Minas Gerais bate recorde no comércio internacional

O comércio internacional de Minas Gerais vive um crescimento recorde, considerando-se a série histórica dos últimos 11 anos. Nas vendas externas, os principais produtos exportados pelo Estado se concentram nos setores do agronegócio e da indústria de transformação, com exceção do minério de ferro, que integra a indústria extrativa e é o principal produto exportado pelo mercado mineiro.
Celebrado hoje, o Dia do Comércio Exterior é a data que marca os 215 anos em que o Brasil iniciou a abertura dos portos, pelo então governante da época, Dom João VI. Atualmente, Minas Gerais é o terceiro principal Estado brasileiro exportador e as transações internacionais representam 11,9% de todo o volume exportado pelo País. Já no âmbito das importações, o Estado é o quinto no ranking brasileiro, cuja participação em 2022 representou 6,4%.
Para a secretária de Estado Adjunta de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Sede), Kathleen Garcia, nos últimos anos, as relações comerciais de Minas com o mercado internacional estimularam incrementos significativos. Segundo ela, essas relações posicionam Minas como um Estado atrativo no cenário internacional. “Estamos em uma crescente constante”, avalia.
Segundo a secretária-adjunta, o excelente desempenho com relação às exportações é reflexo de uma “expectativa de comércio que diversifica a sua oferta e suas compras”.
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Uma das apostas do governo mineiro é a prospecção de novos negócios. Kathleen Garcia avalia que o Estado tem desempenhado um importante papel para criar mais conexões internacionais. “Temos trabalhado enfaticamente para a promoção dos produtos e setores mineiros junto a novos mercados potenciais. Estamos levando as potencialidades de Minas Gerais ao conhecimento de todo o mundo. A premissa é a geração de emprego e renda de qualidade para os cidadãos mineiros”, diz.
Aposta – A marketplace de fretes Talura é um exemplo de empresa que decidiu atuar no cenário internacional em 2021, atendendo empresas mineiras, principalmente do mercado cafeeiro. CEO da companhia, Arthur Lee confirma que Minas tem apostado fortemente nos últimos anos em vendas externas.
“Isto é fruto de uma série de iniciativas governamentais que fomentam investimentos no Estado. Elas ocorrem por meio da Agência de Promoção de Investimentos e Comércio Exterior de Minas Gerais (Invest Minas) e nosso Estado já atraiu mais de R$ 270 bilhões em investimentos desde 2019. Vemos com bons olhos o ambiente de negócios mineiro”, considera.
Para 2023, o empresário tem a expectativa de que os valores dos fretes marítimos devam despencar para níveis pré-pandemia. “Acredito que as operações de diversos embarcadores devam voltar à normalidade, mas ainda vemos uma oscilação considerável nos valores dos fretes marítimos”, considera o fundador da Talura, avaliando que atualmente um dos principais desafios é a falta de eficiência nos processos internos.
“O comércio exterior ainda é um tanto ‘manual’, com uso intenso de e-mails, ligações e mensagens para negociação de fretes internacionais. Sendo já existente, o mercado de soluções tecnológicas auxilia empresas a terem mais agilidade e melhores custos com isto. Outro ponto é ainda a existência de muita burocracia e um ambiente fiscal complexo, o que acarreta mais custos internos para as empresas e também para a eficiência operacional”, aponta.
Segundo o governo de Minas Gerais, atualmente o Estado tem relacionamento com 198 mercados para fins de exportação. A China lidera a fatia de 36% das exportações mineiras, seguida dos Estados Unidos com 10,2% e a Argentina com 4,6%. A Alemanha aparece 4,5%, e Países Baixos com 3,7%. No âmbito das importações em 2022, os mercados que se destacaram foram a China com 29%; Estados Unidos com 13; Argentina com 6,8%, Rússia com 5,1% e a Itália com 3,8%.
Balanço – Em 2022, as vendas externas realizadas por Minas Gerais tiveram um incremento de 4,4%, com uma receita de US$ 1,6 bilhão em negócios fechados. O resultado é um comparativo com o ano de 2021, apurado pela plataforma Comex Stat, do Ministério da Economia.
Embora o resultado tenha sido positivo em 2022, o crescimento foi considerado “tímido”, tendo em vista que, em 2021, as exportações haviam subido 46% frente a 2020. O saldo de 2022 é um resultado da queda de participação e posição nas exportações nacionais, que foi de 13,7% para 12%, e da segunda para a terceira posição. Já a segunda posição, anteriormente ocupada por Minas, foi assumida pelo Estado do Rio de Janeiro que, ao contrário, foi beneficiado pela valorização do petróleo.
Em 2022, o resultado das importações realizadas por Minas foi bem maior que as exportações. No ano passado, as importações registaram um crescimento de 34,5% no comparativo com o ano anterior. Em valores brutos, o incremento registrado em 2022 foi de US$ 4,5 bilhões frente a 2021.
Cenário global – A coordenadora de Análise Insumo-Produto da Diretoria de Estatística e Informações (Direi), da Fundação João Pinheiro (FJP), Maria Aparecida Sales, aponta que este crescimento tímido de 2022 tem relação com vários fatores globais. “Em 2021, após a pandemia, a recuperação da economia mundial e dos preços de algumas commodities, especialmente, o minério de ferro, favoreceram as exportações de Minas Gerais, que tiveram um forte crescimento. Porém, em 2022, a desaceleração da economia mundial se refletiu no arrefecimento das exportações de Minas Gerais”, comenta.
E continua: “As principais questões que envolvem esse arrefecimento estão relacionadas às restrições comerciais provocadas pelos períodos de confinamento adotados pela China. O país é o principal comprador de minério de ferro de Minas Gerais. Outro fator fortemente impactado no Estado foi a guerra entre Rússia e Ucrânia, provocando a aceleração do preço do barril de petróleo e dos fertilizantes”. Ainda segundo ela, esses insumos “elevaram os preços das importações e os custos agrícolas associados”.
Desafio para Minas – Maria Sales ressalta que as exportações de Minas Gerais evidenciam, atualmente, o predomínio das vendas externas de minério de ferro, café e insumos siderúrgicos. Mas ainda há outros produtos exportados como a soja, o ouro e o açúcar, que recentemente, têm se alternado entre a quarta e a sexta posição.
Ela aponta que as negociações com o mercado externo estão em patamares tecnológicos consideravelmente baixos. Por outro lado, a pesquisadora identifica que há uma dependência de importações de produtos mais sofisticados. “Os produtos de alta e também de média alta intensidade tecnológica responderam por apenas 8,4% do total estadual exportado em 2022. Em contrapartida, os de baixa e média baixa tecnologia corresponderam a mais de 70%. O nosso desafio é aumentar a diversificação e a complexidade tecnológica da pauta exportadora. Com isso, precisaremos de estímulos à produção e comercialização de bens de maior conteúdo tecnológico que podem gerar transbordamentos em pesquisas, valor adicionado e emprego qualificado”, sugere.
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