Economia

Mesmo com novo marco legal, mercado do gás segue travado

Atrasos na agenda da ANP, concentração da comercialização na Petrobras e falta de acesso à infraestrutura emperram o setor no País, segundo a CNI
Mesmo com novo marco legal, mercado do gás segue travado
Decreto permite à ANP limitar o gás natural destinado à reinjeção e estabelecer parâmetros para o uso de gasodutos que levam o insumo do alto-mar para a terra | Crédito: Lucia Sebe / Secom MG

Quatro anos após a aprovação da Nova Lei do Gás (Lei nº 14.134/2021), a abertura do mercado brasileiro ainda não se concretizou como esperado. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que a falta de regulamentação efetiva, os sucessivos atrasos na agenda da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e a concentração da comercialização na Petrobras continuam sendo barreiras para a concorrência e a redução dos preços do gás natural no País.

As conclusões fazem parte do estudo Gás Natural: uma avaliação da abertura do mercado brasileiro sob competência da União. O levantamento foi apresentado, na quinta-feira (27), no seminário Abertura do mercado de gás natural no Brasil, promovido pela entidade, em Brasília. O evento reuniu especialistas do setor para debater as perspectivas da agenda regulatória da ANP e o planejamento estratégico para o gás natural no Brasil.

“Apesar do marco legal, a tarifa cobrada pelo gás natural no Brasil continua sendo uma das mais altas do mundo, o que representa um obstáculo à competitividade nacional. Assim, passados quatro anos da promulgação da lei, convém avaliar os resultados iniciais e as ações indispensáveis para que os ganhos potenciais da abertura do mercado desse importante insumo industrial se concretizem”, destaca o presidente da CNI, Ricardo Alban.

Na contramão das previsões, o consumo de gás natural no setor industrial, responsável por cerca de 60% do total consumido no País, está estagnado há mais de uma década. Isso ocorre, especialmente, porque os preços do insumo no mercado nacional estão entre os mais elevados do mundo.

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Segundo levantamento da CNI, no Brasil, o gás natural chega às indústrias por US$ 20 por milhão de BTUs, em média. O valor é muito superior ao dos Estados Unidos, onde a molécula do gás custa cerca de US$ 2 por milhão de BTUs, e representa o dobro do preço praticado no mercado europeu, de cerca de US$ 10 por milhão de BTUs.

Os relatórios do GT Gás para Empregar apontaram que o custo de infraestrutura corresponde a 66% do preço do gás ao consumidor final. A estimativa é que o custo associado ao escoamento e processamento é de cerca de US$ 9 por milhão de BTU. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apontou que é possível uma redução substancial de valores cobrados no acesso a essas infraestruturas para cerca de US$ 2.

O estudo lançado pela CNI, no entanto, reconhece que a Nova Lei do Gás trouxe avanços importantes, como o conceito de transportador independente. Além disso, a Petrobras cumpriu parte dos compromissos firmados no Termo de Compromisso de Cessação (TCC) com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), como a alienação de ativos e a oferta de capacidade de transporte para novos agentes.

De acordo com a CNI, ainda que exista progresso no desenvolvimento do mercado, sem regulamentação completa e mecanismos de transparência, os efeitos positivos dessas medidas ainda são limitados. Entre os principais desafios mapeados no levantamento estão:

• Regulamentação pendente e atrasos na ANP;
• Baixa transparência no acesso às infraestruturas;
• Concentração na comercialização;
• Necessidade de compromisso federal.

O diretor de relações institucionais da CNI, Roberto Muniz, alerta que a indústria é um dos setores mais sensíveis ao preço dos insumos energéticos. Segundo ele, a energia impacta em média 7% no custo total de produção, podendo em alguns setores chegar a 40%, o que reflete diretamente em sua competitividade.

“O mercado de gás natural é estratégico para a neoindustrialização do Brasil, mas, na prática, ele ainda opera com barreiras que limitam a concorrência e impedem que o setor aproveite todo o seu potencial. Sem avanços concretos na regulamentação e uma verdadeira abertura, corremos o risco de desperdiçar oportunidades de investimento e competitividade para a indústria nacional”, afirma Muniz.

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