Minerais críticos: Minas Gerais está na vanguarda da transição energética

Com uma produção de mais de 35 milhões de toneladas de alguns dos principais minerais críticos, o Brasil figura entre os principais produtores do mundo. Isso coloca o País numa posição de vanguarda da transição energética, uma vez que esse tipo de material é matéria-prima básica para o desenvolvimento de tecnologia e equipamentos voltados a mitigar a emergência climática que assola o planeta.
Neste cenário, Minas Gerais também desponta com ampla vantagem competitiva, especialmente no que diz respeito à extração de lítio e nióbio. Abundante no Norte do Estado e no Vale do Jequitinhonha, o lítio é um elemento essencial para a produção de baterias de longa duração. Assim como o nióbio – com 80% da produção mundial concentrada em Minas Gerais –, o lítio também se destaca no objetivo de eletrificação, por suas propriedades.
Entre as vantagens dessa nova tecnologia que combina os dois minerais estão, por exemplo, maior durabilidade das baterias e carregamento ultrarrápido.
“Minas possui liderança no lítio, fundamental para a produção de bateria, principalmente de veículos. E a produção de nióbio vem de longa data. As baterias a base desses materiais são recarregadas em 10 ou 15 minutos, ou seja, o tempo que o ônibus fica parado no ponto final. O problema é que o preço do lítio despencou mais de 80% nos últimos anos, devido à maior oferta no mercado. E não há perspectiva de retomada nos patamares anteriores”, afirma o diretor de Sustentabilidade e Assuntos Regulatórios do Instituto, Julio Nery.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
O dirigente explica que o movimento advém da corrida para abrir novas minas para extração do mineral, diante das oportunidades para a transição da energia limpa, mesmo com um mercado demandante ainda pequeno. Com isso, as mineradoras cortaram custos e adiaram projetos.
Mesmo diante do cenário mais desafiador, Minas Gerais continua atraindo investimentos. Na quarta-feira (11), a Pilbara Minerals anunciou que planeja investir US$ 313 milhões (quase R$ 1,8 bilhão) para desenvolver o Projeto de Lítio Salinas, no Norte do Estado, segundo a empresa.
Conforme publicado pelo Diário do Comércio, o empreendimento tem potencial para se tornar uma das dez maiores operações mundiais de lítio de rocha dura em termos de produção. A base de recursos minerais dos depósitos da Latin no município mineiro é de classe global e possui 77,7 milhões de toneladas de espodumênio.
Ibram lança cartilha sobre minerais críticos
Vislumbrando as oportunidades junto à extração de minerais críticos em solo nacional, o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) elaborou a cartilha “Fundamentos para políticas públicas em minerais críticos e estratégicos para o Brasil”. Conforme Nery, o documento reproduz tudo o que os países em todo o mundo estão fazendo na mineração em vistas de surfar na onda da transição energética.
“Há uma extensa janela de oportunidade para o Brasil. E embora se fale muito sobre a diminuição nas exportações de commodities pelo País, o movimento não é garantia de geração de valor. Se a gente exportasse aço ou carro, por exemplo, ao invés do minério de ferro, certamente a gente teria mais emprego, mas não necessariamente mais valor de exportação. Porque o minério de ferro possui boa margem, já o aço, diante da inundação de produtos por parte da China, não”, explica.
Reservas e Produção no Brasil
MINERAL | RANKING PROD MUNDIAL | RANKING RESERVA MUNDIAL | PROD 2021(t)
Cobre 14º 12º 1,2 milhão
Alumínio 4º 4º 33 milhões
Níquel 8º 3º 400 mil
Lítio 5º 7º 113 mil
Nióbio 1º 1º 208 mil
Zinco 14º 12º 423 mil
Cromo 7º 6º 610 mil
Grafita 4º 2º 457 mil
Titânio 16º 4º 81 mil
Vanádio 4º 5º 402 mil
Chumbo 37º 10º 19 mil
Na carta de apresentação da cartilha, o diretor-presidente do Ibram, Raul Jungmann, defende que o País invista na nacionalização de minérios como potássio, fosfato e outros fundamentais à descarbonização e à transição para a economia verde.
“Esta ação de Estado irá proporcionar, na prática, uma contribuição para a reindustrialização do País. Isso porque, além da expansão do setor mineral, outras indústrias poderão se instalar a partir da maior oferta de minérios. O País ganhará força no âmbito das relações internacionais ao se instituir como um dos líderes de suprimento dos minérios críticos e estratégicos. Irá atrair grandes volumes de recursos financeiros para investimentos em seu território e, com a governança adequada, transformará essa oportunidade em benesses para a promoção do desenvolvimento socioeconômico e ambiental”, argumenta.
Conforme o documento, a matriz energética brasileira, baseada em recursos renováveis e importantes para processos de abatimento de carbono, tem atraído a atenção de potenciais investidores internacionais. Mais recentemente, o Brasil retornou ao cenário internacional, juntamente com o Chile, Argentina, Peru e Bolívia, como país fornecedor de minerais estratégicos para a economia de baixo carbono e indústrias net zero, sendo mais demandado para minérios de cobre, ferro, prata, lítio, alumínio, níquel, manganês e zinco.
“Em uma breve análise, o posicionamento de competição por minerais críticos e estratégicos entre China e Estados Unidos e a consolidação de países latino-americanos como importantes mineradores e produtores de cobre (Chile), lítio (Chile, Argentina) no cenário internacional, passam a exigir um posicionamento do Brasil quanto às estratégias de médio e longo prazo. As expressivas reservas de nióbio e grafite natural ainda exigem o desenvolvimento de soluções tecnológicas mais complexas para a aplicação desses materiais”.
Especificamente sobre Minas Gerais, o levantamento destaca a consolidação do Vale do Jequitinhonha como um polo de pesquisa e produção mineral. “As iniciativas coordenadas entre empresas e o governo estadual, o GT do Lithium Valley, contribuem para o Brasil desenvolver seu potencial e se tornar protagonista na indústria global do lítio, desenvolvendo a conversão química do concentrado mineral em carbonato e hidróxido de lítio, especialmente de grau bateria. Esse direcionamento pode atrair investimentos para a fabricação de baterias de íons de lítio, agregando mais valor internamente, e mesmo atrair as montadoras de veículos elétricos”, aposta o Ibram.
Ouça a rádio de Minas