Economia

Minas 305 anos: o que norteia a estratégia das empresas com produção 100% mineira

O Estado possui a segunda maior população e a terceira maior economia do País; além de uma mão de obra qualificada para diversos segmentos
Atualizado em 2 de dezembro de 2025 • 18:46
Minas 305 anos: o que norteia a estratégia das empresas com produção 100% mineira
Foto: Diário do Comércio Leonardo Morais

O estado de Minas Gerais celebra, nesta terça-feira (2), 305 anos de história. Com a segunda maior população e a terceira economia do Brasil, o Estado tem proporcionado um ambiente propício para o surgimento de grandes empresas em diferentes setores. O mercado mineiro também tem oferecido condições ideais, como a posição geográfica estratégica, para que os empreendimentos se destaquem em seus respectivos segmentos sem a necessidade de migrar para outros estados.

O Produto Interno Bruto (PIB) de Minas em 2024 atingiu R$ 1,06 trilhão, o que representa um crescimento de 3,1% frente a 2023. De acordo com dados da Fundação João Pinheiro (FJP) e do governo estadual, esse montante representa 9% do total registrado no País. O Estado possui 21,4 milhões de habitantes, o equivalente a 9,99% da população brasileira (213,421 milhões), segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A secretária de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, Mila Corrêa da Costa, avalia que diversos fatores contribuem para as empresas mineiras alcançarem destaque no País, sendo o principal deles a criação de um ambiente de negócios mais favorável ao empreendedorismo. Ela destaca a atuação do programa de desburocratização Minas Livre Para Crescer (MLPC) na aplicação da Lei de Liberdade Econômica e na desburocratização como exemplo.

Ao todo, 586 municípios mineiros já regulamentaram a Lei de Liberdade Econômica, beneficiando mais de 15 milhões de pessoas, o equivalente a aproximadamente 70% da população local. Atualmente, 915 atividades econômicas de baixo risco estão dispensadas de autorizações prévias em Minas.

Para Mila Corrêa, o desafio é manter esse cenário acolhedor aos empreendimentos nos próximos anos.

“É importante que as políticas e ações voltadas ao crescimento do empreendedorismo estejam cada vez mais alinhadas às demandas do mercado, de modo que possam continuar fomentando os investimentos dos empreendedores e a geração de empregos no Estado”, completa.

Da tradição à modernidade: quais são as estratégias das empresas em Minas

Um dos grandes players do mercado mineiro é a Cedro Textil. Com mais de 150 anos, ela possui o registro mais antigo do Estado entre as empresas em atividade, com cadastro realizado em 1888, conforme a Junta Comercial do Estado de Minas Gerais (Jucemg). A companhia mineira é uma das maiores empresas do setor têxtil no Brasil.

Para o presidente da Cedro Textil, Fábio Mascarenhas Alves, celebrar os 305 anos de Minas Gerais é celebrar as raízes da empresa. “Foi aqui que nascemos, crescemos e construímos uma trajetória de 153 anos marcada por resiliência e capacidade de evolução”, declara.

Fábrica da Cedro Textil.
Foto: André Senna/Cedro Textil

Alves relata que a indústria passou por períodos de guerras, crises políticas e transformações tecnológicas profundas e, ainda assim, segue firme, se reinventando e investindo em inovação e sustentabilidade.

“Hoje, temos orgulho de ser líderes em workwear na América Latina e uma das principais fabricantes de sarja e denim do Brasil. É uma honra seguir crescendo junto com este Estado que também é a nossa casa”, diz.

Já o sócio-fundador e diretor de fábrica da Xeque Mate Bebidas, Gael Rochael, considera que razões econômicas, culturais e de comportamento do consumidor tornam o mercado mineiro um ambiente fértil para o crescimento de empresas locais. Para ele, Minas oferece boas oportunidades para negócios como a Xeque Mate, uma marca de bebidas diretamente relacionada aos hábitos regionais.

