Economia

Lei Robin Hood deve ter alterações no Estado ainda neste ano

Texto prevê equilíbrio de repasses, favorecendo municípios menores
Lei Robin Hood deve ter alterações no Estado ainda neste ano
Lei tem como objetivo distribuir maior parcela de transferências para municípios com menos habitantes | Crédito: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

Minas Gerais deve passar por mudanças no texto da Lei Robin Hood neste ano, quando vence o prazo de dois anos para adequação à Emenda Constitucional nº 108, de 26 de agosto de 2020, conforme estipulado no texto vigente. A modificação é fundamental para os municípios mineiros, já que pode significar, por um lado, equilíbrio na distribuição da parcela do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS) que é destinada aos entes por meio da redução de um dos critérios avaliados para a liberação dos recursos, e, por outro lado, a diminuição de arrecadação para municípios que contam com a atividade econômica mais forte. 

As transferências estaduais e federais para os municípios são consideradas as verbas mais representativas para que estes possam desenvolver e financiar políticas públicas. E, entre os objetivos dos repasses, está aquele de ajudar os municípios que arrecadam receitas mais baixas a arcar com os custos da máquina pública. O tema, relevante principalmente para gestores que estão à frente de secretarias e prefeituras, foi apresentado ontem no 1º Encontro Estadual de Secretários Municipais de Fazenda e Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais. 

Durante a exposição sobre o assunto, o pesquisador em ciência e tecnologia da Fundação João Pinheiro (FJP), Max Melquiades da Silva, explicou que o ICMS é, a nível estadual, o mais importante nessa composição que dá origem às transferências. Dos valores passados diretamente pela União, o Fundo de Participação dos Municípios (FPM) é o que tem mais peso para a arrecadação municipal. 

Somente em Minas Gerais, ainda de acordo com o pesquisador, 81% de toda a arrecadação no ano passado foi proveniente do imposto. Deste valor, 25% devem ser destinados aos municípios, assim como determina a legislação. Contudo, o valor correspondente a cada município (cota) dependerá de uma série de critérios. Atualmente, 75% do valor deve ser repassado de acordo com o Valor Adicionado Fiscal (VAF), que representa a atividade econômica e a movimentação financeira de cada município, e é calculado de forma proporcional à produção do mesmo e outros 17 critérios que compõem a distribuição da receita do ICMS. 

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Mudança no VAF

Neste ano, no entanto, Minas Gerais deverá adequar a legislação conforme emenda constitucional que determina que o VAF terá peso mínimo de 65% na destinação dos recursos oriundos do ICMS aos municípios. Essa mudança, de acordo com o pesquisador da FJP Max Melquiades da Silva, tende a equilibrar a distribuição, já que há uma concentração maior da atividade econômica em cidades grandes e os municípios menores não conseguem suprir suas necessidades apenas com a arrecadação própria (recolhimento do IPTU, por exemplo). 

“A gente espera que essa mudança ajude a incrementar o aspecto redistributivo do ICMS, esse aspecto de desigualdades regionais. Os dados mostram que se a gente continuar do jeito que está, a gente tende a ter mais concentração ainda de valores nos municípios maiores e cada vez menos naqueles com menos habitantes”, afirma Silva. Vale ressaltar que a votação dessas mudanças será feita sobre o texto da Lei Robin Hood, que, no Estado, dispõe sobre a distribuição dos recursos. 

Outra alteração que deve ser votada e incorporada ao novo texto da lei é que haja um aumento de 10 pontos percentuais que será indexado à educação. Apesar de o valor não poder ser vinculado a investimentos diretos na área devido a questões legais, essa é uma das mudanças que pode incentivar os municípios a buscarem desempenhos mais positivos no ensino. 

“Em nossas simulações, se você tira 10 pontos percentuais do VAF e passa tudo para a educação ou mesmo que haja uma redistribuição de todos os critérios, a gente sempre teve uma melhoria das transferências de receitas para aqueles municípios menores, especialmente aqueles do Vale do Jequitinhonha, Vale do Mucuri e Norte de Minas. E o ponto negativo é que municípios grandes e ricos podem ter um choque grande e terão que fazer um exercício fiscal sério para conseguir adequar essa perda grande de arrecadação às suas despesas correntes”, explica Silva. 

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