Minas é o quarto maior emissor de gases do efeito estufa no País

Minas Gerais é o quarto estado do País a emitir mais gases do efeito estufa, de acordo com o Observatório do Clima. Os dados compõem a plataforma Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG).
Trata-se da principal ferramenta de monitoramento de emissões de gases de efeito estufa na América Latina e uma das maiores bases de dados nacionais de emissões do mundo.
De acordo com o estudo, Minas é responsável por 7,4% das emissões totais do País e apenas não perdeu no ano passado para os estados do Pará (13,6%) e Mato Grosso (13%) que apareceram como os principais emissores, e do Maranhão (7,6%). São Paulo veio em quinto lugar ao emitir 6,7% do total dos gases do País.
Apesar do desmatamento e a atividade pecuária serem uma das principais fontes de emissão de gases de efeito estufa no Brasil, em Minas Gerais o que predominam as emissões, conforme o estudo, é o setor de energia (especialmente o transporte) e também o gado de leite.
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A bióloga, engenheira ambiental e professora do Centro Universitário Una, Fernanda Raggi, explica que são justamente os gases emitidos nesses dois setores que são os principais gases causadores do efeito estufa: o dióxido de carbono (CO₂) e o metano (CH₄).
O CO₂ é o principal, chegando a perdurar na atmosfera por até 1.000 anos. Já o metano, segundo maior responsável pelo efeito estufa, dura por dez anos. Ambos se caracterizam por reter calor, contribuindo, dessa forma, para o aquecimento global e as mudanças climáticas.
De acordo com Fernanda Raggi, a queima de combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo e gás natural) libera gases de efeito estufa por serem compostos por carbono, hidrogênio ou enxofre. Ao utilizá-los nos transportes, por exemplo, eles liberam energia térmica e gases poluentes no processo de combustão.
E o número de veículos no Estado só tem aumentado. Dados da frota que circula hoje pelas ruas de Minas Gerais, segundo a Coordenadoria Estadual de Gestão do Trânsito (CET), apontam um total de 12,4 milhões de veículos no Estado, quase 725 mil a mais que os 11,7 milhões registrados em 2020. “O trânsito dos grandes centros urbanos do Estado têm piorado e o número de veículos também”, afirma Fernanda Raggi.
Quando analisadas as emissões pelo setor agropecuário, outro segmento que contribuiu com as emissões no Estado, em 2023, o estudo mostra que as emissões nesse setor foram novamente, e pelo quarto ano seguido, as mais altas da série histórica no País, superando o recorde do ano anterior, com o total de 631,2 milhões de toneladas de CO₂.
“Trata-se de um aumento de 2,2% em relação a 2022 (617,8 milhões de toneladas)”, mostra o relatório. Desde 1970 (quando o setor emitiu 211,4 milhões de toneladas de CO₂, as emissões da agropecuária praticamente triplicaram no País.
A principal causa do aumento nas emissões no setor foi, assim como em 2022, o crescimento do rebanho bovino. No setor de agropecuária são contabilizadas as emissões provenientes da fermentação entérica (o popular “arroto” do boi), nome dado à digestão de celulose no estômago de animais ruminantes, que emite metano.
Nesse caso, dados da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) mostram que o rebanho de gado (leite e corte) em Minas Gerais é o quarto maior do País, com cerca de 23 milhões de cabeças.
Ainda de acordo com o estudo do Observatório do Clima, quando analisados as emissões por estado no setor agropecuário, as emissões de Minas Gerais somaram 59,8 milhões de toneladas de CO₂ (MtCO₂) no ano passado, ficando atrás apenas do Mato Grosso (92,4 MtCO₂) e de Goiás (61,8 MtCO₂). Juntos, os três estados respondem por 34% das emissões nacionais da agropecuária.
Desmatamento pode contribuir negativamente com emissões
Como mostram os dados do relatório, as emissões brutas de gases de efeito estufa registraram a maior queda em 15 anos. Foram 12% a menos nas emissões de gases estufa (2,3 bilhões de toneladas) em 2023 no Brasil em relação a 2022, quando o País emitiu 2,6 bilhões de toneladas.
A redução foi puxada pela queda de 24% nas emissões por desmatamento, na esteira da retomada, pelo governo atual, das políticas de comando e controle da devastação na Amazônia, conforme informações do relatório.
Só na floresta tropical, a redução das emissões por desmatamento foi de 37%, de 1,074 bilhão de toneladas de CO₂ para 687 milhões de toneladas. Entretanto, com exceção da Amazônia e do Pampa (queda de 15%), todos os outros biomas tiveram alta expressiva nas emissões por desmatamento: no Cerrado elas aumentaram 23%, na Caatinga, 11%, na Mata Atlântica, 4%, e no Pantanal, 86%, maior alta percentual.
A professora da Una chama atenção neste ponto porque o Cerrado é o maior bioma de Minas Gerais. “Apesar de Minas ser um dos estados que têm maior preservação de vegetação, o nosso desmatamento aumentou, o que faz com que mais emissões de CO₂ aconteça”, reflete.
Ela explica que a vegetação absorve parte do gás carbônico disponível na atmosfera, sem ela, aumenta a disponibilidade desse gás na atmosfera. “Havendo um aumento do desmatamento, esse gás carbônico que antes circulava nos círculos geoquímicos da vegetação, passam a ficar disponíveis na atmosfera”.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) de Minas Gerais não se manifestou.
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