Economia

Mercado financeiro: IPOs devem seguir em alta após recorde em 2020

Mercado financeiro: IPOs devem seguir em alta após recorde em 2020
Crédito: Amanda Perobelli/Reuters

Depois de ter apurado recorde em 2020, mesmo diante dos desafios impostos pela pandemia de Covid-19, as ofertas iniciais de ações – ou IPOs – prometem manter o ritmo crescente neste exercício. Contam a favor a expectativa quanto à recuperação econômica global e a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em patamares historicamente baixos (2% ao ano). Atualmente, mais de 40 empresas aguardam o registro da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para estrear na bolsa.

Ao todo, foram R$ 117 bilhões em ofertas iniciais de ações na bolsa brasileira e 28 IPOs entre janeiro e dezembro do último ano, o que totaliza o maior número em 18 anos. Em 2007, foram 64 procedimentos, que juntos levantaram R$ 55 bilhões. 

“O mercado de ações se manteve aquecido no segundo semestre de 2020. Apesar do impacto da pandemia, o resultado positivo nos IPOs reflete a melhora dos aspectos estruturais do mercado, como juros baixos e os investidores diversificando as carteiras”, explicou o vice-presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), José Eduardo Laloni. 

Segundo Laloni, mesmo diante das incertezas causadas pela pandemia no primeiro semestre do ano passado, o movimento de recuperação foi notado a partir de setembro, o que viabilizou o recorde de IPOs. “A oscilação se intensificou em dezembro, o que dá uma perspectiva positiva para 2021”, completou. 

O analista da Terra Investimentos Regis Chinchila destacou que a queda da taxa de juros para 2% motivou diversas empresas a abrir capital no mercado de ações em busca de maior captação de recursos para novos investimentos em seus negócios no decorrer do ano passado. Ele destacou o IPO da Rede D’Or de hospitais, que levantou mais de R$ 11 bilhões, a terceira maior oferta primária de ações da história da B3 e a maior do ano passado. 

O segundo maior IPO de 2020, do Grupo Mateus, rede supermercadista das regiões Norte e Nordeste, levantou R$ 4,6 bilhões. O terceiro, da empresa Hidrovias do Brasil, atingiu R$ 3,4 bilhões. E o da Petz, rede de lojas de cuidado animal, R$ 3,03 bilhões. 

Mercado aquecido – Para 2021, conforme Chinchila, a expectativa é de que os IPOs tenham continuidade, “com algumas ofertas bastante esperadas entre os investidores como Kalunga, CSN Mineração, Tok&Stok, Havan e a megaoferta da Caixa Seguradora, braço de seguros da Caixa Econômica Federal, que tem a expectativa de movimentar R$ 50 bilhões”. 

Ele explicou que o principal catalisador para esse movimento crescente continua sendo a taxa de juros. Diante do cenário, investidores individuais iniciaram um movimento de busca por maior rentabilidade em troca de assumir maiores riscos, e o IPO é uma porta de entrada e segue aumentando a demanda destes novos investidores.

“No ano passado, a B3 fechou com mais de 3 milhões de brasileiros com contas abertas. Isso é mais um sinal de um 2021 mais positivo, diante da expectativa de recuperação da economia. Caso o cenário se concretize, existe a possibilidade de novo recorde em 2021. Para os próximos meses, 44 empresas já aguardam registro da CVM”, afirmou. 

De maneira complementar, o economista e sócio da BRA Investimentos, João Beck, acredita que o cenário incerto de pandemia mantido ainda neste início de exercício não deve influenciar ou desanimar empresas a abrirem IPOs. Isso porque, segundo ele, o avanço nas ofertas está mais relacionado a mudanças na própria empresa do que no cenário macroeconômico. Além disso, a B3 está se tornando uma opção viável de captação para empresas menores, dividindo este espaço que antigamente era ocupado por fundos de venture capital. 

“Como a revolução é na esfera micro, de dentro das empresas, os IPOs não dependerão tanto do ciclo econômico. Quando tivemos um boom de IPOs em 2007, 90% do dinheiro vinha de fora do Brasil. Isso mudou em 2020. E mesmo com as comemorações do número de CPFs na bolsa, que ultrapassou os três milhões, quem dominou a demanda de IPOs foram os investidores institucionais brasileiros, os grandes fundos de investimentos”, ressaltou. 

Super ONs – Assim, para Beck, em 2021, é possível que o mercado tenha novidades sobre as chamadas “super ONs”, que permitem maior poder de voto a controladores mesmo com pequena participação acionária. “Essa ferramenta só está disponível nas bolsas americanas, o que levou algumas empresas a ‘exportarem’ seu IPO e deixar um gosto amargo na nossa bolsa. A B3 trabalha em conjunto com a CVM para implementar as ‘super ONs’, que também é assunto delicado e não tem só vantagens. A previsão de vermos evoluções nesse tema é ainda este ano”, concluiu.

Ibovespa recua com ruídos fiscais no País

São Paulo – O Ibovespa fechou em queda ontem, em meio a ruídos relacionados à cena fiscal do País e com as siderúrgicas entre as maiores perdas, embora tenha se afastado das mínimas com o suporte de Petrobras e de Wall Street.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 0,5%, a 120.636,39 pontos, depois de avançar a 122.120,24 pontos na máxima da sessão. No pior momento, chegou a 119.257,03 pontos. O volume financeiro da sessão somou R$ 29,7 bilhões.

O tom positivo prevaleceu na abertura da bolsa paulista, apoiado na trajetória dos mercados no exterior, mas novos ruídos envolvendo uma prorrogação no auxílio emergencial ligado à pandemia de Covid-19 minou o otimismo dos investidores.

“É o risco fiscal voltando”, afirmou o diretor de investimentos da Reach Capital, Ricardo Campos, chamando também a atenção para a alta do risco país e valorização do dólar em relação ao real.

Ele chamou a atenção para a disputa pelo comando da Câmara dos Deputados, com o candidato Baleia Rossi (MDB-SP) – que tem o apoio do atual presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ) – se mostrando a favor da continuidade da ajuda.

Para Campos, preocupa ter um presidente da Câmara não alinhado ao governo em pautas como a fiscal, particularmente com o presidente Jair Bolsonaro vendo sua popularidade cair com a piora da percepção sobre a atuação dele no combate à Covid-19.

Em Nova York, as bolsas norte-americanas fecharam em alta na volta do feriado, com balanços de bancos mostrando resultados acima do esperado e Janet Yellen pediu aos parlamentares para “agirem grande” no próximo pacote de alívio ao coronavírus.

Indicada pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, para chefiar o Tesouro, ela afirmou acreditar que os benefícios irão superar em muito os custos.

O índice norte-americano de referência S&P 500 fechou em alta de 0,8%.

Investidores também estão na expectativa da posse de Joe Biden como novo presidente dos Estados Unidos hoje.Para o estrategista-chefe de mercado global da Axi, Stephen Innes, mudança positiva na confiança do investidor na véspera da posse é um sinal claro de que o mercado está se inclinando para uma aprovação antecipada na agenda política do governo Biden. (Reuters)

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