Minas lidera exportações das principais ‘oportunidades comerciais’ entre Brasil e China

O Mapa de Oportunidades da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil) de fevereiro identificou 400 oportunidades comerciais para ampliar as exportações brasileiras na China.
Dentre elas, destacam-se setores como café e siderurgia, nos quais Minas Gerais figura como principal exportador, com respectivamente, 86,8% e 64,8% do total embarcado em 2024.
No caso do café, o aumento do consumo pelo país asiático tem um componente cultural. O gosto pelo grão vem sendo introduzido pelos jovens, especialmente as mulheres. São pessoas que, muitas vezes, trazem o hábito de tomar café do exterior. Atualmente, estima-se que um quarto da população da China, ou seja, 330 milhões de pessoas, consome café, conforme dados do Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Prova disso foi o acordo assinado entre a ApexBrasil, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), com a rede de cafeterias chinesa Luckin Coffee para a compra de 240 mil toneladas do grão do Brasil entre 2025 e 2029 a um valor estimado de US$ 2,5 bilhões.
A Luckin Coffee é a principal importadora de café brasileiro no país asiático. Minas se destaca pela capacidade do Estado em atender demandas por alimentos em grande escala.
“Quando observamos as exportações nacionais para a China em 2024, vemos que Minas também foi o segundo maior nas vendas de minério de ferro (46,9% do total), de açúcares (18,2%), cobre (9,5%) e de produtos farmacêuticos (16,4%)”, enumera o pesquisador da Fundação João Pinheiro (FJP) Lúcio Barbosa.
Segundo ele, o Estado também foi o quarto maior exportador de celulose (10,5%), o quinto maior de carnes (9,5%) e o sexto de soja (7,6%).
Perspectivas para a soja
A analista de negócios internacionais da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Verônica Winter, lembra que praticamente todos os principais produtos da pauta exportadora de Minas para a China tiveram crescimento no ano passado e têm boas perspectivas para este ano.
“Faço até um parêntese em relação à soja. A expectativa é de variação ainda mais positiva para este ano, considerando a guerra comercial dos Estados Unidos com a China”, avalia.
Os Estados Unidos são os principais fornecedores de soja para o gigante asiático. “Se houver algum reflexo para a soja nessa questão tarifária dos Estados Unidos com a China, o Brasil pode ganhar esse mercado, pode ampliar essas exportações. Em relação aos demais produtos, a gente também tem expectativa de expansão, que é o que vem ocorrendo nos últimos anos”, aponta.
Verônica Winter lembra que a pauta de exportações mineiras está muito concentrada no minério de ferro, justamente porque é fortemente demandado pela China, um dos principais fornecedores de aço para o mundo.
Na visão da analista, o volume de minério de ferro exportado não deve cair, mas é importante diversificar. “Todo dia o cenário comercial mundial está mudando. Mas considerando o histórico, a soja e o minério de ferro devem ser destaques”, aponta.
Para Lucio Barbosa, a expectativa também é de expansão. “Supondo que a China cresça entre 4% e 5%, e não haja rupturas relevantes no fluxo comercial, essas exportações devem crescer moderadamente”, projeta.
Mais mercado para a carne de frango
Depois de fechar o ano de 2024 com 207,1 mil toneladas de carne de frango embarcadas, um crescimento de 8,7% frente a 2023, o setor de avicultura mineiro prevê uma nova expansão para 2025, de até 5%.
A projeção é ancorada pelo difícil momento enfrentado por grandes produtores mundiais e pela alta eficiência, nível sanitário e produtividade da avicultura nacional, em especial a mineira.
“Países grandes produtores de carne de frango e ovos vêm sofrendo com a influenza aviária em seus territórios, com prejuízos na produção. Isso faz com que a carne de frango brasileira, produzida em um ambiente controlado e com protocolos sanitários rígidos, se torne ainda mais atrativa. O Brasil tem se destacado pela sua capacidade de garantir uma produção segura e de alta qualidade, conquistando mercados que buscam estabilidade no fornecimento e confiança na segurança alimentar”, aponta o diretor Técnico da Avimig, Gustavo Fonseca.
