Puxada pela mineração, produção industrial cresce 2,1% em Minas e impulsiona resultado nacional
A produção da indústria em Minas Gerais registrou um avanço de 2,1% em outubro, consolidando-se como a segunda maior influência positiva para o desempenho do setor no País. O resultado foi decisivo para evitar uma retração no cenário brasileiro, que encerrou o mês em estabilidade (0,1%). Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (9).
O desempenho positivo do Estado foi impulsionado, principalmente, pela indústria extrativa, que apresentou um crescimento expressivo de 15,8% na comparação com outubro do ano anterior. O minério de ferro continua sendo o grande motor desse avanço, reafirmando o peso da commodity na balança comercial e na atividade econômica mineira.
Além da mineração, outros setores estratégicos contribuíram para a aceleração industrial no período. A fabricação de veículos automotores cresceu 8,2%, enquanto o setor de celulose avançou 7,7%.
Desafios da indústria mineira
Apesar do resultado positivo, a indústria mineira enfrenta desafios pontuais. O levantamento do IBGE aponta quedas significativas em segmentos de relevância, como máquinas e equipamentos, que liderou o recuo da indústria de Minas Gerais em outubro (-19,9%), seguido por produtos químicos (-16,8%) e produtos do fumo (-15,2%).
De acordo com a analista responsável pela pesquisa, Alessandra Coelho, pelo terceiro mês consecutivo, o Estado ficou com ganho acumulado, que soma 3,5%. Esse resultado está acima do nacional e se destacou como segunda influência positiva no indicador geral. Apesar de ter ficado próximo a zero no Brasil, contribuiu para ainda ficar positivo nacionalmente.
O destaque para a indústria extrativa estaria relacionado às oscilações e comportamentos no mercado global, com forte interferência do desenrolar das negociações com os Estados Unidos. “Os bens, por serem commodities internacionais, são diretamente afetados pelas políticas comerciais, que também apresentam oscilações”, pontua.

Expectativas incertas para fechamento do ano
Além disso, os indicadores econômicos nacionais, seguem contribuindo para o atual cenário na indústria. Fatores positivos, como o mercado de trabalho aquecido, contrastam com a alta taxa de juros, ainda sem expectativas de redução.
“De um lado, há fatores que estimulam a produção, e, de outro, elementos que restringem tanto a demanda quanto a oferta. No fim, o contexto segue muito parecido com o dos últimos meses, e a indústria acaba operando nessa faixa de oscilações”, complementa a analista.
Para o último bimestre do ano, as expectativas são incertas e os resultados podem ser decisivos para cravar um desempenho positivo ou negativo para a indústria em Minas Gerais e nacional ao longo de 2025. “Como o resultado agregado é 0,8%, vai depender de novembro e dezembro para estimar se vai encerrar no positivo ou no negativo”, conclui Alessandra Coelho.
Desaceleração tende a se acentuar em 2026
Ao avaliar o desempenho no mês, o economista Guilherme Almeida reforça a dependência da indústria de Minas Gerais pela demanda global. A volatilidade da atividade econômica global, e de países como a China, tende a impactar, para mais ou para menos, a produção extrativa mineral no País e, consequentemente, em território mineiro. “A exportação é um fator muito importante para o desempenho desse segmento dentro da indústria”, complementa.
Já na indústria da transformação, a avaliação é de um cenário carregado por contrastes, que passam pelo desempenho positivo da indústria automotiva, até performances negativas, como a indústria de máquinas e equipamentos. “A indústria de transformação é fundamental para qualquer economia por gerar emprego e renda. Em Minas, não é diferente: no acumulado de 12 meses até outubro, o setor segue no positivo, com crescimento de 1,6%”, pontua o economista.
Com esse cenário, a tendência, segundo ele, é de uma desaceleração acentuada da atividade da indústria, tanto no Brasil quanto em Minas Gerais. O economista reforça que o recuo já é perceptível no mercado há alguns meses e está diretamente ligada à política monetária restritiva.
“Temos uma taxa de juros em alto patamar, 15% ao ano, um nível historicamente elevado. Isso gera custo de capital adicional para as empresas e impede o crescimento e a realização de projetos”, argumenta Almeida.
Mesmo com uma eventual flexibilização na política monetária, a expectativa para 2026 é de continuidade no arrefecimento do setor. O motivo é a defasagem nos efeitos das medidas na economia real ao longo do ano, levando um determinado tempo para se ajustar.
“Isso impacta a indústria, que precisa de custo de capital e de investimentos produtivos para destravar projetos e produção. Com um custo mais restrito, isso acaba gerando um impacto mais negativo”, finaliza o economista.
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