A empresa, fundada em 2015, é uma das mais relevantes no segmento de drinques prontos, ou Ready-to-Drink (RTD), no País. A marca mineira vem expandindo suas operações e diversificando as linhas de produtos. Ela também atua no segmento de bares, com a rede Mascate; de música e audiovisual, com a Xeque Mate Estúdios; e da moda, com a Lab Xeque Mate.

Rochael acredita que todo esse ecossistema foi beneficiado por atributos que fazem Minas Gerais ser um polo de negócios escalonáveis. “Destacaria, por exemplo, o fato do público mineiro ser conhecido por valorizar produtos autênticos, o que, quando aprovado, recebe grande receptividade”, acrescenta.

Latas de Xeque Mate.
Foto: Diário do Comércio / Leonardo Leão

Além disso, o empresário avalia que o Estado possui uma cultura gastronômica e social robusta frequentadora de bares, cafés, encontros e eventos; algo já enraizado no cotidiano dos mineiros. Para o diretor, esse contexto facilita a experimentação e a fidelização de produtos no mercado local.

“Um terceiro ponto que vale ser destacado é a logística estratégica. Minas possui posição geográfica central, conectando Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Sul”, completa.

O CEO da Bem Brasil, Dênio Oliveira, destaca que o Estado reúne condições muito favoráveis para o desenvolvimento de indústrias de alimentos, o que foi determinante para a trajetória da companhia no mercado nacional. A empresa opera três plantas em Minas Gerais que formam, segundo ele, o maior complexo de produção de batata pré-frita congelada do País.

“A partir dessas unidades, conseguimos estar presentes em mais de 13 milhões de lares todos os dias, além de abastecer varejo, food service e a indústria de alimentos em todo o País”, relata.

Presença de mão de obra qualificada

Mila Corrêa da Costa destaca o foco do governo estadual na qualificação de mão de obra. “Por isso, a Sede-MG conduz o Mapa Mineiro para Qualificação Profissional, um levantamento de solicitações do setor produtivo para identificar demandas por profissionais capacitados nos setores do estado”, completa.

As demandas são convertidas em vagas de cursos técnicos no Estado. Essas ações, para a secretária, é algo fundamental para estimular a inserção de mão de obra qualificada atendendo às necessidades do mercado. Isso também beneficia a redução de custos com treinamentos internos, além de gerar maior retenção de talentos.

A secretária pontua que o Estado também investe em ações de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) que fomentam o ecossistema e beneficiam as empresas. Um exemplo é o programa Compete Minas, que estimula a competitividade e a inovação, por meio de aportes públicos em projetos que impactam os setores produtivos.

“Nesta quarta rodada do programa serão investidos R$ 49,7 milhões nas 92 propostas aprovadas, que visam o desenvolvimento de projetos de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação”, relata.

Além disso, Oliveira ressalta que Minas Gerais oferece uma mão de obra qualificada, cadeia agrícola robusta e maior proximidade com as principais regiões produtoras de batatas do Brasil. A posição logística do Estado também é destacada pelo executivo, o que facilita a distribuição nacional dos produtos da marca.

De acordo com o CEO da fabricante mineira de batatas pré-fritas, o consumidor brasileiro tem ampliado o consumo de alimentos práticos e de qualidade. “Essa combinação entre vocação produtiva, infraestrutura e demanda crescente permite que a Bem Brasil se destaque nacionalmente mantendo suas operações concentradas em Minas Gerais”, afirma.

Fábrica da Biomm
Foto: Phillipe Guimarães Phills

O diretor de operações da Biomm, Francisco Freitas, lembra que a farmacêutica surgiu na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e ressalta que a empresa tem o Estado como fonte principal para formação de pessoal. “Nós temos orgulho de ser uma empresa mineira com investimentos em Minas e formação de mão de obra e desenvolvimento de novas tecnologias no Estado”, declara.