Cenário do comércio bilateral
A China é o maior parceiro comercial do Brasil e se manteve como o principal destino das exportações brasileiras no ano passado, respondendo por 28% do valor total exportado e por 41,4% do superávit comercial do Brasil.
O cenário fez com que o Brasil se consolidasse como o maior fornecedor de soja, carne bovina, celulose, açúcar e carnes de aves para o mercado chinês. Commodities como soja (33,4%), petróleo bruto (21,2%) e minério de ferro (21,1%) representam 75,6% do total exportado.
A ApexBrasil identificou oportunidades comerciais para ampliar as exportações brasileiras para a China, incluindo produtos como aço, cobre, trigo, café, máquinas, equipamentos e medicamentos.
Com foco neste parceiro comercial, a ApexBrasil lançou o Perfil de Comércio e Investimentos China 2025. O estudo detalha a relação econômica e as oportunidades de negócios entre os dois países.
O levantamento também aponta que a China manteve sua posição como principal investidor asiático no Brasil, com um estoque de Investimento Estrangeiro Direto (IED) de US$ 45,3 bilhões em 2023, um crescimento de 22,1% em relação a 2022. Com o resultado, a China se posiciona como 9º maior investidor no Brasil, conforme dados oficiais do Banco Central do Brasil.
Segundo o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), esse número pode ser ainda maior, da ordem de US$ 73 bilhões, o que tornaria a China o quinto maior investidor no Brasil em termos de estoque total, atrás apenas de Estados Unidos, Países Baixos, França e Espanha, respectivamente.
Em 2024, a China foi a maior fornecedora do Brasil, representando 24,2% das importações totais de bens, quatro vezes a participação registrada em 2004. Entre os produtos mais importados estão:
- veículos elétricos e híbridos,
- equipamentos de telecomunicações
- e máquinas industriais.
Veja as oportunidades e os desafios para o Brasil no comércio com a China:
Oportunidades
• Consumo: segunda maior economia e segundo país mais populoso do mundo, a China é um mercado atrativo e estratégico para os produtos brasileiros. Além disso, foi o segundo maior importador mundial de bens em 2023, atrás apenas dos Estados Unidos.
• Participação: a China é o principal destino das exportações brasileiras, e o Brasil é altamente competitivo em diversos segmentos do mercado chinês. Em 2024, as vendas brasileiras para a China totalizaram mais de US$ 94 bilhões. Além disso, o Brasil foi o maior fornecedor da China de soja, carne bovina, celulose, açúcar e carnes de aves.
Desafios
• População: a população chinesa vem envelhecendo, o que poderá afetar o padrão de consumo do país nos próximos anos. Segundo a Economist Intelligence Unit (EIU), em 2025, 15,6% da população chinesa terá 65 anos ou mais, proporção que deverá superar 20% até 2030.
• Diversificação: em 2024, a China foi responsável por 28% das exportações e 41,4% do superávit comercial do Brasil. Além disso, as três principais exportações brasileiras (soja, petróleo bruto e ferro) corresponderam a mais de 75% do valor total exportado.
As mudanças no modelo econômico chinês (com maior foco no consumo interno), as tendências demográficas e a expectativa de aumento de tarifas norte-americanas a bens chineses deverão afetar o crescimento do país. A EIU prevê que a taxa de crescimento ficará abaixo de 5%, em 2025, e deverá cair abaixo de 4% em 2029.
• Acesso a mercado: o Brasil não possui acordo de livre comércio com a China, sendo a Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP) o principal acordo que a China faz parte, atualmente. Do ponto de vista regulatório, os empresários devem estar atentos a questões não tarifárias para acesso ao mercado chinês.
Por fim, em função das elevações de tarifas chinesas sobre produtos dos EUA, em resposta às medidas da administração Trump, podem surgir oportunidades temporárias de fornecimento ao país asiático.
*Com informações da ApexBrasil
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