Mercado reage bem a anúncio de fim do PPI

O mercado financeiro reagiu bem ao comunicado de ontem da Petrobras. A companhia anunciou que vai adotar uma nova política de preços, que terá como base o custo alternativo do cliente e o valor marginal para a estatal. A medida colocou fim no Preço de Paridade de Importação (PPI), modelo que vinculava as tarifas dos produtos às oscilações internacionais.
De acordo com especialistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, a princípio o anúncio teve uma boa aceitação. Um dos motivos foi a empresa ter informado que a nova fórmula não se afastará totalmente da referência internacional de preços. Segundo eles, o mercado esperava uma alteração mais drástica na composição, o que de fato não ocorreu.
Conforme o especialista da Valor Investimentos, Paulo Luives, a estatal continuará com benchmarkings internacionais, mas vai considerar seu custo de produção, o que sugere que as margens vão permanecer positivas. Conforme ele, a companhia também vai olhar para os clientes através do custo de oportunidade, o que sugere uma busca por proteger seu market share de competidores, ou seja, dos produtos importados.
Apesar disso, Luives ressalta que o comunicado da Petrobras também deixou dúvidas no ar. “Foram dadas poucas informações sobre a fórmula, sobre qual será a frequência de ajustes e sobre qual vai ser o efeito prático disso no custo final do combustível para o consumidor”, salienta.
Para o CEO da IHub Investimentos, Paulo Cunha, a abstração do anúncio pode ter favorecido a reação do mercado, que esperava uma mudança mais intervencionista. “Mas o que temos é um comunicado que ‘meio’ que não tem como você saber e como fiscalizar. Então, vamos ter que ver se, de fato, vai continuar seguindo, mesmo que não tenha tanta correlação com o preço internacional ou se vão ter alguns momentos ali de forte intervenção”, ressalta.
Impactos negativos previstos
Apesar do mercado ter reagido de forma positiva à nova política de preços, os especialistas avaliam que a medida pode trazer impactos negativos à Petrobras.
Segundo o sócio do PMMF Advogados e especialista em Negociações Estratégicas, Alberto Mattos de Souza, o fim do PPI deve provocar uma diminuição da volatilidade dos preços, o que traz mais previsibilidade ao consumidor. “Por outro lado, o ‘descasamento’ entre o custo de aquisição no mercado internacional e o de venda no mercado interno pode gerar impacto relevante nos cofres da companhia, o que, no passado, gerou prejuízos bilionários”, avalia.
Já o sócio-diretor da Belo Investment Research, Paulino Oliveira, ressalta que o anúncio teve um tom favorável ao mercado. Segundo ele, a companhia falou em respeito à diretriz de formação de preços, o que basicamente indica que a prioridade na política é o interesse do acionista no longo prazo. Entretanto, na prática, a decisão sobre os preços praticados nas distribuidoras ainda será feita sem periodicidade definida e com critérios bastante vagos.
Ainda de acordo com Oliveira, apesar do cuidado com a forma de divulgação, a política é potencialmente problemática para a empresa. “Era melhor que houvesse mais transparência e regras mais claras no sentido de garantir alguma estabilidade de preços, suavização daquilo que é praticado internacionalmente, mas com mais clareza, o que não foi o caso”, frisa.
Preços
Na sequência do comunicado da nova estratégia comercial e do fim do PPI, a Petrobras também anunciou novos preços dos produtos nas distribuidoras. A gasolina tipo A cairá R$ 0,40 por litro (-12,6%); o diesel A sofrerá uma redução de R$ 0,44 por litro (-12,8%) e o gás de cozinha (GLP) terá uma queda de R$ 8,97 por botijão de 13 kgs (-21,3%).
Os especialistas, porém, já esperavam os ajustes. Conforme Cunha explica, os preços do petróleo e do dólar estão em queda. Já segundo o analista de investimentos da Mirae Asset Corretora, Pedro Galdi, a tabela atualizada da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) indicava que poderia haver uma redução na gasolina e no diesel. “Se olharmos o site da Abicom, havia espaço para isto”, destaca.
No último relatório da associação, o cenário médio de preços estava acima da paridade para o óleo diesel e para a gasolina, com uma defasagem de 7% no primeiro, e 13% para o segundo.
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