Freitas pontua que a Biomm é uma empresa do segmento de biofarmacêutica de alta tecnologia e, portanto, dependente do fornecimento de mão de obra especializada. Para o diretor, a presença de universidades de grande relevância no âmbito de pesquisa e desenvolvimento (P&D) facilita o surgimento de empresas semelhantes à farmacêutica.

O executivo relata que o mercado mineiro é um dos mais relevantes para a farmacêutica apesar de São Paulo ter maior relevância no faturamento anual da empresa. O diretor de operações também pontua que, mesmo tendo sua produção concentrada em Minas, a Biomm segue mantendo sua relevância no mercado nacional e relações com grandes empresas do exterior.

O que ainda pode ser feito para as empresas mineiras?

Dênio Oliveira avalia que Minas Gerais oferece condições muito competitivas para o desenvolvimento das empresas locais. Ele ressalta que a região possui um ambiente industrial sólido, políticas de incentivo consistentes e uma cultura empresarial que valoriza inovação, eficiência e visão de longo prazo. “Esses fatores têm sido fundamentais para que empresas mineiras se tornem referências nacionais, como é o caso da Bem Brasil”, acrescenta.

No entanto, ele pondera que também há alguns pontos para evoluir no mercado mineiro, especialmente aqueles relacionados à infraestrutura logística, ampliação da capacidade energética e aos investimentos contínuos em tecnologia e inovação. Para o executivo, a aproximação entre universidades, centros de pesquisa e empresas também é um caminho importante para elevar ainda mais a competitividade do Estado.

“Com esses avanços, Minas tem todo o potencial para seguir impulsionando o crescimento de empresas de diferentes setores”, avalia.

Já Gael Rochael compreende a necessidade que muitas empresas de origem mineira sentem de levar suas operações para outros mercados, como o Rio de Janeiro e São Paulo. Na visão do diretor, isso ocorre devido à falta estímulo a crédito e benefício fiscal para quem está começando.

“Também acredito que empreendedorismo, gestão financeira e inteligência emocional deveriam fazer parte do currículo escolar da educação pública básica”, avalia.

Não é necessário sair de Minas para crescer

Fábrica da Bem Brasil.
Foto: Divulgação Bem Brasil

O executivo da Biomm avalia que o Estado possui uma boa infraestrutura para o transporte rodoviário e aéreo, o que acaba influenciando na decisão estratégica da companhia de permanecer em Minas Gerais. Segundo ele, estar em Minas é uma grande vantagem que possibilita que empresas como a farmacêutica atendam outros mercados no País.

“A localização geográfica de Minas Gerais, associada a uma formação de mão de obra de alta qualidade, são algumas das vantagens operacionais que destacam a competitividade da companhia. Nós não temos a necessidade de mudar para outros estados”, avalia.

Francisco Freitas relata que a companhia tem investido em uma reserva técnica presente em Pernambuco e que, eventualmente, a empresa pode acabar lançando novas operações em outros estados. Porém, ele reafirma que o mercado mineiro segue sendo a prioridade para ampliações ao longo dos próximos anos.

Já o CEO da Bem Brasil garante que Minas permanece sendo o centro estratégico da empresa, com as três fábricas da marca operando com alta eficiência e capazes de atender a demanda nacional. Segundo Dênio Oliveira, a companhia está atenta a novas oportunidades, mas, atualmente, o foco está no fortalecimento, modernização e ampliação da capacidade produtiva dentro do Estado.

“Onde dispomos de uma cadeia produtiva integrada, competitiva e altamente estratégica para o futuro da empresa”, completa.

O empresário Gael Rochael também afirma que Minas Gerais segue sendo a base da Xeque Mate, por se tratar do lugar onde a marca nasceu e onde ela pretende manter sua sede. No entanto, ele esclarece que a empresa planeja ter operações em outros lugares do Brasil.

“Muito em breve, teremos uma novidade sobre a expansão da rede de bares Mascate que vai ultrapassar, pela primeira vez, a fronteira das montanhas mineiras e aportar em outro estado”, revela.

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