Economia

Mercado livre de energia aguarda período chuvoso por preços mais competitivos

Nova metodologia do PLD deixou custos de geração mais sensíveis às variações do clima; atividade espera comportamento hidrológico em outubro para traçar perspectivas nos valores negociados do ACL
Mercado livre de energia aguarda período chuvoso por preços mais competitivos
Em setembro, não houve chuvas suficientes para encher reservatórios das hidrelétricas | Foto: Reprodução Adobe Stock

Uma certa falta de chuvas em setembro e, por consequência, um maior uso de usinas termelétricas para a geração de energia elétrica, manteve elevado o patamar do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), valor de referência no mercado livre de energia, principalmente com a nova metodologia para a precificação, que entrou em vigor em março e influenciou o PLD ao longo de todo o ano.

No subsistema Sudeste/Centro-Oeste (SE/CO), subgrupo do Sistema Interligado Nacional (SIN) onde Minas Gerais está localizada, a média realizada do PLD no mês de setembro foi precificada em cerca de R$ 270/MWh. O PLD começou o ano no subsistema SE/CO a R$ 60,01/MWh.

O setor agora aguarda o comportamento hidrológico em outubro para poder traçar uma perspectiva nos preços negociados no Ambiente de Contratação Livre (ACL). A expectativa é que, consumada a previsão hidrológica, os preços do mercado livre possam cair.

A nova metodologia do PLD deixou os custos de energia elétrica mais sensíveis às variações climáticas e, consequentemente, gerou um aumento significativo nos preços negociados no ACL. Os modelos computacionais para precificar a eletricidade, utilizados pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) no cálculo do PLD, contam com um aumento da aversão ao risco que aumentou significativamente o custo do megawatt-hora (MWh).

O superintendente de Planejamento da Comercialização da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), Marcus Vinicius Lobato, explica que o armazenamento de água nos reservatórios das hidrelétricas está maior hoje do que na mesma época do ano passado, mas o preço de curto prazo da energia está mais caro, por conta desse viés de maior segurança do PLD. Dessa forma, as Usinas Termelétricas (UTE) são mais utilizadas do que antes.

“A forma como o modelo foi calibrado leva a preços mais altos naturalmente. O viés de ter mais segurança no sistema despacha as usinas térmicas mais antecipadamente, então consegue manter mais água no reservatório”, explica. “Mudanças mesmo só vão ocorrer na transição para o próximo período chuvoso. Se vier um período bom, o preço cai”, completa.

O presidente da CMU Comercializadora de Energia, Walter Fróes, aponta que, em setembro,não houve chuvas suficientes para encher os reservatórios das usinas hidrelétricas (UHE) e, assim, o grande volume de geração de energia das usinas fotovoltaicas (UFV) conseguiu demandar um menor uso de UHE durante o dia, mas um maior uso de UTE durante a noite.

“Hoje, o que tem influenciado é o nível de escassez até aqui, gerações fotovoltaicas brutais de dia, térmicas à noite, então isso está formado um nível de preço elevado. Vamos ver se com as chuvas entrando, vai diminuir o uso de térmicas a noite para cair o preço do PLD”, disse.

O diretor de Trading da Matrix Energia, Richard Fazzani, afirma que o PLD foi influenciado durante todo o ano pela nova metodologia e se estabilizou em um patamar alto. Mesmo com grande volume de energia eólica e solar no Sistema Interligado Nacional (SIN), aponta, os preços são impactados basicamente pelos níveis dos reservatórios das UHEs, de afluência dos rios e volume de chuva.

Até por isso, o executivo explica que eventos pontuais, como algumas chuvas no Rio Grande do Sul, ajudaram a compensar a falta de chuva em outras regiões, como Minas Gerais, e contribuíram para segurar os preços da eletricidade no curto prazo. No mês passado, o PLD do subsistema SE/CO, por exemplo, estava em uma média de R$ 287/MWh.

As previsões meteorológicas indicam um período chuvoso volumoso, mas o setor de energia aguarda a materialização das previsões para formar novos preços mais competitivos. “Não tem como afirmar agora uma tendência de preço. A expectativa é de uma chuva boa, com uma queda de preço, mas não dá para afirmar, porque depende de uma meteorologia. Mas as perspectivas para o sistema estão ideais”, finaliza Fazzani.

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