Maioria dos pequenos negócios não conta com crédito bancário
Sete a cada dez donos de pequenos negócios em Minas Gerais não conseguem obter empréstimos ou financiamentos bancários, é o que revela a pesquisa “Financiamento dos Pequenos Negócios no Brasil” realizada pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). De acordo com o levantamento, 61% dos micro e pequenos empresários e microempreendedores individuais (MEI) recorrem a empréstimos pessoais para financiar suas empresas no Brasil.
Minas Gerais é o quarto estado com a maior taxa de empresários que não conseguiram obter novos empréstimos ou financiamentos bancários nos últimos seis meses, em 2022, com 71% dos entrevistados. O estado fica atrás apenas do Mato Grosso do Sul (72%) e de Amazonas e Bahia, ambos com 74%. Somente 20% das pequenas empresas mineiras obtiveram esses recursos; os outros 10% disseram que os bancos ainda estão analisando o pedido.
Igor Martins, analista do Sebrae Minas, explica que um dos motivos que leva os empresários a recorrerem ao empréstimo pessoal é o fato destes serem mais rápidos e mais fáceis de serem obtidos. Ele também destaca o papel da educação financeira nesse tipo de decisão, já que muitos acabam cometendo o erro de misturar o dinheiro pessoal com o da empresa. Martins conta que atos como retirar dinheiro da própria empresa para pagar algo da família ou colocar os recursos familiares no empreendimento para custear os negócios da empresa são bastante comuns entre os brasileiros.
Outra questão, na visão do analista, é a falta de compreensão sobre a importância dos serviços financeiros para as empresas. “Porque os empreendedores às vezes pensam que serviços financeiros é só créditos e créditos; mas existem vários outros serviços financeiros”. Além do hábito já existente nas pessoas de realizarem todas as declarações e movimentações por meio da conta de pessoa física. “Já existe um histórico maior dessa pessoa no sistema financeiro, que é interligado. Então, por isso, é mais fácil que as pessoas acabem recorrendo ao empréstimo pessoal para ‘tapar buraco’ e investir na empresa”, afirma Igor Martins.
Ele explica que a relação entre o tomador de crédito e o banco é parecida com as vínculos pessoais, em que a confiança e o conhecimento mútuo são fundamentais para o relacionamento. Martins ainda reforça que é necessário um planejamento a longo prazo para a realização de uma solicitação de crédito bancário. “Quem geralmente empreende por necessidade acaba, por falta de planejamento, recorrendo a créditos mais caros. Já quem empreende por oportunidade vislumbra algo e vê como oportunidade de investimento, se prepara para iniciar e alavancar seu negócio. Então ela consegue pesquisar um pouco mais, ela já entende um pouco a importância dos serviços financeiros e de se relacionar com o sistema financeiro, então consegue aproveitar as melhores oportunidades”, relata o analista do Sebrae Minas.
A pesquisa também apontou que 57% dos empresários e pequenos negócios no estado já possuem conta em algum banco digital. Esse índice é o sexto pior entre as unidades da Federação, ao lado de Pernambuco. O estado que apresentou o melhor aproveitamento foi o Piauí, com 73%, e o pior foi São Paulo (49%).
Quanto ao conhecimento desses donos de pequenos negócios sobre bancos digitais – aqueles que não possuem agências físicas e suas operações são realizadas apenas pela internet – o levantamento revelou que 11% dos empresários mineiros ainda não sabem ou nunca ouviram falar sobre este segmento; contra 88% que sabem do que se trata e outros 1% que não responderam. Dessa forma, Minas Gerais apresenta a segunda maior taxa de desconhecimento sobre bancos digitais no Brasil, empatado com Espírito Santo e Sergipe; e logo atrás do estado do Tocantins (12%).
O Sebrae também procurou saber se esses empresários já solicitaram financiamento por meio da internet, seja por aplicativos, sites, fintechs, dentre outros. Em Minas a adesão por esse tipo de serviço ainda é baixa – como em grande parte dos estados no país – com apenas 14% afirmando que já utilizaram um desses meios digitais para realizar a solicitação de empréstimos, contra 86% que negaram o uso desses serviços.
Já em relação ao uso do Pix para realização das vendas, 72% dos donos de pequenos negócios em Minas afirmaram que já utilizam essa forma de pagamento em suas respectivas empresas.
Cenário nacional
A pesquisa realizada pelo Sebrae apontou que 61% dos donos de micro e pequenas empresas e microempreendedores individuais (MEI), no país, recorreram a financiamentos ou empréstimos pessoais nos últimos cinco anos, contra 39% que utilizaram a pessoa jurídica de negócio. Esse é o maior patamar alcançado pela pesquisa desde o início da série histórica em 2013, e a primeira vez que a quantidade de empréstimos concedidos para pessoas físicas supera aquelas destinadas à pessoas jurídicas.
