Com juros elevados, financiamentos de veículos recuam 5,6% em Minas

Impactadas, principalmente, pelas altas taxas de juros, as vendas de veículos financiados novos e usados em Minas Gerais caíram 5,6% em agosto, quando comparado com julho deste ano. Enquanto o sétimo mês de 2025 registrou 57,1 mil veículos financiados, em agosto o número caiu para 54 mil, conforme dados divulgados pela B3. Já na comparação com agosto de 2024, a queda foi de 5,5%.
A redução já havia sido observada no primeiro semestre, quando houve um recuo de 3,3% no financiamento de veículos. Naquele momento, assim como agora, o resultado negativo foi puxado pelo segmento de veículos pesados.
No mês passado, o financiamento de veículos pesados em Minas Gerais teve queda de 18% em relação a julho deste ano e de 24% em relação a agosto do ano passado. O resultado ficou abaixo da média nacional, que apresentou redução de 9,9% nos financiamentos dos pesados em relação a julho e de 15,9% em relação a agosto de 2024.
De acordo com o economista e docente do Centro Universitário Uni-BH, Fernando Sette Jr., o recuo tem explicação central nos juros elevados. “As taxas para aquisição de veículos estão nos níveis mais altos da série histórica, encarecendo as parcelas e reduzindo a capacidade de pagamento do consumidor”, analisa.
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Conforme dados do Banco Central, os juros para aquisição de veículos estão variando entre 8,33% e 48,95% ao ano. Para efeito de comparação, a taxa básica da economia, a Selic, está em torno de 15% ao ano.
“No piso da faixa, apenas clientes de baixíssimo risco conseguem condições próximas de 8% ao ano, o que já não é comum no mercado. No topo da faixa, com quase 49% ao ano, o custo do financiamento é mais de três vezes a Selic, o que encarece drasticamente o crédito”, diz Sette Jr.
Ele também explica que os spreads bancários continuam elevados, refletindo risco de inadimplência e custo de recuperação de garantia. “Há ainda um fator de confiança: com cenário macroeconômico mais incerto, famílias e empresas adiam decisões de alto valor”, diz.
Na semana passada, o diretor regional da Fenabrave e vice-presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais (Sincodiv-MG), Camilo Lucian, já havia comentado sobre os impactos dos juros nas vendas do segmento de ônibus e caminhões.
“É um setor muito dependente de financiamentos e sensível à taxa de juros. Como estamos com as taxas muito altas, isso certamente influencia fortemente o volume de vendas desse setor”, analisou Lucian, na ocasião.
Já Sette Jr. lembra ainda que, em Minas, a queda é ainda mais intensa que a média nacional porque o mercado local tem maior peso de veículos pesados, justamente os mais sensíveis ao custo de capital por serem dependentes de crédito. “Eles envolvem valores muito altos e prazos longos de financiamento. Com os juros elevados, o custo financeiro inviabiliza a renovação de frotas, sobretudo para transportadoras de médio porte”, comenta.
O professor ainda ressalta um contexto de investimento corporativo mais contido e margens pressionadas por custos de insumos, como o diesel: “Não por acaso, em Minas, os financiamentos de pesados recuaram mais de 20% em relação ao ano anterior. Trata-se de um segmento altamente cíclico e muito afetado pela política monetária”.
Também com destaque negativo em agosto, os veículos leves apresentaram uma redução de 7,9% frente ao mesmo mês no ano passado e de 8,6% comparado a julho de 2025.
Motocicletas se destacam nas vendas financiadas
O cenário para o segmento de motocicletas, no entanto, é diferente em Minas e no Brasil. No Estado, as vendas financiadas de motos cresceram 8,6% em agosto deste ano em relação ao mesmo período de 2024, de acordo com dados da B3. Além disso, na comparação com julho de 2025, o aumento foi de 8%.
O professor da Uni-BH explica que o segmento é um caso particular. “As motocicletas possuem ticket médio muito mais baixo, com parcelas que cabem no orçamento mesmo em cenário de juros altos”, pontua.
Além disso, a demanda estrutural por mobilidade barata e rápida — impulsionada pela expansão dos serviços de entrega e pela busca por alternativas de transporte individual — tem sustentado o mercado, na avaliação de Sette Jr.
Ele acrescenta que o setor também tem inovado em condições de crédito, com consórcios, planos facilitados e maior disponibilidade de financiamento por financeiras especializadas. “O resultado é que, mesmo com juros elevados, o segmento de motos consegue avançar tanto em Minas quanto no Brasil”, diz.
Tendência é de crédito ainda caro, diz especialista
Para os próximos meses, o cenário ainda é de cautela e crédito caro. Na avaliação de Fernando Sette Jr., as projeções do mercado indicam que a Selic deve permanecer em 15% ao ano até o fim de 2025, o que mantém o financiamento em patamares elevados. Assim, a expectativa é de continuidade da “fraqueza” em veículos leves e pesados, com motos mantendo resiliência.
“Melhoras podem vir apenas se os spreads recuarem ou se houver programas específicos de financiamento, como linhas de montadoras ou apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) para o transporte de carga. Portanto, no horizonte mais imediato, a normalização será lenta e desigual entre os segmentos”, conclui.
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