Economia

Minas Gerais tem potencial para liderar a oferta de minerais críticos

Especialistas alertam para a necessidade de ampliar a discussão sobre a exploração
Minas Gerais tem potencial para liderar a oferta de minerais críticos
Crédito: Fabricio Guedes / AMG

Atualmente, o mundo passa por um processo de transição energética na tentativa de reverter o quadro de emergência climática. Essa transformação está acelerando os investimentos globais na exploração de jazidas de minerais críticos. Com uma janela de oportunidade à vista, o Brasil precisa expandir a oferta desses materiais e Minas Gerais tem um imenso potencial para liderá-la.

Dados da Agência Internacional de Energia (AIE) apontam que o mercado global de minerais críticos quase quadruplicará até 2030, saltando de US$ 320 bilhões, em 2022, para US$ 1 trilhão. A organização projeta que, até 2040, a demanda por lítio, por exemplo, crescerá em mais de 40 vezes, e a procura por níquel, cobalto e grafite será entre 20 e 25 vezes superior a atual.

O diretor de Sustentabilidade e Assuntos Regulatórios do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Julio Nery, explica que em razão da transição energética, existe uma disposição mundial em buscar novas fontes de suprimento. Logo, as nações que melhor se posicionarem poderão se beneficiar da ocasião. Por isso, é necessário haver mais debates no Brasil sobre o tema.

Diretor de Sustentabilidade e Assuntos Regulatórios do Ibram, Julio Nery | Crédito: Glenio Campregher

Conforme ele, a Europa, Estados Unidos, China, Austrália e Canadá já estão se posicionando fortemente nesta agenda, enquanto no Brasil, ainda falta uma harmonização entre as políticas públicas existentes. Nery ressalta que o País não pode deixar passar a chance de ingressar nessa diversificação de fontes, fornecendo os concentrados dos minerais, mas também desenvolvendo empresas para avançar na cadeia de produção, com a fabricação de itens de maior valor agregado.

Oportunidade para os mineiros

Repleto de riquezas minerais, como o próprio nome sublinha, Minas Gerais tem, assim, uma enorme oportunidade pelo caminho, inclusive, de ocupar a liderança global de certos materiais.

O secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Fernando Passalio, destaca que Minas Gerais tem potencial para formar hubs de minerais estratégicos. De acordo com ele, além do lítio, substância a qual a região detém as maiores reservas nacionais e que já vem sendo o foco da atração de investimentos de grandes players multinacionais, os demais minerais que podem ser explorados são: silício, elementos de terras-raras (ETRs), grafite, manganês, potássio e fosfato.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, também realça a capacidade mineira. “Temos quase todos os minerais críticos no nosso território e minerais com características de fácil exploração e de baixo impacto ambiental comparado com outros locais. Então, Minas Gerais pode, sim, liderar essa demanda mundial”, enfatizou.

Presidente da Fiemg, Flávio Roscoe | Crédito: João Paulo Prais

Roscoe pondera que as substâncias que estão sendo mais exploradas em Minas Gerais, hoje, são o lítio e nióbio. Esse último, o executivo destaca que os mineiros já são líderes mundiais, ao passo que está em quinto lugar na produção do primeiro e deve chegar em terceiro no máximo em três anos. Ele ainda ressalta que os projetos de terras-raras estão começando e o Estado terá condições de ser líder global ao lado da China – que produz mais de 95% de terras-raras do mundo.

Justamente sobre as ETRs, Julio Nery, diz que a Europa não quer que um único país mantenha mais do que 65% da produção, o que abre brecha para o mercado brasileiro e mineiro.

Corrida por licenciamentos no Estado

O sócio da Alger Consultoria Socioambiental, Germano Vieira, que realiza, dentre outros, trabalhos relacionados a regularização ambiental de empreendimentos minerários, afirma que existe, desde os últimos quatro anos, uma intensa corrida por licenciamentos de projetos de minerais críticos em Minas Gerais. O executivo enfatiza que isso traz uma comprovação da existência de uma demanda global por essas novas fontes em virtude da transformação energética.

Ele salienta que há grandes operações de lítio em andamento no Vale do Jequitinhonha, como a Sigma Lithium e a Companhia Brasileira de Lítio (CBL), e outros que estarão em breve operando, como a Latin Resources, com previsão de receber a licença ambiental ainda em 2024. Em terras-raras, Vieira realça que o projeto da Meteoric Resources, na região Sul do Estado, com previsão de iniciar a produção em 2027, será a próxima e a maior mina de ETRs do mundo.

