Economia

Lula descarta “guru” na área econômica

Lula descarta “guru” na área econômica
Crédito: REUTERS/Amanda Perobelli

São Paulo – Enquanto pré-candidatos à Presidência na eleição do ano que vem anunciam gurus ou “postos Ipiranga” como representantes para assuntos econômicos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder disparado nas pesquisas de intenção de voto, já deixou claro: não tem porta-vozes e quem fala sobre economia é ele.

Mesmo entre dúvidas sobre se o Lula atual é mais radical do que aquele que assinou uma “Carta aos Brasileiros” em 2002 ou se seguirá a mesma linha de 20 anos atrás, o ex-presidente, que ainda não anunciou oficialmente a candidatura, não quer “palpiteiros” falando de economia em seu nome e quem cruza esta linha é afastado do grupo mais próximo.

As razões são várias, mas giram principalmente em torno de dois pontos: o primeiro deles, dizem fontes ouvidas pela Reuters, é a crença de que o fiel da economia precisa ser o presidente, e não um ministro, que pode sair ou ser demitido a qualquer momento.

“Quem vai ser nosso porta-voz econômico? Ele (Lula). Ele sobretudo não quer delegar para ninguém, não acha necessário fazer agora, acho que tem mais credibilidade ele falar que um terceiro», disse uma das fontes ouvidas pela Reuters.

Um ex-ministro do círculo mais próximo ao ex-presidente, a fonte lembra que Lula não quer a repetição do início de seu primeiro mandato, quando o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e da Casa Civil, José Dirceu, eram tratados como os fiadores da política econômica do governo. A saída de ambos, envolvidos em escândalos, causou turbulências até que ficou claro que, de fato, nada iria mudar.

“Em oito anos de governo e mesmo depois, Lula aprendeu muito, tem hoje um pensamento econômico muito mais sofisticado e não tem e não quer um superministro”, disse uma das fontes ouvidas pela Reuters.

No entorno do ex-presidente, vários nomes ligados à economia circulam, são ouvidos e fazem análises.

Na lista há nomes tradicionais como Luiz Gonzaga Beluzzo, o professor da Universidade de Campinas (Unicamp) Guilherme Mello, o ex-ministro da Fazenda de Dilma Rousseff Nelson Barbosa, e os ex-ministros Fernando Haddad e Aloizio Mercadante. Nenhum deles, no entanto, está autorizado a falar em nome de Lula, e as chances de serem ministro da Economia ou da Fazenda são mínimas.

Lula não fala de nomes ainda nem com seu círculo mais próximo, mas faz avaliações. Nomes essencialmente técnicos estão descartados, disse uma fonte. O ex-presidente quer alguém que entenda a política, para não correr riscos com desempenhos semelhantes ao da relação do atual titular da Economia, Paulo Guedes, com o Congresso.

Ao mesmo tempo, três fontes descartaram que, por exemplo, Aloizio Mercadante, um nome que traz arrepios ao mercado financeiro, possa ser esse ministro –até porque falta a ele, diz uma delas, justamente essa habilidade política que Lula quer, mesmo tendo sido senador e deputado federal.

Cada vez mais, o ex-presidente quer mostrar que as políticas econômica, social e todas as demais, serão dele, e não de um ministro ou outro. E essa é uma das razões que ele não quer adiantar nomes, nem de equipe econômica, e nem do resto.

“Não parece fazer sentido antecipar um nome que representaria uma determinada linha econômica. Ainda mais que isso dá percepção de fraqueza do seu capital político”, diz Rafael Cortez, analista político da consultoria Tendências.

“Bolsonaro, ao transferir para (Paulo) Guedes essa responsabilidade total pela economia, colocou-se abaixo, mobilizou outro ator para emprestar credibilidade a seu governo.”

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