Preço do etanol sobe com a proximidade do fim da safra
O preço médio do etanol hidratado subiu 1,13% na última semana nas usinas de São Paulo e atingiu o maior valor nominal do ano, conforme análise do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP). No estado que é maior produtor e consumidor de etanol do Brasil, o litro médio passou de R$ 2,8236 para R$2,8554/litro. A tendência, segundo especialistas, deve seguir em Minas, e impactar os consumidores.
Até então, o maior valor registrado nas usinas paulistas havia sido em meados de fevereiro, quando o preço médio foi de R$ 2,8541, segundo dados do Cepea, da Esalq/SP. Já o etanol anidro, utilizado para a mistura da gasolina, também registrou alta de 1,05%, fechando a R$ 3,2434/litro nas usinas.
Segundo pesquisadores do Cepea, essa tendência é resultado da baixa oferta do produto e da proximidade do encerramento da safra 2025/26. Conforme a análise semanal do centro de estudos, “os preços dos etanóis anidro e hidratado seguem firmes no estado de São Paulo há mais de um mês. As chuvas em algumas regiões paulistas limitaram a oferta e deram força aos preços. Já os compradores, mostraram menor interesse, especialmente devido às maiores aquisições fechadas em semanas anteriores”.
Na análise do economista Altino Júnior, a pressão dos preços das usinas de São Paulo soma-se a uma série de fatores que impulsionam os valores, garantindo tendência de alta.
“No mercado externo, o conflito entre Rússia e Ucrânia continua bagunçando o petróleo. Sempre que tem tensão, o brent (referência global para o preço do petróleo cru) reage e isso acaba respingando por aqui porque a política de preços da Petrobras ainda deixa a gasolina muito sensível ao cenário internacional. Quando a gasolina sobe, o etanol acompanha pela paridade”, analisa.
No mercado interno, Altino Júnior também pontua o encerramento da safra que deixa a oferta mais curta. “A demanda segue firme e já tem projeção de possível déficit na entressafra. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) confirma menor produtividade em algumas regiões e o Itaú BBA projeta uma paridade mais alta no fim do ano, o que sustenta preços fortes”.
Em função disso, o economista acredita que a tendência é de alta em todo o País, inclusive Minas Gerais, que não produz etanol suficiente para atender a demanda interna e é dependente de combustíveis de outros estados. “O cenário é de viés de alta nos preços. A tendência é que a pressão continue chegando ao consumidor nas próximas semanas, tanto no etanol direto quanto, indiretamente, na gasolina”, avalia Altino Júnior.
Acréscimo já percebido no levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). De acordo com os dados, o preço médio do etanol ao consumidor no País subiu para R$ 4,31 o litro na semana de 16 a 22 de novembro, contra R$ 4,29 na semana anterior (+0,46%). Em Minas Gerais também foi registrada alta passando de R$ 4,26 o litro para R$ 4,29, nesse caso, acréscimo de 0,7%.
O professor do curso de relações internacionais do Ibmec-BH, Pedro Hudson, também atribui a queda dos preços da última semana do etanol à redução da oferta. “Estamos encerrando a safra de cana-de-açúcar. Em muitas regiões, ela ficou abaixo do esperado, apresentando uma oferta limitada da matéria-prima e, consequentemente, dos seus derivados”, diz.
Dessa forma, ele ressalta que a alta impacta também vai impactar o preço da gasolina, já que parte dela é complementada com o etanol.
Para os próximos meses, Hudson espera que até janeiro e fevereiro o preço continue tendo essa pressão nos preços. “Com o encerramento da safra e a oferta limitada, nós só vamos ter uma estimativa do que acontecerá quando conseguirmos ter um panorama de como será a próxima safra e de como o mercado vai reagir às cotações futuras”, alega.
O presidente do Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool do Estado de Minas Gerais (Siamig), Mario Campos, comenta que apesar da alta comum do período entre safras, o quadro deve se reverter no ano que vem.
“A partir da próxima safra, que começa em abril, a tendência é da gente ter bastante etanol e isso com certeza vai refletir em preços mais remuneradores para o consumidor de Minas Gerais e do Brasil como um todo”, prevê.
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