Economia

Minerais críticos: Minas Gerais está na vanguarda da transição energética

Estado conta com reservas importantes de substâncias como o lítio e o nióbio, usados na produção de baterias
Minerais críticos: Minas Gerais está na vanguarda da transição energética
Brasil produz cerca de 35 milhões de toneladas de minerais críticos anualmente, como, por exemplo, o lítio | Crédito: Fabrício Guedes / AMG

Com uma produção de mais de 35 milhões de toneladas de alguns dos principais minerais críticos, o Brasil figura entre os principais produtores do mundo. Isso coloca o País numa posição de vanguarda da transição energética, uma vez que esse tipo de material é matéria-prima básica para o desenvolvimento de tecnologia e equipamentos voltados a mitigar a emergência climática que assola o planeta.

Neste cenário, Minas Gerais também desponta com ampla vantagem competitiva, especialmente no que diz respeito à extração de lítio e nióbio. Abundante no Norte do Estado e no Vale do Jequitinhonha, o lítio é um elemento essencial para a produção de baterias de longa duração. Assim como o nióbio – com 80% da produção mundial concentrada em Minas Gerais –, o lítio também se destaca no objetivo de eletrificação, por suas propriedades.

Entre as vantagens dessa nova tecnologia que combina os dois minerais estão, por exemplo, maior durabilidade das baterias e carregamento ultrarrápido.

“Minas possui liderança no lítio, fundamental para a produção de bateria, principalmente de veículos. E a produção de nióbio vem de longa data. As baterias a base desses materiais são recarregadas em 10 ou 15 minutos, ou seja, o tempo que o ônibus fica parado no ponto final. O problema é que o preço do lítio despencou mais de 80% nos últimos anos, devido à maior oferta no mercado. E não há perspectiva de retomada nos patamares anteriores”, afirma o diretor de Sustentabilidade e Assuntos Regulatórios do Instituto, Julio Nery.

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O dirigente explica que o movimento advém da corrida para abrir novas minas para extração do mineral, diante das oportunidades para a transição da energia limpa, mesmo com um mercado demandante ainda pequeno. Com isso, as mineradoras cortaram custos e adiaram projetos.

Mesmo diante do cenário mais desafiador, Minas Gerais continua atraindo investimentos. Na quarta-feira (11), a Pilbara Minerals anunciou que planeja investir US$ 313 milhões (quase R$ 1,8 bilhão) para desenvolver o Projeto de Lítio Salinas, no Norte do Estado, segundo a empresa. 

Conforme publicado pelo Diário do Comércio, o empreendimento tem potencial para se tornar uma das dez maiores operações mundiais de lítio de rocha dura em termos de produção. A base de recursos minerais dos depósitos da Latin no município mineiro é de classe global e possui 77,7 milhões de toneladas de espodumênio. 

Ibram lança cartilha sobre minerais críticos

Vislumbrando as oportunidades junto à extração de minerais críticos em solo nacional, o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) elaborou a cartilha “Fundamentos para políticas públicas em minerais críticos e estratégicos para o Brasil”. Conforme Nery, o documento reproduz tudo o que os países em todo o mundo estão fazendo na mineração em vistas de surfar na onda da transição energética. 

“Há uma extensa janela de oportunidade para o Brasil. E embora se fale muito sobre a diminuição nas exportações de commodities pelo País, o movimento não é garantia de geração de valor. Se a gente exportasse aço ou carro, por exemplo, ao invés do minério de ferro, certamente a gente teria mais emprego, mas não necessariamente mais valor de exportação. Porque o minério de ferro possui boa margem, já o aço, diante da inundação de produtos por parte da China, não”, explica.

Reservas e Produção no Brasil

MINERAL | RANKING PROD MUNDIAL | RANKING RESERVA MUNDIAL | PROD 2021(t)

Cobre             14º                                        12º                                                 1,2 milhão

Alumínio         4º                                           4º                                                  33 milhões

Níquel             8º                                           3º                                                  400 mil

Lítio                5º                                           7º                                                   113 mil

Nióbio            1º                                            1º                                                   208 mil

Zinco             14º                                          12º                                                 423 mil

Cromo           7º                                             6º                                                  610 mil

Grafita           4º                                             2º                                                   457 mil

Titânio           16º                                           4º                                                    81 mil

Vanádio         4º                                            5º                                                     402 mil

Chumbo        37º                                         10º                                                    19 mil

Na carta de apresentação da cartilha, o diretor-presidente do Ibram, Raul Jungmann, defende que o País invista na nacionalização de minérios como potássio, fosfato e outros fundamentais à descarbonização e à transição para a economia verde.

“Esta ação de Estado irá proporcionar, na prática, uma contribuição para a reindustrialização do País. Isso porque, além da expansão do setor mineral, outras indústrias poderão se instalar a partir da maior oferta de minérios. O País ganhará força no âmbito das relações internacionais ao se instituir como um dos líderes de suprimento dos minérios críticos e estratégicos. Irá atrair grandes volumes de recursos financeiros para investimentos em seu território e, com a governança adequada, transformará essa oportunidade em benesses para a promoção do desenvolvimento socioeconômico e ambiental”, argumenta.

Conforme o documento, a matriz energética brasileira, baseada em recursos renováveis e importantes para processos de abatimento de carbono, tem atraído a atenção de potenciais investidores internacionais. Mais recentemente, o Brasil retornou ao cenário internacional, juntamente com o Chile, Argentina, Peru e Bolívia, como país fornecedor de minerais estratégicos para a economia de baixo carbono e indústrias net zero, sendo mais demandado para minérios de cobre, ferro, prata, lítio, alumínio, níquel, manganês e zinco.

“Em uma breve análise, o posicionamento de competição por minerais críticos e estratégicos entre China e Estados Unidos e a consolidação de países latino-americanos como importantes mineradores e produtores de cobre (Chile), lítio (Chile, Argentina) no cenário internacional, passam a exigir um posicionamento do Brasil quanto às estratégias de médio e longo prazo. As expressivas reservas de nióbio e grafite natural ainda exigem o desenvolvimento de soluções tecnológicas mais complexas para a aplicação desses materiais”.

Especificamente sobre Minas Gerais, o levantamento destaca a consolidação do Vale do Jequitinhonha como um polo de pesquisa e produção mineral. “As iniciativas coordenadas entre empresas e o governo estadual, o GT do Lithium Valley, contribuem para o Brasil desenvolver seu potencial e se tornar protagonista na indústria global do lítio, desenvolvendo a conversão química do concentrado mineral em carbonato e hidróxido de lítio, especialmente de grau bateria. Esse direcionamento pode atrair investimentos para a fabricação de baterias de íons de lítio, agregando mais valor internamente, e mesmo atrair as montadoras de veículos elétricos”, aposta o Ibram.

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