Economia

Justiça anula audiências da Vale para licenciamento do Projeto Apolo

Empreendimento fica próximo à Unidade de Conservação Federal (UC) do Parque Nacional da Serra do Gandarela, na região Central do Estado
Justiça anula audiências da Vale para licenciamento do Projeto Apolo
Serra da Gandarela fica entre Santa Bárbara e Caeté; projeto da Vale prevê mina, pilha de estéril, usina de tratamento de minério e ramal ferroviário | Crédito: Reprodução YouTube ICMbio

A Justiça Federal determinou a anulação de duas audiências públicas realizadas pela Vale para o processo de licenciamento ambiental para o Projeto Apolo, entre as cidades de Santa Bárbara e Caeté, na região Central de Minas Gerais.

O empreendimento é próximo à Unidade de Conservação Federal (UC) do Parque Nacional da Serra do Gandarela. Segundo ação movida pelo Projeto Manuelzão e Instituto Guaicuy, as audiências não poderiam ser realizadas sem a Autorização de Licença Ambiental (ALA) do gestor da UC, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Além de deferir tutela de urgência para anular as duas audiências realizadas nos dias 22 e 23 de maio deste ano, a juíza Ana Cristina Rocha Gonçalves condicionou a continuidade do processo de licenciamento ambiental, com novas audiências, à prévia formalização do pedido de autorização para licenciamento ambiental do Estado de Minas Gerais ao ICMBio.

“A submissão dos projetos a audiências públicas antes da formalização do pedido de autorização junto ao ICMBio, com subsequente análise das ponderações obrigatórias daquela autarquia, configura ato ilegal e temerário e, como tal, passível de anulação”, declarou a juíza no despacho.

Vale estuda medidas contra decisão

O Projeto Apolo da Vale prevê a produção de cerca de 14 milhões de toneladas de sinter feed por ano a umidade natural, ou seja, sem uso de água no beneficiamento do minério de ferro. Neste tratamento a seco do mineral não há geração de rejeitos, eliminando a necessidade de barragem ou outra estrutura para disposição de rejeitos. Ainda em 2009, o projeto tinha um valor estimado de aporte da ordem de R$ 4 bilhões.

No novo Projeto Apolo a Umidade Natural consiste na instalação de uma unidade operacional, abrangendo mina, pilha de estéril, usina de tratamento de minérios e ramal ferroviário de 8 km que se conectará à Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) para escoamento da produção via ferrovia até o Porto de Tubarão, em Vitória (ES).

Em nota, a Vale declarou que está estudando as medidas cabíveis. A mineradora afirmou que as audiências públicas do Projeto Apolo observaram a legislação e defendeu que o processo de licenciamento ambiental foi instruído, formalizado e publicizado com ética e transparência. A empresa ressaltou que o empreendimento está em fase inicial de análise pelo órgão ambiental para concessão da Licença Prévia.

Ambientalista afirma que Projeto Apolo ameaça aquífero

O fundador do Projeto Manuelzão, Apolo Heringer Lisboa, comemorou a decisão do Poder Judiciário e criticou as mineradoras por terem criado uma “seca subterrânea” pela retirada em excesso da água bruta para mineração. Ao longo do tempo essa retirada aumentou o déficit dos aquíferos, secou nascentes e gerou escassez hídrica.

Segundo o ambientalista, esse seria um efeito do Projeto Apolo da Vale no aquífero da região. “Essa decisão é muito justa. Nós não estamos brincando de uma pequena causa e isso é o futuro da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). A dependência nossa dessa região para fins paisagísticos, de clima e, sobretudo água, é fundamental”, disse.

Além disso, Heringer explica que a mineração próxima à Serra da Gandarela, mesmo que a seco, sem barragens de rejeitos, coloca a região e a Capital sob outros riscos dos depósitos de rejeitos, como poluição do ar e assoreamento na bacia hidrográfica do Rio das Velhas.

“Na Serra da Gandarela não tinha mineração ainda. O que haverá lá serão cavas de 7 km, vão botar montes de terra, mas toda essa terra pode descer com a chuva e vai descer para os rios. O que eles fizeram lá em Mariana e Brumadinho em duas, três horas, farão em 20 anos e vai empoeirar BH”, comenta.

Um dos destinos do escoamento desse rejeito seria a Estação de Tratamento de Água (ETA) Bela Fama, em Nova Lima, responsável por 70% do abastecimento da RMBH. “Se tiver lama descendo de Ouro Preto vai entupir a estação. Este é o ponto nevrálgico”, finaliza Heringer.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas