Juros altos alavancam fundos de renda fixa

Ao que tudo indica, a renda fixa será um investimento atrativo para os brasileiros em 2023. Neste início de ano, especialistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO apostam nessa modalidade de ativos. O motivo, segundo Luis Novaes, da Equipe de Análise da Terra Investimentos, é que o Brasil possui um dos maiores juros reais do mundo, o que torna a renda fixa atrativa. “Como a perspectiva é de que os juros devem começar seu ciclo de baixa apenas no fim do ano, é razoável pensar que os investidores irão preferir o mercado de renda fixa em relação ao mercado de renda variável”, analisa.
O cofundador e CEO da InvestAI, Lucas Seixas, aposta que a renda fixa continuará em alta e ainda poderá melhorar neste ano. “Por conta das políticas públicas do novo governo, poderemos ver novos aumentos na taxa Selic ainda no primeiro semestre”, avalia. Para ele, o indexador mais procurado será o pós-fixado, que acompanha a taxa Selic e mantém o investidor protegido de qualquer piora no cenário político-econômico.
O economista e sócio da DOM Investimentos, Thiago Calestine, afirma que a aposta para este ano continua sendo a renda fixa. “A gente está fazendo vários remanejamentos da carteira de clientes do escritório, saindo de alguns outros ativos para renda fixa por uma questão muito simples: primeiro que o mercado está supercomplicado e supervolátil, falando tanto de mercado brasileiro e internacional”, diz. Ele ainda acrescenta que os juros estão em alta no mundo bem como a inflação.
Para o especialista em mercado financeiro e assessor na iHUB Investimentos, Daniel Abrahão, é difícil cravar uma “aposta” de investimento para este ano e o ideal para qualquer investidor, desde o iniciante até o mais experiente, é a diversificação e o olhar de longo prazo. “Porém, pode-se dizer que dado o atual cenário de taxa de juros e a expectativa de permanência em patamares elevados por mais tempo, a renda fixa tende a ser atrativa no ano de 2023”, observa.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
Volatilidade – Luis Novaes, da Terra Investimentos, explica que a volatilidade é fruto das preocupações dos investidores com relação à estabilidade fiscal do País nos próximos anos. “Ainda não está claro quais serão as medidas adotadas pelo novo governo a fim de compensar os maiores gastos com o Bolsa Família e, sem essa confirmação, o investidor prefere não tomar posição com foco no longo prazo, aumentando a volatilidade”, diz. Para ele, neste semestre deve ser apresentado o novo arcabouço fiscal e dependendo de como ele for desenhado, o mercado pode recuperar seu otimismo.
O sócio e gestor de renda variável da Kilima Assetg, Luiz Adriano Martinez, afirma que o momento ainda é de incerteza no País, pois ainda não se sabe como vai ser a implementação da política econômica pelo governo eleito. “Os primeiros sinais não foram muito positivos. Um problema que o País tem e que deve ser resolvido em um curto período de tempo é que as condições fiscais vão ter que melhorar. A gente tem um déficit projetado para este ano e se nada for feito, ele vai ser perpetuado para os anos seguintes”, frisa. Para ele, a volatilidade deve continuar no curto prazo até que se tenha uma definição melhor sobre as escolhas do novo governo.
Ele observa que medidas macro e micro adotadas pelo governo têm impactos na Bolsa. A perspectiva de mudança na cobrança de preço dos combustíveis, deixando de utilizar a paridade internacional, é ruim para os papéis desse segmento. Outra incerteza é com relação ao papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no mercado. “A incerteza leva o mercado a precificar o pior”, diz.
Ainda há desconfiança do mercado
Enquanto o mercado segue desconfiando das medidas econômicas do novo governo, a desoneração de combustíveis e o aumento do Auxílio Brasil da administração anterior tiveram um impacto menor no mercado. O motivo, conforme Luis Novaes, é que as medidas tinham um prazo estabelecido para terminar e respeitavam o teto de gastos, mesmo que isso tenha significado cortes em outras áreas do orçamento. “Com a expectativa de que as medidas perderiam validade na virada do ano, a reação foi moderada”, observa.
Ele acrescenta que a PEC da Transição teve seu impacto pela possibilidade de ser aprovada por quatro anos, sem medidas a vista para compensação dos gastos. Na avaliação de Novaes, a preocupação com o fiscal deve seguir como o foco, com o mercado reagindo negativamente com medidas que indicam aumento de gastos e positivamente com aquelas que demonstrem que o governo caminha para maior responsabilidade fiscal.
O especialista em mercado financeiro e assessor na iHUB Investimentos, Daniel Abrahão, lembra que o então presidente Jair Bolsonaro sancionou, em 11 de março de 2022, medida aprovada pelo Congresso que zerava alíquotas de PIS/Cofins, e que dias depois o Ibovespa acumulou queda de 4,20%. “É bem verdade que houve uma melhora rápida, mas o mercado reagiu também de maneira negativa, depois houve certa acomodação. Idem quando da aprovação do Auxilio Brasil, em um espaço de tempo maior”, analisa.
Para ele, as medidas trouxeram impacto no momento das discussões e implantação. “A rejeição do mercado não foi de maneira severa como foi agora, isso porque havia um discurso da responsabilidade fiscal mais apertada. Além disso, o movimento tinha data para começar e terminar, ou seja, seria um gasto com data de validade”, argumenta. Abrahão afirma que o Brasil não mudou radicalmente na virada do ano. “A vida segue e os problemas do brasileiro permanecem, a necessidade do atual governo claramente tende a ser mais expansionista, ou seja, maior endividamento público”, finaliza.
Ouça a rádio de Minas