Mercado externo e safra da cana rumo ao fim explicam alta da gasolina no País

A gasolina voltou a subir nos postos de Minas Gerais e de todo o País. O aumento no preço do combustível é o primeiro observado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíves (ANP) após 15 semanas consecutivas de recuos. Essa alta, segundo entidades e especialistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, pode ser explicada por diversos motivos. Entre eles o encaminhamento da região Centro-Sul do País para o final da safra de cana-de-açúcar e fatores externos que impactam a economia global, como a guerra da Ucrânia.
Representando as usinas sucroalcooleiras, o presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos, ressalta que toda gasolina vendida no Brasil tem uma mistura expressiva de 27% de etanol anidro. E, apesar do biocombustível ser apontado como fator de alta, o valor do etanol está bem abaixo do comercializado há um ano.
“Se a gente pegar outubro de 2021 e comparar com tudo o que foi produzido neste ano, veremos que os preços do etanol (ainda assim) estão mais de 20% abaixo dos patamares (do ano passado)”, avalia Campos, que explica que as flutuações de preços do biocombustível no momento atual, no entanto, também são algo normal.
Há ainda situações de existir uma preferência de produtores de cana-de-açúcar em produzir açúcar em detrimento do etanol, devido à cotação mais favorável no mercado internacional.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
Um aumento médio detectado na semana passada pela ANP mostra que a gasolina comum teve no País um aumento de 1,4% o litro e passou a ser vendida nos postos na média de R$ 4,84. Na semana anterior, o valor do litro estava fixado em R$ 4,79. Esse movimento de alta da gasolina tem a ver com a elevação no preço do etanol, especialmente o do tipo anidro, que é aquele misturado à gasolina.
No Estado de Minas Gerais, o custo médio de revenda do litro da gasolina comum praticado entre 25 de setembro e 1º de outubro estava a R$ 4,81. Na semana seguinte, houve uma redução para R$ 4,69, e na semana passada, subiu para R$ 4,71. No caso da gasolina aditivada, o preço médio de revenda estava a R$ 4,99 entre o final de setembro e início de outubro, caiu para R$ 4,91 na semana seguinte, e se manteve com o mesmo custo na semana passada.
As fontes ouvidas pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO disseram ainda que há um movimento secundário por trás dessa elevação da gasolina. Esse movimento refere-se aos reajustes de preços realizados pela Refinaria de Maritape, a maior refinaria privada a nível nacional. Contudo, cabe a observação de que a Petrobras, que é responsável em fazer o controle da maior parte do refino no País, não faz reajustes há mais de um mês.
Monitoramento
Segundo a ANP, que acompanha os preços dos combustíveis como uma forma de dar transparência aos valores praticados no mercado, nas últimas três semanas, o preço médio da gasolina vendida nos postos mineiros apresentou aumento de 2,34% no valor final da bomba. Os altos e baixos do preço são resultado do ajuste praticado pelas usinas produtoras do biocombustível à base de cana, o que contribuiu para que o preço do etanol anidro no mesmo período fosse de R$ 2,87 para R$ 3,10. Desta forma, foi identificado uma elevação de 10,3% no preço. Em volume, aproximadamente 27% do preço final da gasolina brasileira é composto pelo etanol anidro.
Já em relação ao tipo hidratado em Minas Gerais, nas últimas três semanas, saiu de R$ 3,36 para R$ 3,53 o valor médio nas bombas, representando uma alta de 5,05%. Como reflexo também está o reajuste praticado pelas refinarias, de 17% nas últimas três semanas, saindo de R$ 2,31 para R$ 2,72 o litro.
O Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro), em nota, informa que os dados acompanhados pela ANP evidenciam que os postos revendedores reajustaram os valores em percentuais em patamares inferiores.
O movimento, segundo a entidade, é consequência da alta competitividade do setor no Estado, que possui cerca de 4.500 postos em operação.
Fatores externos
O presidente da Siamig, Mário Campos, acrescenta que um dos pontos em observação é a queda dos impostos. “Tivemos a redução de ICMS, redução a zero dos impostos federais, mas também o preço do petróleo e o preço da gasolina importada. Tivemos uma queda enorme nos últimos meses. Isso até então foi repassado ao consumidor e agora a gente observa uma alteração desses preços. Porém, esse aumento não está sendo repassado ao consumidor agora. Então, a variação do ano é uma variação normal do período. Tem que ser considerado normal. Os preços são livres e obviamente é uma garantia de suprimento desse produto ao longo dos próximos meses”, enfatiza.
Para o economista e professor do Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH) Fernando Sette, após a queda do preço do petróleo no mercado internacional, existe uma tendência de aumento do preço do barril. “Esse aumento ocorre seja pela Opep, que é a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, ou por conta da guerra na Ucrânia”.
As tendências de aumento também perpassam, segundo o docente, pelo cenário de instabilidade política, provocando uma volatilidade do dólar, afetando também o componente do preço do combustível no Brasil. “Com isso a gente vai ter um aumento do preço combustível no País, e quem vai definir se vai repassar aos distribuidores ou não será a Petrobras. Vamos aguardar as próximas semanas para saber se esse movimento vai se concretizar ou não”, avalia o economista.
Ouça a rádio de Minas