O diretor-executivo da Meteoric, Marcelo de Carvalho, diz que Poços de Caldas, Caldas e outras regiões mineiras, têm os melhores depósitos de terras-raras do mundo em termos de teores e recuperação metalúrgica, e serão os maiores em toneladas produzidas. Com a qualidade das jazidas e a velocidade em que os projetos estão sendo desenvolvidos, ele acredita que o Estado tem capacidade de se tornar líder mundial em ETRs em um curto espaço de tempo.

Expansão dos projetos de minerais críticos enfrenta desafios

Toda oportunidade traz desafios e a do Brasil e Minas Gerais aproveitarem a demanda global por minerais críticos não seria diferente. O diretor de Sustentabilidade e Assuntos Regulatórios do Ibram elenca os principais: ter uma boa infraestrutura, disponibilidade de energia, profissionais qualificados e centros de tecnologia e pesquisa, e segurança jurídica e tributária.

Julio Nery explica que as estradas precisam estar em condições de escoar a produção; que para avançar na cadeia é necessário dispor de muita energia, seja elétrica ou gás natural; que é preciso formar trabalhadores e ter locais para realizar pesquisas para aproveitamento dos minerais; e que a segurança jurídica e tributária é essencial para que os investimentos sejam mantidos e novos aportes sejam alcançados. “Os desafios são os mesmos que toda a mineração enfrenta”, pondera.

Para o presidente da Fiemg, o maior obstáculo segue sendo a demora nos licenciamentos. Na avaliação de Flávio Roscoe, os processos deveriam ser mais ágeis, visto que os minerais críticos são imprescindíveis para a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e para a transição energética, e tem uma exploração relativamente simples comparado a outros materiais.

Sócio da Alger Consultoria Socioambiental, Germano Vieira | Crédito: Eduardo Rocha

Já o sócio da Alger Consultoria Socioambiental observa que os investidores estão de olho não somente em aspectos econômicos, mas também na pegada socioambiental dos novos empreendimentos. Conforme Germano Vieira, os projetos que não têm essa vertente, enfrentam mais dificuldades para se integrar na avalanche de financiamentos que está ocorrendo no exterior.

“O mundo hoje tem um grande holofote virado para o Brasil e mais ainda para Minas Gerais, que tem uma enorme oportunidade de mostrar que essa mineração com uma pegada mais sustentável, é uma forma de enriquecer o Estado de uma forma diferente, menos predatória, e que a sociedade consiga, através da mineração, sentir uma transformação socioambiental mais verdadeira”, disse.

Iniciativas do setor mineral e do governo estadual em prol dos minerais críticos

O Instituto Brasileiro de Mineração está engajado na pauta da expansão da oferta brasileira de minerais críticos. No início deste mês, durante o Seminário Internacional de Minerais Críticos e Estratégicos, em Brasília, o Ibram apresentou um documento com sugestões do empresariado e de especialistas para que o País possa traçar uma política nacional de minerais críticos e estratégicos.

Além disso, segundo Julio Nery, a entidade tem previsão de abrir uma reunião no Congresso Nacional, para apresentar à Comissão de Transição Energética e à Frente Parlamentar de Mineração Sustentável as propostas. A ideia é levar o documento, que está sendo elaborado com o Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), para os congressistas, buscando o aprimoramento do quadro nacional para o incentivo e a produção dos minerais críticos.

O governo de Minas Gerais também segue ativamente engajado em eventos que abordam o tema, visando fortalecer a presença mineira. Um exemplo disso, conforme o secretário de Desenvolvimento Econômico, é o Brazil Lithium Summit, encontro internacional que ocorrerá em Belo Horizonte, no qual o Estado atuará como endossador, com o objetivo de atrair mais investidores para o setor de mineração, promover networking e debates enriquecedores.

Além disso, Fernando Passalio salienta que a Agência de Promoção de Investimento e Comércio Exterior de Minas Gerais (Invest Minas) lançou, neste ano, um guia de minerais estratégicos. O objetivo é facilitar a compreensão de investidores estrangeiros sobre as oportunidades no Estado.

Secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Fernando Passalio | Crédito: Sede-MG

O documento, de acordo com ele, reúne elementos capazes de impulsionar a transição energética, como terras-raras, lítio, silício, grafite, entre outros. Traz ainda os agrominerais, nos quais o Brasil tem grande dependência de importação, mas que representam uma oportunidade a ser explorada em Minas Gerais, como fosfato e potássio, fundamentais à segurança alimentar.

O guia também aborda o ambiente de negócios no Estado e todo o ecossistema que proporciona um ambiente favorável para atender às demandas dos investidores. Neste sentido, o secretário destaca que “o governo de Minas tem trabalhado insistentemente para melhorar o ambiente de negócios no Estado”, com iniciativas que visam desburocratizar processos e a elaboração de políticas públicas desenvolvimentistas que auxiliam na atração de investimentos.

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