Saiba o que é regime de meta contínua de inflação
O regime de metas para a inflação, tem muito debatido nos últimos dias, vigora no Brasil desde 1999. O Banco Central (BC) adota atualmente um modelo baseado no ano-calendário, ou seja, com metas estipuladas para o período entre os meses de janeiro e dezembro de cada ano. Porém, esse sistema está com os dias contados. Ele será substituído pelo regime de meta contínua em um futuro próximo.
O economista e colunista do DIÁRIO DO COMÉRCIO Guilherme Almeida explica que a diferença entre os dois regimes está basicamente no horizonte de tempo. Enquanto o atual segue um período fechado de tempo para atingir a meta, o regime contínuo é mais flexível e não se limita ao final de um determinado ano, por exemplo, para alcançar o objetivo estipulado.
Ele lembra que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já anunciou que o governo deverá trabalhar com horizonte de tempo de 24 meses, porém, essa decisão será de responsabilidade da equipe técnica do Banco Central. “Acredito que vai permanecer em um horizonte de 18 a 24 meses”, comenta o economista.
Almeida explica que se esse regime de meta contínua for adotado, ele permitirá que o Banco Central tenha mais flexibilidade para utilizar os instrumentos de política monetária, como a taxa de juros.
“Não vai precisar, por exemplo, cortar o subjuros em um curto espaço de tempo. Ele pode ir avaliando a acomodação dos efeitos da política monetária na economia, que tende a se dar com certa defasagem”, conta.
O colunista do DIÁRIO DO COMÉRCIO diz que, no modelo atual, o BC precisa utilizar os instrumentos de política monetária para tentar atingir a meta dentro do intervalo estipulado. Caso isso não ocorra, o presidente do Banco Central tem que fazer uma carta de próprio punho justificando os motivos pelos quais o objetivo não foi alcançado dentro do período.
O regime de metas atual é adotado apenas nas Filipinas, Indonésia, Tailândia e Turquia, que possuem alguns aspectos para ano-calendário. Já os demais países que também adotam o regime de metas estão no modelo flexível.
“Esses países que adotam essa meta contínua, eles têm um horizonte maior para os quais os bancos centrais, as autoridades monetárias locais, possam utilizar instrumentos para atingir a meta”, completa.
Vantagens e desvantagens do regime de meta contínua:
1 – O economista cita três grandes vantagens desse modelo. O primeiro é a oficialização de uma prática que já é adotada pelo Banco Central. Almeida conta que o BC já tem firmado horizontes de até seis meses acima do ano-calendário em alguns parágrafos de atas do Comitê de Política Monetária (Copom).
“Ele já olha para um horizonte mais dilatado e não se preocupa com o ano fechado. Justamente porque a política monetária tem um efeito defasado na economia. A autoridade monetária e o corpo técnico entendem que esses efeitos só serão observados em períodos posteriores”, explica.
2 – O segundo ponto é o fato desse regime eliminar medidas ineficientes para atingir a meta de inflação dentro do período estipulado. No caso do regime de ano fechado, o economista lembra que o Banco Central e o governo costumam adotar algumas políticas fiscais e econômicas no final do ano, como a redução de impostos, para tentar reduzir a inflação de maneira artificial e no curto prazo. “Com a adoção de uma meta contínua, esse risco é eliminado”, afirma.
3 – Já o terceiro benefício, na visão de Almeida, é a definição de perpetuidade da existência dessa meta. Essa definição de caráter duradouro contribui para ancorar as expectativas de longo prazo.
“Se nós temos um horizonte maior de tempo, no qual a autoridade monetária está comprometida para trazer essa inflação para os limites estabelecidos de metas de inflação, nós teremos um mercado mais confiante com essa autoridade monetária”, declara.
Flexibilidade excessiva pode ser ponto fraco
O economista conta que isso ocorre porque o Banco Central não está mais preocupado apenas em trazer a inflação para dentro da meta até dezembro de cada ano, mas sim, de maneira contínua. “Isso ajuda a ancorar as expectativas de longo prazo”, ressalta.
Por outro lado, o colunista do DIÁRIO DO COMÉRCIO destacou que uma possível desvantagem do modelo de meta contínua é uma flexibilidade excessiva por parte da autoridade monetária.
“Dado que o Banco Central tem um horizonte maior, ele pode ser mais brando e mais flexível na adoção desses instrumentos. Isso pode postergar as decisões que são essenciais nesse primeiro momento. Mas eu acho que isso não tende a ocorrer dado o perfil do corpo técnico que hoje atua no Banco Central”, comenta.
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