiores quedas de alimentos foram as do leite longa vida (-17,22%), da alface (-12,54%), do mamão (-10,21%), do óleo de soja (-7,46%) e do feijão-carioca (-5,78%). Do lado das altas, se destacaram a banana-prata (12,39%), o frango em pedaços (4,58%), a maçã (9,93%) e a cebola (11,43%). Também representativas foram as reduções de preço do etanol (-11,50%) e do óleo diesel (-5,75%).

Para a economista da Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio MG), Gabriela Martins, o movimento de retração, que vem gerando a deflação, está dentro do esperado. “Estamos vendo os efeitos da redução do ICMS dentro de alguns produtos-chaves, como energia elétrica, combustíveis, a gasolina em especial, e o setor de comunicação. Também contribuem alguns efeitos externos como a variação do custo do barril do petróleo”, observa.

“O efeito da redução do ICMS no setor de comunicação não foi tão rápido quanto nos combustíveis, já que o preço nas bombas diminuiu mais rapidamente, mas seu efeito também acabou chegando ao consumidor”, ressalta.

O mesmo, segundo ele, não se aplica no caso das passagens aéreas, que não tiveram nenhuma redução de impostos, além da aviação utilizar outro tipo de combustível, que não a gasolina. “O vestuário sofre os efeitos do aumento da demanda e a saúde, por sua vez, está muito atrelada ao mercado internacional. Mas, nos resultados deste mês, os preços, de maneira geral, experimentam uma tendência de queda, puxados pela retração nos setores de transportes e comunicação”, analisa a economista da Fecomércio MG.

Para ela, a redução do ICMS pode continuar gerando redução nos preços e assim provocar alguma deflação nos índices. “A expectativa do mercado está no boletim Focus, do Banco Central, apontando para uma inflação anual menor que 6%, o que é extremamente positivo para a economia”, observa Gabriela Martins.

Ela ressalva, porém, que o cenário geopolítico é complexo e mudanças nos preços do barril do petróleo podem aumentar os preços. “Além disso, temos um efeito sazonal, que é histórico, no qual o aumento da demanda por certos produtos no final de ano pode gerar um pouco de inflação”, completa.

Segundo o professor de Economia da UNA Cleyton Izidoro, excesso de deflação não faz bem para a economia e, caso se eternize, pode ser pior do que a inflação. Segundo ele, o fato da deflação ter sido menor este mês não é um movimento inesperado.

“Nos próximos meses, podemos ter o retorno de um pouco de inflação ou uma deflação também pequena. Para este ano, existe a questão da eleição, que se resolverá logo, além da Copa do Mundo. Temos que tomar cuidado para não criar muita expectativa, voltar a aumentar o consumo de maneira geral e gerar inflação neste contexto”, alerta.

Eleições

O coordenador da seção mineira da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (Abed-MG), Paulo Bretas, acredita que os impactos das eleições na economia foram bem absorvidos. “O processo inflacionário vai dentro do esperado com as quedas continuadas nos preços dos combustíveis e seus reflexos nas demais cadeias de custos. Mas a tendência é que elas se desacelerem daqui para frente”, afirma.

“São muitos problemas chegando de fora do país, como a inflação na zona do euro que leva à elevação de juros ou a China ainda vítima da Covid mantendo baixo crescimento. O problema mais evidente é a subida do dólar, mas o Brasil tem mecanismos capazes de administrar essas altas”, avalia.

Retração no País superou previsões

São Paulo – A prévia da inflação “oficial” caiu mais do que o esperado em setembro ao emendar sua segunda deflação consecutiva, ainda influenciada pelo recuo nos preços dos combustíveis, com destaque para a gasolina, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) recuou 0,37% em setembro, após declínio de 0,73% em agosto. O IPCA-15 difere do IPCA – este referência para o regime de metas de inflação do País – somente no período de coleta e na abrangência geográfica.

No ano, o IPCA-15 subiu 4,63% e, em 12 meses, avança 7,96%, abaixo dos 9,60% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. A meta da inflação para este ano é 3,50%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.

Analistas consultados pela Reuters haviam projetado recuo de 0,20% na comparação mensal e alta de 8,14% em 12 meses. As projeções de juros na B3 tinham firmes quedas ontem, sobretudo a partir de janeiro de 2024, referendando, assim, expectativas de baixa nos juros no segundo semestre de 2023, conforme sinalizado pelo Banco Central na semana passada e reforçado pela ata do Copom publicada nesta manhã.

Para o economista chefe para mercados emergentes da consultoria britânica Capital Economics, William Jackson, a queda da inflação confirma que o ciclo de aperto monetário chegou ao fim, após o BC ter mantido a taxa Selic em 13,75% na semana passada.

“Da mesma forma, o fato de a inflação permanecer muito forte (particularmente fora das categorias de alimentos e energia) corrobora nossa visão de que o banco central vai esperar até meados do próximo ano antes de recorrer a cortes de juros”, afirmou em nota.

Em setembro de 2021, o IPCA-15 subiu 1,14%. Os núcleos do índice, medidas acompanhadas de perto pelo Banco Central, desaceleraram as altas este mês, com a média dos números saindo de 0,67% em agosto para 0,47% em setembro, segundo cálculos da corretora Necton. Ainda assim, os níveis são considerados elevados.

Nas contas da corretora, a inflação de serviços esfriou a 0,18%, de 0,51% em agosto. O IBGE citou que, apesar do recuo no índice cheio, apenas três dos nove grupos do índice tiveram queda de preços — Transportes (-2,35%), Comunicação (-2,74%) e Alimentação e Bebidas (-0,47%)–, o que dá ideia do papel da queda nos preços dos combustíveis nas mais recentes deflações.

O IPCA-15 excluindo os preços dos combustíveis teria subido 0,26%, de alta de 0,42% em agosto. Os preços livres no índice, ainda de acordo com a Necton, diminuíram a alta para 0,07% em setembro, de 0,39% em agosto.

De toda forma, o índice de difusão – que mostra quão espalhadas estão as variações de preços – caiu a 58,4%, de 65,3% em agosto.

Grupos – Dentre os grupos, a queda no grupo Transportes se deveu ao recuo nos combustíveis (-9,47%). Etanol (-10,10%), gasolina (-9,78%), óleo diesel (-5,40%) e gás veicular (-0,30%) tiveram seus preços reduzidos.

A gasolina teve o impacto negativo mais intenso entre os 367 subitens pesquisados, tirando 0,52 ponto percentual do índice.

Esse resultado decorre da redução no preço do produto vendido para as distribuidoras, em 16 de agosto (0,18 centavos de real por litro) e em 2 de setembro (0,25 centavos de real por litro).

Comunicação (-2,74%) e Alimentação e bebidas (-0,47%), com impactos de -0,14 ponto percentual e -0,10 ponto, respectivamente, também influenciaram o IPCA-15.

Os preços em Comunicação foram impactados pela redução nos preços dos planos de telefonia fixa (-6,58%) e de telefonia móvel (-1,36%). Alimentação e bebidas teve o índice puxado para baixo pela alimentação no domicílio (-0,86%), com destaque para declínios em óleo de soja (-6,50%), tomate (-8,04%) e principalmente leite longa vida (-12,01%).

Os demais seis grupos apresentaram alta no IPCA-15 de setembro, com Vestuário (1,66%), Saúde e cuidados pessoais (0,94%), Habitação (0,47%) entre os destaques.

O IPCA-15 é calculado com base em preços coletados de meados do mês anterior até meados do mês de referência, enquanto o IPCA leva em conta o mês cheio. (Reuters)

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