Selic é o maior desafio para cimenteiras do País

A taxa básica de juros, que chegou a cair para 10,5% ao ano no meio de 2024, no momento está na casa dos 12,25% e com probabilidade de atingir 15% até dezembro. Esse cenário preocupa os produtores de cimento do Brasil, que estimam impactos no consumo.
O fato é que a majoração da Selic amplia a concorrência dos ativos imobiliários com os financeiros. Em outras palavras, o investidor que aplicaria recursos em imóveis passa a destiná-lo para outras frentes. O economista do Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (Snic), Flávio Guimarães, afirma que o ponto de virada é quando o nível de 12% é atingido.
O ciclo de alta dos juros é considerado pelo setor como o principal desafio para 2025. Ele pontua que a Selic é fundamental para o mercado de construção civil e quando mantida em um patamar razoavelmente baixo, ajuda a intensificar as vendas de cimento.
“O aumento dos juros é um pouco proveniente de toda uma política de governo. Se o governo tem um problema fiscal, gera inflação e uma taxa mais alta. Vira um ciclo vicioso”, afirma. “Se o governo não conseguir resolver esse problema fiscal e de credibilidade, acredito que teremos um ano bem ruim no âmbito da Selic”, pondera.
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As incertezas fiscais do País resultam ainda em outras preocupações para a indústria cimenteira, como o não avanço das obras de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a elevação de custos com a valorização do dólar – o coque, principal insumo energético do setor – é dolarizado e representa 40% do custo de produção.
Guimarães salienta que os altos níveis de inadimplência e endividamento no Brasil também afligem as produtoras de cimento, uma vez que impactam o orçamento das famílias. Outro ponto de atenção são as “bets”, porém, com menos intensidade, já que a regulamentação deve ajudar a diminuir o comprometimento da renda familiar com as casas de apostas.
Setor foi impactado pelos mesmos fatores em 2024, mas conseguiu avançar 3,9%
Todos esses fatores de preocupação para 2025 afetaram, de certa forma, a indústria brasileira de cimento no ano passado. Mesmo assim, o setor ampliou as vendas.
O crescimento das negociações no confronto com 2023 foi de 3,9%, para 64,7 milhões de toneladas, conforme o sindicato. A alta interrompeu dois anos consecutivos de baixa, embora tenha ficado distante do consumo recorde, de 73 milhões de toneladas, em 2014.
Contribuiu para o desempenho positivo, por exemplo, a melhora do mercado de trabalho e renda da população, com a taxa de desemprego e a massa salarial atingindo patamares históricos e contribuindo para o segmento autoconstrutor aumentar o consumo de cimento.
Além disso, houve um aquecimento do mercado imobiliário, puxado pela retomada das obras do Minha Casa, Minha Vida (MCMV). Segundo o economista, em 2024, o programa lançou mais de 600 mil unidades habitacionais, acima das 500 mil previstas inicialmente.
Perspectiva das cimenteiras para 2025 é de 1% de crescimento
Com o avanço significativo no exercício anterior, que elevou a base de comparação, a perspectiva do setor é de crescer menos neste ano, em torno de 1%, o que representaria aproximadamente 65,5 milhões de toneladas de cimento comercializadas. O resultado está atrelado à efetivação de programas com ênfase para a habitação, saneamento e logística.
O Minha Casa, Minha Vida tende a seguir impulsionando o consumo, assim como o agronegócio, que prevê safras recordes e os resultados movimentam a economia, e a inclusão do pavimento de concreto como opção nas licitações de ruas e rodovias.
No radar do setor também estão as concessões de saneamento que devem ser efetivadas em 2025 e gerarão demanda no médio prazo, após dois ou três anos do início dos contratos, quando as construções de estações de tratamento e esgoto, de fato, começam.
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