Demanda de países emergentes favorece Minas no cenário global

A demanda dos países emergentes deve impulsionar a economia de Minas Gerais nos próximos anos, passada a incerteza da guerra comercial deflagrada com o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aponta o economista e ex-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o banco dos Brics, Marcos Troyjo.
Ele aponta que o crescimento de países como Índia, Indonésia e China, principalmente em infraestrutura, deve manter aquecida a demanda de dois dos principais vetores da economia mineira: o minério de ferro e o aço, setores de investimentos de longo prazo e que foram bastante afetados pela política comercial protecionista do presidente norte-americano.
Em seu mais recente relatório de perspectivas econômicas globais, o Banco Mundial afirmou que o aumento das tensões comerciais e da incerteza política deve levar o crescimento global, neste ano ao ritmo mais lento de crescimento desde 2008 – ano da Crise do Subprime, considerada a maior recessão econômica desde a Grande Depressão de 1929.
A instituição revisou para baixo as previsões de crescimento econômico em cerca de 60% dos países emergentes, com uma média de 3,8% para 2025 e de 3,9% no próximo biênio, resultado mais de um ponto percentual inferior à média da década de 2010. O Banco Mundial destacou que, exceto a Ásia, o mundo em desenvolvimento tem se tornado uma “zona sem desenvolvimento”.
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Em entrevista exclusiva ao Diário do Comércio, durante a 44ª Convenção Nacional e Anual do Canal Indireto, realizada pela Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad), em Atibaia (SP), Troyjo destacou como exemplo o crescimento dos países asiáticos, principalmente da Índia, que deverá dobrar seu número de ferrovias, aeroportos e residências urbanas nos próximos dez anos.
“Uma vez que esteja dissipada minimamente essa nebulosidade da política comercial dos Estados Unidos, essas outras coisas mais estruturais, por exemplo, expansão da infraestrutura em países como Índia, Indonésia, vão acabar puxando um pouco a demanda para cima e vai compensar não apenas esse período de nebulosidade da política comercial dos Estados Unidos, mas também pelos anos de 2024, 2025, que foram muito ruins na China”, disse.
O ex-presidente do NDB ressaltou que ainda há muito a ser construído na infraestrutura da própria China, que, segundo ele, tem conseguido contornar de forma “impressionante” a desaceleração econômica que sofreu nos últimos anos. “Dissipada essas nuvens da política comercial dos Estados Unidos, aquilo que é estrutural da demanda global por bens, em que Minas tem vantagens comparativas, vai continuar forte”, declarou.
Investimento em infraestrutura será determinante para Minas Gerais
O investimento em infraestrutura, inclusive, deverá ser determinante para o crescimento econômico de Minas Gerais e do Brasil, avaliou Troyjo. A ex-liderança do Banco dos Brics afirma que uma das lições da histórica econômica é que o investimento em infraestrutura é um “multiplicador de crescimento econômico”.
Segundo mapeamento do governo mineiro, divulgado no Plano Estadual de Logística e Transportes de Minas Gerais (Pelt-MG), o Estado receberá aportes de R$ 513 bilhões na infraestrutura nos próximos cinco anos, entre investimentos privados e públicos, dos governos estadual e federal. No longo prazo – até 2056 – o investimento total estimado é de R$ 995 bilhões, montante que deve aumentar com a realização de mais leilões do setor.
“Não há nenhum milagre econômico nos últimos 30 anos na Coreia, na China, no Chile, na Espanha, que não tenha sido acompanhada por uma alocação importante de investimento infraestrutural”, explica Troyjo. “O que tem de positivo no Brasil sobre isso? Essa maior percepção de insegurança alimentar, energética e a necessidade de uma economia mais verde no mundo. Para todos esses quesitos, o Brasil é um ator fundamental”, completou.
A preocupação do economista é com o “dilema” entre o tempo da política e o da economia, visto não apenas no Brasil, mas em todo mundo. Troyjo argumentou que os aportes em infraestrutura geram benefícios em um período fora dos ciclos eleitorais, o que possibilita que lideranças políticas, com boa administração econômica e atração de investimentos, corram o risco de perder os postos para gestores com visões mais voltadas ao curto prazo.
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