Lula será 1º no comando do Brasil pela terceira vez na democracia

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) derrotou o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno da disputa presidencial, neste domingo, e voltará à Presidência pela terceira vez, impondo uma inédita derrota nas urnas a um ocupante do Palácio do Planalto que buscava um segundo mandato.
Com 98,81% das seções eleitorais apuradas, Lula alcançou 50,83% dos votos válidos, não podendo mais ser alcançado por Bolsonaro, que somava 49,17%, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), após um dia marcado por tensões provocadas por operações da Polícia Rodoviária Federal, que realizou centenas de blitze nas estradas mesmo após proibição da Justiça Eleitoral.
Lula, que foi presidente por dois mandados de janeiro de 2003 ao fim de 2010, é a primeira pessoa a conquistar um terceiro mandado presidencial na história democrática do País. Aos 77 anos, completados na última quinta-feira, ele levará o PT de volta ao poder pouco mais de seis anos após o partido de esquerda ter sofrido o impeachment da então presidente Dilma Rousseff pelas chamadas “pedaladas fiscais” e herda um País dividido como nunca.
Com apenas 1,66 ponto percentual de distância, foi uma vitória bastante mais apertada do que o previsto pela maioria das pesquisas – o resultado ainda mais ajustado do que o de 2014, quando Dilma derrotou Aécio Neves. Apenas o levantamento da CNT/MDA previa um empate entre os adversários.
A campanha do petista atraiu apoio dos mais diversos setores da sociedade para derrotar Bolsonaro, de extrema direita. Nomes como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a senadora Simone Tebet (MDB) – terceira colocada no primeiro turno – e o ex-ministro Henrique Meirelles endossaram Lula no segundo turno, reforçando uma campanha que já havia terminado na liderança na primeira votação.
Bolsonaro, que passou meses atacando sem provas o sistema eletrônico de votação, dizendo ser passível de fraude – o que é rejeitado por autoridades eleitorais e especialistas independentes -, entra para a história como o primeiro candidato à reeleição a sair derrotado nas urnas em uma disputa presidencial no Brasil.
O retorno
Lula voltará à Presidência 12 anos após ter encerrado seu segundo mandato, período em que foi do céu ao inferno. Se deixou a Presidência com 87% de aprovação, passou 580 dias preso condenado por corrupção no âmbito da operação Lava Jato, viu a sucessora Dilma Rousseff ser alvo de um impeachment e, barrado legalmente, não pôde concorrer na eleição de 2018.
Agora o petista não deve nada à Justiça, uma vez que suas ações foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que viu parcialidade nos processos da operação Lava Jato, e desde que se lançou candidato ao pleito deste ano sempre apareceu em primeiro lugar nas pesquisas.
O resultado deste domingo confirmou o favoritismo ao longo de toda campanha do ex-presidente, que agora retornará ao Planalto tendo como vice-presidente seu ex-adversário Geraldo Alckmin (PSB) – nome de centro-direita que foi importante para o presidente consolidar sua aliança ampla formada para derrotar Bolsonaro.
Quem assume a Economia?
A definição da equipe econômica será a primeira pressão que Lula terá de gerir. Investidores e operadores do mercado financeiro repetem que não basta que o petista diga que será responsável com as contas públicas, mas querem a escalação para a Fazenda, assim como um detalhamento do que propõe para substituir o combalido teto de gastos.
Incluído na Constituição em 2016 para limitar o crescimento das despesas públicas à variação da inflação, o teto de gastos foi driblado pelo governo Bolsonaro e é consenso de que necessitará ser substituído. Toda alteração terá de contar com a chancela do Legislativo.
Lula promete manter o Auxílio Brasil em R$ 600 e também disse que vai aumentar acima da inflação o valor do salário mínimo, que indexa também boa parte dos gastos previdenciários.
Se seus dois primeiros mandatos coincidiram com o boom das commodities, ajudando-o a reduzir a desigualdade e tirar milhões da pobreza extrema, agora o cenário externo é mais nebuloso, com temor de recessão global e uma guerra em curso na Europa.
O futuro presidente brasileiro também passará por um escrutínio externo no quesito ambiental. O petista prometeu reprimir a mineração ilegal na floresta amazônica e conter o desmatamento que atingiu um pico em 15 anos sob Bolsonaro.
Ouça a rádio de Minas