Economia

Minas Gerais registra o menor saldo de empregos com carteira assinada do ano

A principal influência negativa para o desempenho veio da agropecuária, que encerrou 9.972 postos de trabalho no período
Atualizado em 29 de setembro de 2025 • 21:05
Minas Gerais registra o menor saldo de empregos com carteira assinada do ano
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em agosto deste ano, foram criadas 1.214 vagas de emprego com carteira assinada em Minas Gerais, fruto de 233.144 admissões e 231.930 demissões. O saldo, apesar de positivo, foi o menor de 2025 e o pior para o mês desde 2020, quando teve início a nova série histórica do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

A principal influência negativa para o desempenho veio da agropecuária, que encerrou 9.972 postos de trabalho no período. Entre as atividades do setor, a de cultivo de café registrou o maior déficit de empregos (-8.127).

Com o fechamento de 844 vagas, o setor de construção também contribuiu negativamente. Nesse caso, o pior saldo entre as atividades da área foi de obras de infraestrutura para energia elétrica, telecomunicações, água, esgoto e transporte por dutos (-399).

Segundo o economista do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) Adriano Miglio Porto o resultado da agropecuária era esperado em razão do término da safra cafeeira. “Tem muitos postos temporários nessa atividade e, agora, com o final da colheita essas vagas se encerram”, ressalta. Por outro lado, o do setor construtivo surpreendeu, porque a área vinha resiliente, e, de acordo com ele, tem relação com os juros altos.

Ainda conforme os dados divulgados nesta segunda-feira (29) pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), os outros três grandes grupos econômicos criaram empregos e colaboraram para que a performance do Estado, no geral, fosse positiva. O setor de serviços abriu 7.455 postos de trabalho, o comércio (3.335) e a indústria (1.246).

Selic elevada e inflação alta impactam na desaceleração do mercado de trabalho

O saldo mensal de empregos em Minas Gerais vem recuando desde junho. Para o mestre em administração e professor da Newton Paiva Wyden, Franz Petrucelli, a desaceleração do mercado de trabalho mineiro está relacionada a alguns fatores, como a Selic e a inflação.

O docente explica que a taxa de juros em patamar elevado desestimula investimentos e reduz o consumo. Já o indicador inflacionário em nível alto diminui o poder de compra da população, que passa a consumir menos e, por consequência, as empresas reduzem produção e aportes, levando a menos oportunidades de emprego e demissões.

Saldo acumulado de 2025 é inferior ao de 2024

De acordo com o Caged, no acumulado desde janeiro, Minas Gerais gerou 152.968 vagas de emprego formal. O saldo teve uma contribuição positiva dos cinco setores:

  • Serviços: 64.502 postos de trabalho
  • Indústria: 30.035 postos de trabalho
  • Agropecuária: 27.519 postos de trabalho
  • Construção: 19.810 postos de trabalho
  • Comércio: 11.116 postos de trabalho

Novamente, apesar do superávit, o mercado de trabalho desacelerou no Estado. O desempenho caiu na comparação com o mesmo recorte nos últimos dois anos. Especificamente no confronto com 2024, houve baixa de 19,3%.

Para o economista do BDMG, a performance já era aguardada. Conforme Porto, não se espera o mesmo dinamismo do primeiro semestre, quando a agropecuária se destacou, na segunda metade do ano. Já o professor da Newton Paiva Wyden ressalta que, além dos efeitos dos juros e inflação, alguns segmentos estão com dificuldades para encontrar mão de obra qualificada e, consequentemente, adiam as contratações.

De acordo com Petrucelli, a perspectiva é o mercado de trabalho volte a aquecer até dezembro, elevando as admissões e o superávit de empregos. A expectativa decorre do pagamento do 13º salário e das festas de fim de ano, que movimentam a economia.

Metalurgia fecha 298 vagas em Minas Gerais

Embora a indústria mineira tenha registrado superávit de empregos em agosto, puxado, sobretudo, pela atividade de fabricação de veículos, reboques e carrocerias (448 vagas), a metalurgia encerrou 246 postos de trabalho. O desempenho do segmento chama atenção pelo fato dele ser um dos impactados pelo “tarifaço” dos Estados Unidos (EUA).

Entre as atividades da área metalúrgica, a de fundição de ferro e aço encerrou 138 vagas. O presidente do Sindicato da Indústria de Fundição no Estado de Minas Gerais (Sifumg), Bráulio Campos, afirma que o saldo negativo no mês teve pouca influência da medida norte-americana. De acordo com ele, foi devido a um conjunto de fatores que inclui, além dos impactos diretos e indiretos da tarifa, os juros elevados e o baixo consumo.

Conforme o executivo, os clientes das fundições mineiras, dos segmentos automotivo e de máquinas e equipamentos, estão trabalhando com uma capacidade bastante reduzida, “praticamente parados”, e não há previsão de aumento de demanda. “O tarifaço influenciou pouco, mas juntando com os juros altos e a baixa demanda, o mercado caiu muito”, diz.

Outra atividade que fechou várias vagas foi a de produção de ferro-gusa (-141). Também não se sabe o que motivou a performance, no entanto, as produtoras do insumo siderúrgico vinham sofrendo com a possibilidade de serem sobretaxadas e chegaram até mesmo a paralisar operações, antes de serem incluídas na lista de isenções ao tarifaço. Procurado, o Sindicato da Indústria do Ferro no Estado de Minas Gerais (Sindifer) não respondeu.

Nesta segunda-feira, em coletiva para apresentação dos dados do Caged, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho (PT), afirmou que a medida dos EUA já pode estar refletindo no mercado de trabalho brasileiro. Ele ressaltou que a taxa de juros continua sendo o principal entrave para que mais empregos sejam gerados, mas enfatizou que alguns segmentos específicos, que enviam produtos para o país, podem estar sofrendo impactos.

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