Meio ambiente deve pautar relação entre EUA e Brasil

A posse ontem do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acompanhada por todo o mundo, levantou também uma série de indagações. No Brasil e em Minas Gerais, em meio a tantos desafios, algumas das principais perguntas são: como a nova liderança estadunidense afetará o País e o Estado? O que se pode esperar? As perspectivas são boas ou ruins?
Especialistas consultados pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO enfatizam que mudanças significativas devem acontecer a nível mundial, inclusive beneficiando diversas nações. No entanto, alertam: é preciso que o Brasil tenha muita atenção no que diz respeito às relações internacionais e aos cuidados com o meio ambiente, que vêm sendo bastante criticados nos últimos tempos.
Doutorando em Relações Internacionais na Universidade de Lisboa e economista, Igor Lucena destaca que é preciso, primeiramente, analisar o cenário global para partir para o que pode ocorrer com o Brasil. Com Joe Biden, diz ele, haverá a volta do multilateralismo e maior integração dos Estados Unidos com outros países, culminando na volta a acordos internacionais.
Diante de todo esse cenário, espera-se uma onda internacional de expansão de investimentos no segundo semestre deste ano, conforme Lucena, o que deve impactar também o mercado de commodities. Assim, o Brasil, que tem em sua pauta de exportações itens como o minério de ferro, por exemplo, pode se beneficiar disso.
Entretanto, Lucena chama a atenção para um fator: o Brasil, diz ele, está em uma espécie de limbo internacional e pode sofrer pressões, sobretudo no que diz respeito ao meio ambiente.
“Joe Biden tem uma forte relação com o meio ambiente”, destaca ele, lembrando da sinalização ao retorno dos Estados Unidos ao Acordo de Paris. “Pode haver uma pressão mais efetiva do ponto de vista ambiental. Isso coloca em xeque toda a política do meio ambiente brasileira”, diz ele.
Professor do curso de Relações Internacionais do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec-BH) e membro do Observatório das Eleições dos EUA, Mario Schettino também ressalta a questão do meio ambiente com o novo governo norte-americano.
“A questão ambiental talvez seja o eixo central entre as negociações do Brasil e dos Estados Unidos”, afirma ele. “O governo Biden colocará a questão ambiental de forma muito prioritária, o que deverá ser o fio condutor de qualquer relação com o Brasil”, destaca.
Sanções – Diante desse quadro, afirma ele, é possível que, em meados deste ano, o governo dos Estados Unidos já faça pressão em relação ao assunto, somada a de países europeus. Com isso, diz, poderão vir sanções e bloqueios de compras de alguns produtos.
Nesse cenário, aliás, os problemas ambientais não giram em torno somente da Amazônia. Minas Gerais, por exemplo, lembra ele, tem tido avanços de desastres ambientais vinculados à mineração.
Especialista em política econômica internacional, Emanuel Pessoa também reforça que o Brasil precisa se preocupar mais com as questões ambientais e, inclusive, provar isso.
“Há uma pressão crescente sobre a preservação do meio ambiente. A partir de agora, não importa se o Brasil toma medidas em relação ao assunto. Tem também de mostrar que toma as medidas. Por mais que se diga que medidas estão sendo tomadas, há problemas de comunicação”, salienta ele.
Política externa – Para além da questão ambiental, que com Joe Biden deverá ter um peso ainda maior, há, ainda, as relações exteriores e a necessidade de aperfeiçoá-las, conforme ressaltam especialistas.
Lucena pondera que o Brasil precisa alterar a sua política externa, que é errática com Estados Unidos, União Europeia e China, por exemplo.
“O Brasil perdeu a confiança da China, perdeu o bom relacionamento com os russos. A única maneira de conseguir um grande retorno em relação ao crescimento econômico não é esperar uma conjuntura positiva, mas mudar a nossa política externa e ambiental para nos aliarmos aos interesses americanos e europeus”, diz ele.
Ouça a rádio de Minas