Leilão de energia bate recorde, mas fracassa em Minas Gerais

Apesar do recorde histórico do Leilão de Energia Nova (LEN) A‑5, apenas um dos 31 projetos localizados em Minas Gerais inscritos no certame foi arrematado. O certame foi realizado nessa sexta-feira (22) pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), e movimentou R$ 5,5 bilhões em investimentos para viabilizar obras de 65 usinas hidrelétricas em 12 estados.
Entre alguns fatores, especialistas do setor avaliam que a quantidade de projetos mais competitivos em outros estados reduziu o interesse pelos projetos mineiros, que tradicionalmente eram responsáveis por boa parte dos projetos arrematados nos leilões A-5.
O único empreendimento localizado em Minas Gerais arrematado no Leilão de Energia Nova foi a Central Geradora Hidrelétrica (CGH) de Volta Grande, no município de Conceição das Alagoas, na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, comprada pela Rio Vento Energia.
O presidente da CMU Comercializadora de Energia, Walter Fróes, levanta a hipótese de que os projetos na região Sul, local de 45 projetos arrematados, entre centrais geradoras (CGHs), pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e usinas hidrelétricas (UHE), devem contar com projetos com maiores facilidades de escoamento da energia produzida, o que facilita a viabilidade dos empreendimentos.
De fato, dos 241 projetos cadastrados inicialmente no Leilão de Energia Nova A-5, somente 100 foram habilitados para participar do certame. A principal justificativa para o corte de 141 empreendimentos foi pela falta de margem de escoamento, motivo de 44% das inabilitações. Quase 30% das inabilitações foram por falta de licença ambiental e outros 16% foram por não comprovação de terreno do projeto.
“Talvez pode ser que o escoamento da energia (nos outros projetos) seja muito mais fácil do que os projetos em Minas, que demandaria mais obras para conexão. Priorizou-se quem tem melhor conexão, essa é a minha hipótese”, declarou Fróes.
O ex-diretor da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e ex-presidente de Furnas e da Eletrobras, Aloisio Vasconcellos, tem uma percepção com um horizonte um pouco mais longe. Frustrado com o resultado do leilão de energia para o Estado, ele aventa a possibilidade de um menor interesse do mercado nos ativos mineiros.
“Posso assegurar que o ambiente geral em Minas anda muito para baixo, muito desmotivado, muito pouco investidor interessado, a própria expansão industrial reduzida”, disse Vasconcellos. “Acho que Minas vive um momento não muito entusiasmante para o setor industrial e de energia, via de consequência. Pode ser que isso talvez tenha esfriado o ânimo de investir”, completa.
Projetos em Minas devem acontecer no futuro e indústria pode ser favorecida
Já o consultor de mercado e energia da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Sérgio Pataca, traça uma perspectiva mais otimista para o Estado após o resultado do Leilão de Energia Nova A-5. Ele explica que uma das contrapartidas da lei que autorizou a privatização da Eletrobras exige um atendimento de 2 gigawatts (GW) de energia hidrelétrica.
Como foram contratados 815,6 megawatts (MW) em potência no certame de sexta-feira (22), ainda há um grande volume de potência em CGHs e PCHs a ser contratado no futuro, cerca de 1,2 GW. “Nos próximos anos, no ano que vem, a gente vai ter o leilão A-5 de novo, então a gente vai ter, ‘podemos torcer’ dos projetos aqui em Minas acontecerem”, disse.
Além disso, o investimento em projetos de geração de energia pela fonte hídrica também deve impulsionar a indústria mineira, local de toda a cadeia produtiva das hidrelétricas. Somado a isso, há a própria sinalização do Ministério de Minas e Energia para retomar investimentos em hidrelétrica no País, verbalizada na sexta-feira (22) pelo ministro Alexandre Silveira.
“Depois da demonização que temos há anos, com a ajuda da Fiemg e de outros órgãos do setor que estão tentando conscientizar a sociedade, o poder público, dessa importância do retorno das hidrelétricas, que é a base do sistema, estamos vendo que a própria sociedade já diminuiu os ataques e o poder público está querendo retomar essa indústria como um todo. Porque, além de ser uma indústria renovável, é nacional”, argumenta Pataca.
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