Afetada por importação desleal, Gerdau encerra 3º trimestre com queda de 10% no lucro

Diante da concorrência desleal com o aço importado, principalmente, vindo da China, o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, apontou, ontem, que as medidas de proteção comercial adotadas pelo governo federal não estão surtindo efeito e que será necessário revisar as ações para barrar o aço subsidiado e garantir os empregos no Brasil.
Para Werneck, em teleconferência para apresentação dos resultados do grupo siderúrgico, entre as principais revisões necessárias estão a adoção da cota baseada na média histórica de importação e o aumento do imposto de importação dos atuais 25% para 35%.
“Os mecanismos adotados pelo governo não têm, até o momento, demonstrado a eficácia necessária. Então, temos debatido que novas medidas devem ser tomadas. O mecanismo de cota tarifa, onde foi colocado 30% a mais da média de importação, não pode ser assim e não faz sentido. Nosso pedido é que volte essa cota à média histórica. Além disso, a alíquota de 25% do imposto de importação não tem sido eficaz e precisa ser maior, acreditamos que cerca de 35%”.
O terceiro ponto destacado pelo CEO da siderúrgica é que, hoje, o mecanismo de proteção não inclui todos os produtos de aço produzidos no Brasil. “Foram incluídos apenas 15 produtos de aço. Então, é fundamental que o governo coloque no mecanismo todos os produtos de aço que são trazidos para o Brasil de forma desleal”.
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Werneck ressaltou ainda que o governo federal precisa investigar o ingresso do aço no Brasil via Manaus “Estamos muito surpresos com o crescimento da importação de aço via Manaus. Como empresa, não temos condições de julgar isso, mas o governo precisa investigar o porquê do crescimento tão grande. A importação por lá, não paga os 25% de imposto”.
Estados Unidos
A eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos e as medidas protecionistas prometidas pelo republicano por um lado podem favorecer a produção da Gerdau na América do Norte, mas, por outro, deixam a empresa em alerta quanto ao mercado do aço no Brasil.
A implantação de medidas protecionistas para aço nos Estados Unidos pode elevar a oferta mundial de aço e favorecer o ingresso ainda maior do aço chinês no mercado brasileiro. Por isso, o endurecimento urgente das medidas de proteção comercial adotada pelo governo federal, segundo o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, será importante.
“A China é grande causadora da perturbação no mercado global de aço. À medida que outros países colocam medidas comerciais ainda mais robustas que as existentes, o excesso de aço disponível no mundo, em especial da China, vai buscando outros endereços, um destes endereços é o Brasil. Então, é fundamental que o governo federal seja célere. Agora, após cinco meses do mecanismo de defesa comercial em vigor, os aprendizados precisam ser rapidamente traduzidos em ações”.
Lucro acumula queda de 40,9% no ano
A Gerdau, uma das maiores siderúrgicas do Brasil, encerrou o terceiro trimestre com lucro de R$ 1,432 bilhão, representando, assim, uma queda de 10% frente a igual período do ano passado. Porém, em relação ao trimestre imediatamente anterior, houve um avanço de 51,5%. A siderúrgica segue com os resultados sendo impactados pela entrada excessiva de aços longos e planos importados no País, que se manteve elevada entre julho e setembro. Assim, nos nove primeiros meses de 2024, o lucro, R$ 3,62 bilhões, ficou 40,9% menor.
No terceiro trimestre, a Gerdau registrou um Ebitda ajustado (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de R$ 3,01 bilhões, com margem Ebitda ajustado de 17,4%. O valor ficou 14,9% maior frente ao segundo trimestre, mas 10% inferior frente ao terceiro trimestre de 2023. No acumulado do ano até setembro, o Ebitda caiu 26,3% e chegou a R$ 8,45 bilhões.
Durante o terceiro trimestre, a receita líquida da Gerdau avançou. O valor de R$ 17,4 bilhões cresceu 4,6% frente ao segundo trimestre e 1,8% na comparação com igual período do ano passado. Apesar do resultado, nos nove primeiros meses de 2024, a receita líquida, R$ 50,2 bilhões, ficou 7,4% menor.
Mesmo com a importação ainda elevada de aço no mercado interno, o aquecimento da demanda favoreceu as vendas de aço da Gerdau. Ao longo do terceiro trimestre, foram 2,8 milhões de toneladas, 4,3% a mais que no segundo trimestre e 2,7% superiores ao terceiro trimestre de 2023. Quando analisadas as vendas de aço entre janeiro e setembro, houve queda de 4,6%, somando, então, 8,6 milhões de toneladas.
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O CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, explica que os resultados da companhia seguem impactados pelo alto ingresso de aço importado no mercado brasileiro. (MV) %
Investimentos somaram R$ 1,5 bilhão no terceiro trimestre
Mesmo com os desafios de mercado, ao longo do terceiro trimestre de 2024, a Gerdau investiu R$ 1,5 bilhão, sendo 39% em manutenção e 61% em projetos para ganhos de competitividade, expansão e atualização tecnológica. Segundo o CFO da Gerdau, Rafael Japur, boa parte dos aportes é direcionada às operações de Minas Gerais.
“Eu diria, hoje, que Minas Gerais é o coração dos investimentos da Gerdau, não só no Brasil, mas no mundo. Um dos principais projetos é o de Itabiritos, que é a produção de minério com baixo impacto e sustentabilidade. É um minério de altíssimo teor de qualidade e 405,5 milhões de toneladas que entrarão em operação em 2026. Esse é o maior projeto que a gente tem hoje na Gerdau e em torno de 50% dele já está executado”.
O segundo maior projeto da Gerdau em andamento é a expansão de bobinas a quente (BQ) em Ouro Branco, na região Central de Minas Gerais, onde a empresa investirá cerca de R$ 1,5 bilhão. A expectativa é concluir o projeto em janeiro de 2025. “A laminadora em Ouro Branco trará uma capacidade adicional de 250 mil toneladas de bobinas a quente que atenderão a demanda dos clientes da Gerdau no mercado interno”, explicou o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck.
Werneck reforçou ainda, que, embora haja um debate de defesa comercial muito intenso no Brasil, a empresa mantém os investimentos em curso.
“Nosso compromisso com os investimentos em Minas Gerais tem sido mantido. Em momento nenhum, desde o início desse debate, a gente cancelou investimentos. Todos os investimentos estão caminhando no prazo adequado e a gente acredita que, no futuro, com esses aportes implantados, o nível de competitividade, de geração de renda, de emprego, de projetos sociais e de contribuição com o Estado, ele vai crescer ainda mais”.
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