Metodologia e falta de chuvas inflacionam preços no mercado livre de energia

A metodologia que entrou em vigor neste ano no Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), valor de referência no mercado livre de energia, deixou os custos de energia elétrica mais sensíveis às variações climáticas e, consequentemente, gerou um aumento significativo nos preços negociados no Ambiente de Contratação Livre (ACL). Somado à nova precificação, há uma quebra de expectativa com um período chuvoso menos volumoso.
Os modelos computacionais para precificar a eletricidade, utilizados pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) no cálculo do PLD, contam com um aumento da aversão ao risco desde a virada do mês de fevereiro para março. Desde então foi observado um aumento significativo no custo do megawatt-hora (MWh).
No subsistema Sudeste/Centro-Oeste (SE/CO), subgrupo do Sistema Interligado Nacional (SIN) onde Minas Gerais está localizada, a média semanal do PLD da primeira semana operativa de janeiro foi precificada em R$ 60,01/MWh. Já na terceira semana operativa de junho, a média semanal do PLD do SE/CO foi de R$ 228,97/MWh.
O diretor-geral da consultoria do setor de energia Dcide, Patrick Hansen, explica que os novos parâmetros de aversão ao risco do PLD priorizam a possibilidade de cenários climáticos extremos, como estiagens prolongadas, por exemplo, e ainda dão mais peso a esses cenários na hora do cálculo dos preços de energia.
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Hansen apontou que os comercializadores de energia já têm incorporado nos preços do mercado livre essa volatilidade apontada para cima. Nem mesmo a queda no preço do por MWh nas últimas semanas consegue ser utilizada como uma tendência para o ano, devido à grande sensibilidade da metodologia do PLD às chuvas.
A alta afetará ainda o próximo ano, já que, mesmo com dinâmica diferente da comercialização de curto prazo, os preços dos contratos de longo prazo também aumentaram. “Essa queda de preços agora para o segundo semestre não necessariamente vai impactar diretamente nos preços para consumidores varejistas, que têm contratos com preços de longo prazo. Esses preços de longo prazo, de fevereiro pra cá, aumentaram e estão relativamente firmes”, disse.
O superintendente de Planejamento da Comercialização da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), Marcus Vinicius Lobato, aponta também que o período chuvoso se desenvolvia de bom tamanho ao longo do mês de fevereiro, mas na virada para o mês de março, houve uma redução importante no volume das chuvas da região Sudeste do País.
A frustração do setor com as “águas de março” que não apareceram, justamente no principal subsistema do SIN para o armazenamento de energia, devido às hidrelétricas do SE/CO, contribuiu para inflacionar os preços da eletricidade, que chegou a R$ 400/MWh em determinados momentos do terceiro mês do ano. “Essa quebra de expectativa, associada ao modelo mais avesso ao risco, provocou um aumento significativo nos preços”, disse Lobato.
Comitê pode mudar metodologia e reduzir preços de energia
O superintendente de Planejamento da Comercialização da Cemig analisa que o repasse do aumento dos preços, observado em março, nos contratos futuros, com forte reflexo para o ano, deve ser de menor intensidade nos anos seguintes. Agora, os preços deverão ficar mais estáveis, já que o período chuvoso acabou e o setor discute novos preços quando o novo período chegar, no próximo ano.
Alguns eventos pontuais, como as chuvas no Rio Grande do Sul, vão afetar para baixo a precificação da eletricidade no curto prazo, já que os reservatórios das hidrelétricas gaúchas ficarão cheios por algum tempo. Lobato afirmou que a perspectiva do setor é que o PLD deverá fechar o ano um pouco abaixo dos R$ 300/MWh.
Uma mudança significativa pode vir de uma revisão dos parâmetros de aversão ao risco no Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE). Entidades do setor de energia pressionam o Ministério de Minas e Energia (MME), que preside o CMSE, em busca de maior flexibilidade na aversão ao risco do PLD. Para ser aplicada em janeiro de 2026, qualquer mudança do CMSE precisa ser realizada até o dia 31 de julho.
“Agora, nessa nova discussão, a gente percebe que há muitos pontos de vistas diferentes, em relação a manter a forma como está, mas tem uma corrente bastante forte também para redução disso, e há um debate, vamos ver como o comitê recebe e delibera sobre isso”, disse Lobato. “Acho que tem uma chance de reduzir, por conta desse debate e dessa argumentação que a gente está vendo”, finaliza.
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