Minas Gerais perde US$ 236 milhões com tarifaço em setembro, o maior impacto no País
Um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), aponta que Minas Gerais obteve a maior perda – em termos monetários – entre os estados brasileiros, com o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump. O Estado registrou uma perda de US$ 236 milhões em setembro, montante consideravelmente maior do que o segundo lugar neste quesito, Santa Catarina, com US$ 95,9 milhões.
Setembro é considerado mais equilibrado para analisar o impacto da sobretaxa trumpista do que agosto, que ainda sofreu uma “ressaca” com resquícios de antecipação de pedidos dos meses anteriores, pontua o economista e pesquisador do Ibre/FGV, Flávio Ataliba. Ele afirma que alta concentração da pauta exportadora e a dificuldade de encontrar novos mercados colaboraram para que o resultado no Estado fosse mais negativo do que em outros estados.
O estudo da FGV é organizado em três partes. Uma delas leva em consideração uma visão agregada dos efeitos nos embarques para a maior economia do mundo; outra sobre o papel de um “colchão” para amortecer o impacto do tarifaço, formado pela exportação de produtos isentos; e, por fim, o comportamento das exportações dos produtos que não foram isentos pelas mais recentes tarifas trumpistas, chamado de “núcleo de choque”.
Há estados com quedas expressivas nas exportações para os Estados Unidos em termos de porcentagens, mas que não representaram quedas tão expressivas em valores monetários. Há outros estados em que acontece o inverso. Com queda de 50,5% nas exportações para a superpotência norte-americana, Minas Gerais está longe do topo das quedas percentuais, que reúne estados com reduções acima de 60%, mas se destaca com distância na perda monetária.
Assim, o estudo da FGV identifica quem mais perdeu em porcentagem e em valores monetários, quem conseguiu amortizar a queda nas exportações para os EUA com os embarques de produtos isentos ao tarifaço, e quem conseguiu reagir com redirecionamento de exportações – inclusive as sobretaxadas – para novos mercados.
Ataliba explica que a pauta exportadora de Minas Gerais para os Estados Unidos é extremamente concentrada em três produtos, o café, produto incluído no tarifaço, o ferro fundido e o ferronióbio. Os dois últimos não foram incluídos na nova sobretaxa, mas no caso do ferro fundido há um adendo importante: o insumo já havia sido sobretaxado pesadamente antes, em uma outra leva de tarifas de Trump.
Isso fez com que o produto entrasse no estudo da FGV como isento ao tarifaço, explica Ataliba, já que a análise é focada na medida mais recente do mandatário norte-americano. Assim, o Estado “perdeu” a possibilidade de amortizar o impacto com a exportação de produtos isentos, ou seja, no caso de Minas Gerais, até o produto isento ao tarifaço não é necessariamente isento.
“O problema de Minas Gerais é que se concentrou em dois produtos e esses dois produtos, anteriormente um já tinha sido taxado e o outro foi taxado depois, aí foi uma pancada grande”, explica. “Se olhar, por exemplo, o Ceará, os isentos acabaram ajudando os não isentos. Goiás também. Tem estados que inverteu a pauta”, completou.
Tarifaço mostra necessidade de Minas diversificar exportações
Até mesmo São Paulo, estado que conta com uma economia bastante afetada pelo tarifaço como Minas Gerais, conseguiu amenizar o impacto nas exportações para os Estados Unidos e obteve uma perda monetária inferior a US$ 100 milhões. No caso paulista, o tamanho da escala e o crescimento dos embarques dos produtos isentos ao tarifaço foram decisivos para amortecer as quedas nas exportações para os produtos não isentos.
Além disso, é possível que as empresas paulistas tenham obtido mais sucesso na busca de novos mercados para os produtos não isentos do que os empreendedores mineiros, que, com produções muito focadas no mercado norte-americano, enfrentam dificuldades para encontrar mercados alternativos.
No caso de Minas Gerais, por exemplo, em que até a exportação de produtos isentos caiu, a queda dobrou no agregado. “Isso de alguma forma sinaliza a importância de um estado importante e rico, como é Minas Gerais, de diversificar a sua pauta. Porque quando fica muito concentrado, em alguns poucos produtos e alguns poucos destinos, tem esse risco, de um de um choque como esse que aconteceu, do tarifaço, ter um impacto bem significativo no Estado”, analisa Ataliba.
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