Material escolar: papelarias amargam queda de 80% nas vendas em BH

As incertezas em relação ao retorno das aulas presenciais e o novo fechamento do comércio de Belo Horizonte, decretado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para controle da pandemia de Covid-19, agravaram ainda mais a situação das papelarias e lojas voltadas para a comercialização de materiais escolares. Janeiro e fevereiro são considerados os principais meses de vendas do setor e, com o cenário atual, os negócios caíram cerca de 80%. A estimativa é de demissões e fechamento de empresas, que amargam prejuízos desde 2020, quando as aulas presenciais foram suspensas e impactaram a demanda por material escolar.
De acordo com o vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) e proprietário das papelarias Brasilusa, localizadas na Savassi e Barroca, Marco Antônio Gaspar, a situação do setor é gravíssima.
“Com o fechamento das lojas, as vendas de material escolar, que já estavam fracas, caíram ainda mais, estamos com uma redução próxima a 80%. Além do fechamento do comércio, percebemos que os pais estão inseguros em relação ao retorno das aulas físicas e, com isso, estão postergando as compras. A demanda que estamos atendendo é somente para quem está matriculado em escolas que estão com liminares e vão retornar às aulas”.
Setor essencial – Ainda segundo Gaspar, os meses de janeiro e fevereiro são os de maior faturamento do setor e o que garante o funcionamento das lojas durante o restante do ano. Por isso, foi pedido à PBH que o setor seja considerado essencial pelo menos nesses dois meses, para garantir a abertura, a geração de faturamento e a sobrevivência das empresas.
“As papelarias dependem desse faturamento para o restante do ano. A CDL pediu que a prefeitura considerasse o setor como essencial e estamos aguardando uma resposta. A reabertura é fundamental para a sobrevivência das empresas”.
Outros problemas que podem agravar ainda mais a situação das papelarias são os custos. Em janeiro, deve começar o pagamento do crédito tomado pelas empresas logo no início da pandemia. Também o período de pagamento de impostos e taxas cobradas do comércio.
“O setor enfrenta uma queda de 80% nas vendas, após um 2020 muito difícil. Com vários custos acumulados para janeiro e sem faturamento vai agravar ainda mais a situação. Teremos demissões e fechamento de empresas do setor”, destacou.
Ainda segundo Gaspar, o setor adotou todos os protocolos de segurança para evitar a contaminação da Covid-19, porém, mais uma vez é penalizado com o fechamento do comércio.
“Ficamos muito tristes porque fizemos a nossa parte em tudo que nos foi exigido. O comércio não é o responsável pelo aumento dos casos. As pessoas pegam Covid-19 nos ônibus, que tiveram os quadros de horário reduzidos e andam cheios. Além disso, existe grande negligência por parte da PBH em relação ao número de leitos, que está menor”, disse Gaspar.
Em relação ao desempenho nas vendas das unidades da papelaria Brasilusa, Gaspar explica que, no setor de material escolar, a queda foi de 80%. Pela papelaria trabalhar com contratos de fornecimento de material para empresas, a queda nas vendas em geral está entre 20% e 30%.

Lojistas buscam saída para reduzir perdas
Com as lojas fechadas, os empresários do setor de papelaria estão tentando reduzir os prejuízos com as vendas on-line, mas a demanda está muito aquém do esperado, principalmente, em função do não retorno às aulas presenciais.
A proprietária da Van Gogh Papelaria, na região da Pampulha, Fátima Homem, está recorrendo às vendas pelas redes sociais, Whatsapp e delivery para tentar reduzir as perdas. Mesmo com as alternativas, com a loja fechada e as aulas presenciais ainda suspensas, a queda nas vendas está em torno de 80%, quando comparado com janeiro de 2020.
“Estamos registrando perdas desde março de 2020, quando houve o primeiro fechamento do comércio. Ao longo do ano passado, como as aulas não retornaram fisicamente, deixamos de vender muito. Nós nos agarramos na oportunidade das vendas para o Natal, mas também foi muito fraco e muito abaixo do que esperávamos. Com o novo fechamento do comércio, estamos acumulando mais prejuízos”, disse.
Sem faturar, o receio é que a situação se agrave ainda mais, já que agora em janeiro os custos da empresa ficam maiores, com a cobrança de impostos, taxas e compromissos bancários.
“Temos muitos compromissos para pagar e não temos faturamento. É lamentável não poder abrir o comércio. Estamos atendendo a todos os protocolos e temos também o selo de loja segura. Muitas soluções poderiam ser tomadas sem a necessidade de se fechar o comércio. Podia implantar horários alternados, por exemplo. Mesmo com as lojas abertas, não há aglomeração porque a renda da população está menor”.
Ainda segundo Fátima, o comércio não é o culpado pelo aumento dos casos de Covid-19. “A PBH reduziu o número de ônibus circulando e, com isso, há aglomeração no transporte público, favorecendo a contaminação. Também houve diminuição no número de leitos na rede de saúde, esses leitos deveriam ser reativados”, destacou. Em uma papelaria do bairro Funcionários, o fechamento da loja e a suspensão das aulas físicas também estão comprometendo o faturamento. Mesmo com as vendas pelo Whatsapp e entregas, a demanda está muito menor. Sem querer se identificar na reportagem, a responsável pela loja explicou que a situação é crítica e que houve demissões para tentar manter a empresa ativa. (MV)
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