Mercado de ações segue conservador e setores resilientes são mais recomendados em abril

A incerteza internacional que tomou conta do mundo desde que Donald Trump retornou ao cargo de presidente dos Estados Unidos (EUA) ganhou força no mês de março e intensificou os desafios que têm pressionado o mercado de ações. O movimento predominante foi de baixa para as principais bolsas globais e criptoativos, enquanto ativos considerados portos seguros, como o ouro e moedas de alguns países, registraram valorização. Neste contexto, a tendência para abril é:
- alocação de investimentos em ações brasileiras com foco em empresas de perfil defensivo
- diminuição da exposição em bolsas americanas
- aumento da exposição nas ações de empresas menos expostas aos impactos macroeconômicos
A avaliação é unânime entre os analistas de investimentos consultados pelo Diário do Comércio. De acordo com o estrategista de ações da Genial Investimentos Filipe Villegas os Estados Unidos continuam no centro das atenções devido ao seu peso econômico e à atual fase do ciclo, marcada por viés protecionista e pelo foco em tarifas comerciais.
“Esse ambiente tem afetado a confiança de consumidores e empresários, reduzindo o apetite por consumo e investimentos, o que pode resultar em uma desaceleração econômica mais acentuada”, avalia.
Neste cenário, Villegas recomenda que a carteira em abril seja composta de 30% em empresas exportadoras, menos expostas a variáveis externas e o restante ligado à economia doméstica. “Estamos mantendo o portfólio conservador, priorizando setores e empresas resilientes, com geração consistente de caixa e que possam se beneficiar de um ambiente de juros elevados”, afirma.
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A preferência, de acordo com o estrategista, recai sobre os setores como utilidades públicas, bancos e seguradoras, que são segmentos tradicionalmente mais resilientes em momentos de incerteza econômica. “Também priorizamos as exportadoras, que tendem a ser menos impactadas por ciclos domésticos adversos, devido à sua correlação positiva com o dólar”, orienta.
Já o diretor de câmbio da Ourominas Investimentos Sandro Francioli acredita que, no mês no abril, os investidores seguirão com cautela, evitando grandes exposições. “Sem dúvida bancos e empresas do setor de mineração devem se destacar, já que vamos ver o ouro como um grande aliado e em forte crescente”, explica.
De acordo com Francioli, desde março o setor de mineração vem apresentando um crescimento acima da média e isso pode ser justificado pela grande demanda das commodities como o ouro, cobre, entre outros minerais. “Também podemos incluir o setor de energia que está tendo bons resultados, sendo alavancado pelos altos preços do gás natural e do petróleo”, reforça.
O analista de ativos da corretora Monte Bravo Bruno Benassi explica que o mês passado foi positivo para o Ibovespa porque os investidores, diante do cenário, continuaram rotacionando suas exposições e buscando exposição globalmente, com destaque para Europa e América Latina, incluindo o Brasil.
O Ibovespa encerrou o mês em queda de 1,25%, porém apresentou o melhor resultado desde agosto do ano passado. “Alguns fatores influenciaram como a alta da taxa Selic e as incertezas políticas. Porém, mesmo com esta queda, o índice apresenta um acumulado de 6,08% sendo assim o melhor mês desde o início do ano”, pontua o diretor de Câmbio da Ourominas.
Em março, os setores que apresentaram melhor desempenho, conforme o economista da Valor Investimentos Ian Lopes, foram as ações de commodities e viagens exportadoras de produtos agrícolas. “Principalmente quando a gente fala da Minerva Foods que registrou a maior alta da bolsa no mês, 43%, influenciada tanto por um aumento da demanda do produto em mercados externos quanto pela alta do dólar que afeta diretamente o resultado operacional da empresa. Além dos novos acordos que o governo assinou de venda de carne para outros países da Ásia”, explica.
Porém, sobre a tendência para abril, ele destaca incertezas, mas reforça que há uma estimativa de prejuízo no setor exportador de R$ 15 bilhões na balança comercial do País, ante aos anúncios de Trump. “Temos que esperar. Ainda haverá as tarifas de retaliação, sabemos que tarifas em excesso não é bom, já que de imediato causa pressão inflacionária nos produtos. Vamos esperar para avaliarmos os melhores movimentos”, analisa.
Tarifaço de Trump pode prejudicar siderúrgicas
É unânime entre os especialistas que o tarifaço de Trump deva afetar negativamente o desempenho dos papéis dos setores exportadores, como as mineradoras aqui no Brasil. Isso ocorre porque, nas tarifas impostas pelos EUA, entrarão os custos para exportar produtos para o País, reduzindo a competitividade das empresas brasileiras.
“As mineradoras, em particular, podem ser afetadas porque o Brasil é um dos principais exportadores de minerais para os EUA. Com as tarifas, as empresas brasileiras podem ter dificuldade em manter sua participação no mercado americano, o que pode afetar negativamente o desempenho de suas ações”, explica Sandro Francioli.
Ainda segundo Francioli, a expectativa é que as tarifas “infelizmente” possam pressionar ainda mais as siderúrgicas brasileiras.
Natura registra um dos piores desempenhos no mercado de ações em março
Conforme o economista da Valor Investimentos Ian Lopes a Natura foi a empresa que pior performou em março. A companhia do setor varejista reportou um resultado acima de R$ 400 milhões de prejuízo, o que interferiu nas ações.
Resultados citados também pelo diretor da Ourominas. Segundo Sandro Franciolli, os setores mais prejudicados em março, analisando pela queda de desempenho, foram os de varejo e de tecnologia, que tiveram uma queda acima de 50%. “Muito disso foi causado pelas incertezas do mercado econômico global e da política mesmo”, afirma.
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