Ações contra crise hídrica ajudariam a controlar inflação

As altas nas contas de energia elétrica, do dólar e no combustível pressionaram o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – a inflação oficial do País –, que movimentou a alta para 0,96% em julho, após ter registrado taxa de 0,53% em junho, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Economistas consultados pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO apontam que algumas medidas deveriam ter sido adotadas com antecedência e apontam que até o fim deste ano a inflação deve continuar em alta.
De acordo com o IBGE, a inflação acumulada em 12 meses chegou a 8,99%, a mais alta desde maio de 2016, quando ficou em 9,32%. No ano, o IPCA acumula alta de 4,76%. Desde março, o indicador acumulado em 12 meses tem ficado cada vez mais acima do teto da meta estabelecida pelo governo para a inflação deste ano, que é de 5,25%.
Mas o que está impulsionando a inflação? Para os economistas, vários fatores estão contribuindo com o encarecimento generalizado dos preços. Questões como a crise hídrica, o custo do petróleo, commodities agrícolas, a crise sanitária da Covid-19 e a cotação do dólar são alguns desses exemplos.
O economista Marco Flávio da Cunha Resende, do Departamento de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), aponta que para minimizar os efeitos do aumento do IPCA, ações como controles do aumento do dólar, criar alternativas para minimizar a crise hídrica e reduzir o preço do combustível seriam alternativas que puxariam os preços para baixo.
“Algumas dessas medidas deveriam ser realizadas antes de estarmos nesse processo. Além disso, a crise pandêmica da Covid-19 acabou acelerando o processo. Acredito que a médio e a longo prazos, podemos avançar em algumas situações, como o controle dos preços dos importados através da alta do dólar; o controle do preço do combustível. Com a crise hídrica contamos com a chegada das chuvas, mas para os próximos anos que o governo se planeje com alternativas mais baratas para produção de energia elétrica no momento de crise”, opina.
Resende destaca ainda os efeitos da alta das commodities agrícolas no mercado internacional. Com a pandemia da Covid-19, a China acabou estocando grãos, o que fez o mercado elevar os preços. “Em longo prazo, o Brasil deveria fazer essa estocagem de grãos, principalmente para ração aos animais. E quando esse produto estiver com alta de preços pressionando a inflação, fazendo o IPCA subir, fazer a venda desses grãos”, explica.
O economista da UFMG avalia ainda que o governo precisa criar outra forma para proceder a respeito da crise hídrica. “Todos os anos passamos pelo mesmo problema. Se faltam chuvas, corremos o risco de termos um apagão. Então, somos obrigados a ativar as termelétricas que têm um custo muito elevado e pagamos caro por isso. O que significa falta de planejamento. Precisamos criar alguma alternativa mais barata”, pontua.
Professora de economia do Centro Universitário UNA, Vaniria Ferrari avalia que como a inflação é de custo e afeta diretamente o aumento de energia elétrica, o preço do combustível e o aumento do dólar, as medidas para minimizar os efeitos da inflação serão sentidos a médio e longo prazos. “Essa inflação é um pouco mais difícil de controlar, pois ela não está no controle do governo. É preciso agora que a economia volte a aquecer para que em médio e longo prazos as coisas possam melhorar”, opina.
Alternativas
Economista do Ibmec, Paulo Casaca compartilha do mesmo pensamento de que o principal responsável pela alta da inflação é a bandeira vermelha da energia elétrica e o preço do combustível. O grande problema, segundo o economista, é que todos os setores, tanto econômico (indústrias) quanto residências precisam desses dois elementos: energia elétrica e combustível.
“Esperamos que o governo consiga controlar a alta desses setores até o fim deste ano. O custo com as termelétricas é um aumento significativo tanto para indústria, que começa a se recuperar, quanto para as famílias e por isso, é preciso criar outra alternativa, para que também não voltemos à questão dos apagões. E o combustível é essencial para o escoamento da produção, do deslocamento das pessoas, então, o governo precisa intervir de alguma forma nesse aumento de preços”, declara.
Série de fatores impacta o custo de vida
Para os economistas, alguns fatores foram determinantes para que a inflação acelerasse. Na avaliação do economista Marco Flávio da Cunha Resende, do Departamento de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o que vivemos hoje é uma inflação de custos. “Alguns fatores poderiam ter sido controlados pelo País, como o preço do dólar, pois vários insumos e matéria-prima são importados e isso encarece a produção da indústria. Além disso, se o dólar está mais caro, qualquer produto importado vai ficar mais caro também. A concorrência com o produtor nacional fica ainda menor”, explica.
A crise hídrica é outro ponto importante na alta dos preços. A professora de economia do Centro Universitário UNA, Vaniria Ferrari, avalia que o que mais impactou o IPCA foi a alta da energia elétrica com a adoção da bandeira vermelha, além do combustível com a pressão no setor de transporte. “Isso fez com que gerasse aumento no setor da habitação e o setor de transporte que reflete em todo o setor produtivo, mas também a alta do dólar, que mesmo com pequenas quedas ainda está alto”, detalha.
O economista do Ibmec, Paulo Casaca, compartilha do mesmo pensamento de que o principal responsável pela alta da inflação é a bandeira vermelha da energia elétrica e o preço do combustível. O grande problema, segundo o economista, é que todos os setores, tanto econômico (indústrias) quanto (residências) precisam desses dois elementos: energia elétrica e combustível.
A previsão para o fim de 2021 não é animadora. Apesar da economia começar a dar os primeiros passos de recuperação, os economistas avaliam que o fim do ano será de alta na inflação. “Agora, estamos dependendo do período chuvoso, que começa em outubro e vai até o fim do verão. Será quando teremos uma avaliação se a bandeira da energia elétrica poderá ser mudada e se teremos um bom período de chuva. Mas não podemos esquecer que o governo tem que continuar a fazer estudos para criar outras alternativas para resolver essa situação. Outra questão é o combustível, que a previsão é a de que ainda teremos mais altas”, finaliza o economista Paulo Casaca.
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