Minas mira produtos de maior valor agregado para retomar exportações para países do Golfo
O Oriente Médio, especificamente a região do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), formado por Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã, se consolidou como um mercado estratégico e bilionário para Minas Gerais. Segundo dados da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede-MG), as exportações mineiras para o bloco atingiram um montante de US$ 11,4 bilhões entre 2020 e 2024.
Apesar da média robusta de cerca de US$ 2,5 bilhões anuais em vendas no período, a pauta de exportação de Minas Gerais é altamente concentrada em commodities. Em 2020, por exemplo, os minérios de ferro e seus concentrados responderam por quase 70% de todo o volume exportado para a região, tendo o Bahrein (41,8%) e Omã (31%) como principais destinos.
“Na pauta desses países destacaram-se, nessa ordem, o minério de ferro, os açúcares de cana, as carnes, notadamente as de aves, café, obras de ferro fundido ferro e aço (tubos de ligas de aço), ferro fundido ferro e aço (principalmente ferro nióbio) e ouro”, aponta levantamento divulgado pela Fundação João Pinheiro (FJP).
Recuo em 2025: chance de mudar a pauta de exportações
Um ponto de alerta nos dados mais recentes da FJP é a queda de 26% nas exportações entre janeiro e setembro de 2025, em relação ao mesmo período do ano anterior, somando US$ 1,4 bilhão neste ano.
“Com exceção do Catar, todos os países componentes do CCG registraram variação negativa do valor exportado nesse intervalo”, ressalta a fundação.
Segundo o levantamento da FJP, o Barein, maior representação do CCG entre 2020 e 2025, registrou o valor de US$ 512 milhões de janeiro a setembro de 2025, com retração de 30,8% em relação a igual intervalo do ano anterior. Essa queda está majoritariamente ligada à menor demanda pelo minério de ferro.
“A participação desses países nas exportações totais de Minas Gerais, nos primeiros nove meses do ano, foi equivalente a 4,2%. Apesar disso, Minas Gerais foi o 2º principal Estado exportador brasileiro para os países do Golfo no período até setembro de 2025”, explica a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Sede-MG), em nota.
Dentre os países que fazem parte do Golfo, os principais destinos das exportações mineiras no período foram Bahrein (36,7%), Omã (30,2%), Emirados Árabes Unidos (15,6%), Arábia Saudita (15%) e Catar (1,4%). O Kuwait ficou em último colocado, com cerca de 1,2% das exportações.
Veja a lista dos principais produtos exportados por Minas Gerais para os países do Golfo até setembro
- minérios de ferro e seus concentrados (64,9%)
- açúcares de cana ou de beterraba e sacarose quimicamente pura, no estado sólido (13,6%)
- carnes e miudezas comestíveis (6,3%)
- café (4,8%)
- tubos e perfis ocos, sem costura, de ferro ou aço (4,5%)
Principais municípios mineiros que exportaram produtos para os países do Golfo de janeiro a setembro
- Conceição do Mato Dentro (37,1%)
- Itabira (16,8%)
- São Gonçalo do Rio Abaixo (10,3%)
- Belo Horizonte (4,5%)
- Sete Lagoas (2,5%)

Produtos de valor agregado para alavancar as exportações
Para o superintendente de atração de investimentos e estímulo à exportação da Sede-MG, Gustavo Costa de Souza, o potencial de crescimento de Minas Gerais reside na expansão da venda de produtos com maior valor agregado, que já apresentam crescimento relevante no mercado do Golfo.
“Tanto café especial quanto verde, produto mineiro que já está consolidado no mercado internacional, quanto alimentos e bebidas, em geral, apresentam uma possibilidade relevante de crescimento na exportação para os mercados do Golfo, especialmente, aqueles produtos com maior valor agregado”, explica.
Dos principais produtos mineiros exportados para o CCG, o café foi um dos poucos que não teve retração em valor. Embora com acréscimo em valor, o café contabilizou queda de 33,9% em volume. Apesar do cenário de queda geral, o Kuwait foi um dos países que mais demonstrou apetite pelo café mineiro, registrando um acréscimo de 120,9% em valor nas vendas no acumulado até setembro de 2025.
“A Arábia Saudita também deu um salto nas importações desse produto de 2022 para 2024, com um total importado de US$ 22,18 milhões em 2022 e US$ 39,01 milhões em 2024. Além desses países, os Emirados Árabes Unidos também aumentaram significativamente suas importações, saindo de US$ 26,2 milhões em 2022 para US$ 47,51 milhões em 2024. Estes países são também um entreposto relevante para mercados na Europa e na Ásia”, detalha Souza.
Outros produtos com possibilidade de crescimento no Golfo

De acordo com o superintendente de atração de investimentos e estímulo à exportação da Sede-MG, as preparações capilares e os cosméticos, de modo geral, são segmentos que têm obtido um crescimento relevante nas exportações mineiras para países do Golfo.
“Os Emirados Árabes Unidos são o país do Golfo que mais importam as preparações capilares de Minas Gerais, com um salto relevante de US$ 696,9 mil em 2022 para US$ 1,48 milhão em 2024. A Arábia Saudita também se mostra como um importante comprador do produto, mantendo-se como segundo principal comprador de preparações capilares de Minas Gerais”, ressalta.
Outro setor que é visto como um grande potencial de futuro é o de medicamentos, que apresentaram alta nas exportações de 2022 para 2024, com um aumento de US$ 1,86 milhão em 2022 para US$ 2,4 milhões em 2023. Em 2024 houve uma queda para US$ 1,99 milhão, porém, em 2025, até o mês de setembro, foi calculado um valor de US$ 1,5 milhão, que pode ser reflexo de uma recuperação.
“Apesar das flutuações anuais, os dados indicam que o setor possui potencial de crescimento, especialmente se forem adotadas estratégias voltadas para inovação, diversificação de mercados e agregação de valor, o que pode consolidar a participação das exportações mineiras de medicamentos no comércio internacional”, conta Souza.
“Esses dados indicam um mercado estratégico para os setores de alimentos e bebidas mineiros, bem como reforçam o trabalho que vem sendo realizado para a diversificação de mercados”, finaliza.
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