Economia

Minas Gerais registra déficit no comércio com os Estados Unidos pela primeira vez desde 2018

Em agosto, as exportações somaram US$ 213,9 milhões, enquanto as importações alcançaram US$ 235,3 milhões
Minas Gerais registra déficit no comércio com os Estados Unidos pela primeira vez desde 2018
Foto: Diego Baravalli /Minfra

No dia 6 de agosto, entrou em vigor a medida do governo norte-americano contra o Brasil, que elevou de 10% para 50% a tarifa de importação de uma série de produtos, incluindo itens estratégicos para a economia mineira. Como reflexo, Minas Gerais registrou, no mês, o primeiro déficit no comércio bilateral com os Estados Unidos (EUA) em sete anos.

Conforme levantamento do Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), as exportações somaram US$ 213,9 milhões no período, enquanto as importações alcançaram US$ 235,3 milhões. Ou seja, a balança comercial ficou negativa em US$ 21,4 milhões, algo que não ocorria desde julho de 2018.

“Apesar de o valor não ser tão alto, é um resultado importante, considerando que sempre fomos bastante superavitários em relação a eles”, afirma a coordenadora de Facilitação de Negócios Internacionais da entidade, Verônica Winter. Ela ressalta que Minas, tradicionalmente, vende mais para os Estados Unidos do que compra, ao contrário do Brasil, cuja relação comercial com os norte-americanos costuma ser deficitária.

Sob os impactos do tarifaço, os embarques de Minas Gerais para os EUA caíram 50,5% frente a julho, ao passo que os desembarques aumentaram 15,4%. Entre os principais produtos mineiros exportados para o país, o café e o ferro-gusa registraram redução nas vendas, embora apenas o primeiro tenha sido sobretaxado em 50%, visto que o segundo está sujeito a tarifa de 10%, por constar na lista de exceções publicada pela Casa Branca.

No caso da commodity agrícola, disparado o principal item da pauta, as exportações diminuíram 17%. De acordo com Verônica Winter, a queda poderia ter sido ainda maior não fossem outros fatores, como os movimentos de valorização do produto.

Quanto ao insumo siderúrgico, a baixa foi de 73,6%. Ela diz que o resultado possivelmente reflete uma antecipação de embarques, já que os produtores não sabiam que ficariam livres da tarifa adicional de 40% e tentaram adiantar as remessas antes da medida vigorar.

Exportações de equipamentos elétricos é ponto fora da curva

Apesar da retração generalizada, a Fiemg destaca no estudo um ponto fora da curva. O fato foi que as vendas de transformadores, conversores estáticos e bobinas de reatância ou indução subiram 316,19% em agosto no confronto com julho, ainda que o setor de equipamentos elétricos seja um dos mais afetados pelo tarifaço.

A coordenadora da entidade explica que o avanço das exportações desses produtos também está relacionado à antecipação de embarques. Conforme ela, as empresas provavelmente aproveitaram que as mercadorias embarcadas antes de 6 de agosto e desembarcadas nos EUA até 5 de outubro seriam taxadas em 10%, e não pela tarifa majorada de 50%.

Impactos tendem a se aprofundar, mas futuro é incerto

A Fiemg projeta que os impactos do tarifaço tendem a se aprofundar nos próximos meses, à medida que a nova tarifa alcance toda a pauta exportadora mineira. Verônica Winter ressalta, entretanto, que é difícil prever se o comércio bilateral com os Estados Unidos continuará deficitário para Minas Gerais ou se voltará a ser superavitário.

“Temos um percentual relevante da pauta que ainda está sobretaxada em 50%, principalmente por causa do café. Então, é provável que a gente tenha uma redução dos embarques para lá. Talvez, o próprio café, que tem mais facilidade de diversificar mercado, procure clientes em outros países para negociar”, analisa a coordenadora.

“Mas é complicado afirmar, até porque tanto o café quanto outros produtos ainda podem entrar na lista de exceções da nova tarifa”, ressalta, enfatizando que a evolução disso dependerá de uma negociação entre o governo brasileiro e norte-americano.

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