Economia

Envelhecimento da população aquece mercado de residenciais para idosos e pressiona orçamento das famílias

Famílias dividem despesas e adaptam orçamento para oferecer qualidade de vida a idosos em residenciais
Envelhecimento da população aquece mercado de residenciais para idosos e pressiona orçamento das famílias
Foto: Divulgação / Aquarela Sênior

O Brasil está envelhecendo. Dados do Censo 2022 mostram que o número de pessoas com 65 anos ou mais cresceu 57,4% em 12 anos, totalizando 22,1 milhões de brasileiros, ou 10,9% da população. Com isso, cresce também a demanda por residenciais para idosos, especialmente nas grandes cidades, o que impacta no orçamento das famílias. Em Belo Horizonte, o número de alvarás sanitários para esse tipo de serviço saltou de 54 em 2023 para 100 em 2024, segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).

A mudança na pirâmide etária do País, impulsionada pela queda da taxa de natalidade e pelo aumento da longevidade, está moldando uma nova realidade social e econômica. Para muitas famílias, o cuidado com os pais ou avós passou a representar uma nova fase da vida financeira, com custos elevados e escolhas difíceis.

O crescimento dos residenciais para idosos

A diretora do Residencial Aquarela Sênior, Juliana Araújo, que fica no bairro Santa Lúcia, em Belo Horizonte, observa de perto esse movimento. “É um serviço que realmente tem uma grande procura e que acompanha o envelhecimento populacional. Tanto é que, a cada dia, nós temos novos residenciais em Belo Horizonte e Minas Gerais”, afirma.

O residencial atende hoje 80 idosos com estrutura completa de assistência médica, fisioterapia, alimentação e lazer. “A nossa assistência foi pensada em cada demanda do idoso. É uma estrutura com total acessibilidade, com cuidado muito individualizado”, completa Juliana Araújo.

Segundo a diretora, a procura vem de todos os perfis de famílias, mas a maioria busca o serviço para idosos que necessitam de cuidados diários ou convivência social. Diante da alta demanda, o Aquarela já planeja abrir uma segunda unidade na capital mineira.

Residencial Aquarela Sênior atende 80 idosos atualmente
Foto: Divulgação / Aquarela Sênior

Custo alto exige planejamento das famílias

No entanto, essa estrutura demanda gastos. O quarto duplo no Residencial Aquarela custa R$ 12.300 por mês, enquanto o quarto individual sai por R$ 17.200 mensais. “Não é um custo, é um valor que representa toda uma assistência pensada para o idoso”, explica a diretora.

A administradora Maria Juliana Alvim, filha da idosa Blandina Lercy de Almeida, de 91 anos, conta como foi tomar a decisão de levar a mãe para o residencial. “Ela começou a cair, teve dificuldades nos joelhos, e a casa dela já oferecia perigo. A gente queria qualidade de vida e conforto. Quando conhecemos o Aquarela, nos apaixonamos pelo acolhimento”, conta.

A mensalidade, segundo ela, exige planejamento e divisão de custos entre os irmãos. “A mensalidade atualmente é em torno de R$ 17 mil. Tem que ter colaboração. Meus irmãos ficam com a maior parte da despesa e eu fico com os medicamentos e os extras”, afirma.

Mesmo com o aumento nos gastos em relação aos cuidados anteriores, Maria Juliana Alvim avalia que valeu a pena. “Ela melhorou 1000%. Alimenta-se melhor, participa de atividades, ficou bem mais feliz”, conta.

Residencial para idosos
Foto: Reprodução / Adobe Stock

Impacto no orçamento e no sistema público

De acordo com o economista Carlos Eduardo Costa, o cuidado com idosos já pressiona o orçamento de muitas famílias, especialmente com a diminuição do número de filhos por casal. “As famílias já são menores. Não tem mais como dedicar um familiar só para cuidar do idoso. Então há uma necessidade de contratar alguém, o que representa mais gasto e menos pessoas para dividir essa conta”, explica.

Para ele, o problema tende a se agravar com a redução da população economicamente ativa e os riscos à sustentabilidade do sistema previdenciário brasileiro. “A conta já não está fechando. A contribuição de quem está na ativa não sustenta mais os benefícios de quem já se aposentou”.

O economista também chama atenção para o desnível social no acesso a residenciais de qualidade. “Hoje, quem tem mais recursos encontra mais opções. Mas as instituições acessíveis à população de baixa renda têm menos vagas e estão longe de atender toda a demanda”, alerta.

O residencial para idosos Aquarela Sênior tem diversas atividades
Foto: Divulgação / Aquarela Sênior

Mercado de residenciais cresce, mas desafios persistem

Em Belo Horizonte, a Vigilância Sanitária confirma o crescimento do setor. Entre 2021 e 2024, o número de alvarás sanitários emitidos para residenciais de idosos foi de 78 para 100. A maioria desses estabelecimentos segue as normas da RDC 502 da Anvisa e da Portaria 0012/2015 da PBH, que garantem condições mínimas de funcionamento.

Apesar da expansão do mercado, Juliana Araújo alerta para o principal desafio enfrentado pelos residenciais: o preconceito com a institucionalização. “A instituição hoje é qualidade de vida, convivência, atividades e relacionamento com a família. O maior desafio ainda é desmistificar essa ideia antiga”.

Como preparar o orçamento para o futuro

Tanto especialistas quanto familiares concordam que é essencial planejar com antecedência o envelhecimento, não apenas emocionalmente, mas também financeiramente. “Parte do que a gente ganha hoje não nos pertence. Vai nos pertencer lá na frente. Se não guardarmos, vamos ter que aceitar as escolhas que a vida fizer por nós”, ressalta o economista Carlos Eduardo.

Maria Juliana, que vive de perto a realidade do cuidado com a mãe, diz que já começou a pensar no próprio futuro. “Quando a gente vive o problema, convive com idosos, a gente vê a necessidade de um planejamento para se preparar para o futuro”, avalia.

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