Mercado de ações se mantém cauteloso, segundo especialistas; veja os motivos

Com os mercados globais em transformação, os investidores têm reposicionado suas carteiras de investimentos e avaliado novas oportunidades. A valorização dos ativos chineses, a pressão sobre as criptomoedas, a política monetária dos Estados Unidos (EUA) mais protecionista e as incertezas do Brasil moldam o cenário econômico para uma postura mais conservadora, que faz com que os investidores preservem mais o capital.
As recentes oscilações das políticas tarifárias praticadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, têm desagradado o mercado e gerado incertezas que acabam impactando os mercados em geral, conforme análise de especialistas ouvidos pelo Diário do Comércio.
Apesar do Ibovespa encerrar fevereiro com queda de 2,64%, o sócio e especialista da Valor Investimentos, Davi Lemos, comenta que o mercado não tem medo de notícias ruins, mas sim, do escuro.
“Quanto mais incertezas e mais volatilidades, mais receio vemos no mercado. Os investidores correm para ativos de baixo risco ou de maior qualidade. É o que tem acontecido”, afirma.
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O head de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno, comenta que os “vai e vens” de Trump, que anuncia aumento ou imposição de tarifas, impõe regras aqui e ali, recua ou posterga, é o jeito que ele identificou de negociar. “Ele tem um viés protecionista e vai fazer sua política voltada para a proteção do mercado americano”, analisa.
Assim, segundo Moliterno, com os mercados mais voláteis por causa das incertezas, os investidores ficam “bastante cautelosos”. Por outro lado, os dados econômicos acompanham a evolução da economia dando expectativas para onde ela irá caminhar. “Por exemplo, se a economia está aquecida, se está desaquecendo, se dá para baixar juros ou não. Então, o investidor está cauteloso, porém acompanhando as oportunidades”, diz o especialista.
Ele avalia que o cenário de cautela é global, uma vez que caso haja uma intensificação da guerra comercial, isso tende a refletir em todos os mercados. “O que temos visto é que as empresas mais dependentes de investimentos e condições de mercado como as de tecnologia estão deixando de ser tão atrativas. Os investidores têm diminuído a exposição e olhado de novo para a velha economia, para aquelas empresas que já estão bem consolidadas no seu setor”, afirma.
Moliterno comenta que o mês de fevereiro foi um mês bastante volátil para as bolsas, e que as bolsas internacionais até voltaram a negociar. Mas ele ressalta que no final, elas acabaram cedendo novamente.
“Acredito que março continuará com essa mesma tendência mais cautelosa. Há a expectativa de continuar acompanhando e ver efetivamente quais serão o tamanho dessas medidas e das tarifas e os seus impactos, mas acredito na continuidade da precaução”, observa.
Estratégia de Trump perde força
O especialista e sócio da Valor Investimentos, Davi Lemos, ressalta, porém, que a estratégia de Trump de anunciar e suspender tarifas já começou a perder força e pode não ter impactos tão fortes no mercado quanto teve anteriormente.
“Isso funciona durante um tempo, mas depois perde elasticidade e eficácia, e é o que estamos vendo agora com o anúncio de tarifas. O mercado está muito volátil ainda, mas estes anúncios já não o tem atingido com tanta contundência quanto nas primeiras vezes”, disse.
De acordo com Lemos, com as práticas de Trump, os Estados Unidos têm ficado mais isolado politicamente e economicamente, o que favorece a volatilidade do dólar e consequentemente das bolsas. Nesse cenário, ele recomenda evitar setores diretamente impactados pelas tarifas como o setor industrial, o tecnológico e as empresas de semicondutores. “Isso porque caso as tarifas sejam aplicadas, esses setores sofrem de forma mais rápida e forte”, esclarece.
Setores mais seguros para se investir
Por outro lado, Lemos indica setores mais seguros como os bens de consumo essenciais, serviços públicos ou de infraestrutura e o setor bancário que tem performado bem no cenário de juros mais altos.
Em concordância, o estrategista de ações da Genial Investimentos, Filipe Viegas, comenta que o cenário é desafiador e também sugere alocação em ações de empresas mais defensivas. “Por exemplo, como aquelas do setor de utilidades públicas, bancos e seguradoras, além das exportadoras, que tendem a ser menos impactadas por ciclos econômicos adversos pela correlação com o dólar. A diversificação e a seleção criteriosa de ativos também são fundamentais para equilibrar risco e retorno no ambiente atual”, orienta.
O diretor de câmbio da Ourominas Investimentos, Sandro Francioli, além do setor de tecnologia, sugere papéis de energia e saúde, e também aposta na diversificação. “Com as últimas decisões de Trump, o mais correto é os investidores diversificarem para se manterem o mais protegidos possível desta grande volatilidade no mercado que gera insegurança, mas também traz oportunidades para investimentos estratégicos”, comenta.
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