O analista do Sebrae Minas explica que uma das desvantagens desta medida é que ela é mais cara e, dependendo do tipo do crédito, pode chegar a ser o dobro ou até o triplo da taxa cobrada em empréstimos para pessoa jurídica. “Isso acaba impactando a rentabilidade, tirando a lucratividade do negócio”.
Já na visão de Carlos Melles, presidente do Sebrae, esses dados revelam um expressivo crescimento do número de novos MEI na economia e da redução das fontes de financiamento. “Entre 2020 e 2022, foram criados no Brasil, segundo o Portal do Empreendedor, do Ministério da Economia, o total de 5,2 milhões de novos microempreendedores individuais, que representa o perfil do dono de pequeno negócio que mais recorre aos empréstimos pessoais para financiar a empresa”, elucida Melles.
Dentre as concessões de créditos para pessoa física no país, o destaque ficou para o setor de serviços, com uma taxa de concessão de 70%; já na divisão por porte, os MEI foram os mais beneficiados, com 73%. Quanto aos créditos à pessoa jurídica, o comércio (55%) contou com o maior percentual dentre os setores analisados; enquanto os ME foram os destaques na pesquisa por porte das empresas, com 54% das concessões.
Outro fator que também influencia na ocorrência desse tipo de cenário é a escolaridade dos empreendedores. Os donos de pequenos negócios com ensino fundamental foram os que mais conseguiram empréstimo pessoal, com uma taxa de 67%, frente a 33% de pessoa jurídica; enquanto aqueles que possuem pós-graduação conseguiram mais créditos como pessoa jurídica, 62% contra 38%. “Quanto maior o nível de escolaridade, maiores são as chances de o empreendedor usar os caminhos convencionais para buscar crédito para a empresa. Entre os donos de pequenos negócios com pós-graduação, por exemplo, 63% usam a pessoa jurídica para recorrer aos bancos. Já entre os empreendedores com nível fundamental, apenas 32% adotam o mesmo caminho”, complementa o presidente do Sebrae.
Ele ainda reforça que separar as contas entre pessoais e da empresa é uma das primeiras recomendações que o Sebrae faz para qualquer pessoa que planeja abrir o seu negócio. “Confundir a gestão da empresa e da pessoa física é um dos maiores erros que os empresários podem cometer. Isso torna o controle do orçamento da empresa praticamente impossível e pode comprometer seriamente a saúde financeira do negócio. Sem boa gestão, não há crescimento, solidez, aumento de receita, lucro e tudo o mais que se busca ao começar um negócio”, elucida Melles.
Além disso, Martins destaca que para um pequeno negócio obter crédito mais barato, é preciso abrir uma conta PJ para movimentar todos os recursos da empresa e construir um “histórico de bom pagador” frente aos bancos, além de estar sempre pesquisando sobre instituições financeiras; “porque banco é igual fornecedor, como qualquer outro da empresa, é sempre importante verificar qual você já tem um bom relacionamento e verificar as opções em outras instituições financeiras”; explica o analista.
Ele ainda lembra que o Open Banking veio para facilitar ainda mais essa análise, já que esse recurso possibilita que o tomador de empréstimo possa escolher entre as melhores condições oferecidas por diversos bancos. O analista acredita que isso pode levar a uma redução das taxas de juros cobradas sobre os empréstimos tomados pelos empreendedores e pessoa física.
Martins também reforça que existem linhas de créditos específicas para pessoas jurídicas, independentemente do porte da empresa, que oferecem taxas mais atrativas voltadas para áreas como a inovação. “É importante pesquisar e utilizar os serviços financeiros para ajudar na gestão financeira no relacionamento com o sistema financeiro e, como consequência, aumentar as probabilidades de ter acesso a créditos mais baratos”, ressalta Igor Martins.
Dificuldade no acesso a crédito
A pesquisa também mostra que houve um crescimento, entre 2020 e 2022, na proporção de empresários que encontraram alguma dificuldade para conseguir um novo crédito ou financiamento. Essa proporção, segundo o levantamento, passou de 63% para 84%, estabelecendo um novo recorde na série histórica.
Dentre as dificuldades enfrentadas por estes empresários que buscaram empréstimos ou financiamento bancário, a falta de garantias reais (20%), a taxa de juros muito alta (17%) e a falta de avalista/fiador (11%), foram as mais citadas durante o levantamento.
A redução de juros aparece como a principal demanda entre os donos de pequenos negócios, com 57% dos entrevistados; logo em seguida vem a opção de uma menor burocracia (42%) para facilitar o acesso a empréstimos. Outra reivindicação dos empresários é a redução das taxas e dos impostos (31%).
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