Uso de minerais na transição energética depende de mais pesquisas geológicas

Não é de hoje que especialistas alertam para o baixo investimento em mapeamento geológico no Brasil e a consequente falta de conhecimento de suas riquezas minerais. Quando comparado a países de porte equivalente como Canadá, Estados Unidos, Austrália e África do Sul, a insuficiência fica ainda maior.
Para se ter uma ideia, apenas 27% do território está mapeado em escala 1:100.000 – a mínima adequada para o início de um projeto de prospecção mineral. Esse cenário ocorre mesmo diante de uma participação expressiva do Brasil na produção mineral mundial, com mais de 90 minerais que geram receitas anuais superiores a US$ 50 bilhões.
Os dados são do estudo “A atratividade do setor mineral brasileiro”, produzido pela Ernst Young em parceria com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que abordou os aspectos favoráveis e os desafios da atividade mineral no País.
Se o índice de mapeamento fosse superior, o mercado brasileiro apresentaria resultados melhores, elevando sua presença global. Entre os principais minérios produzidos, 11 somam 90% do valor total de sua produção. São eles: ferro, ouro, cobre, níquel, alumínio, estanho, manganês, nióbio, zinco, cromo e vanádio.
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Destaca-se, porém, que da já consolidada posição de produtor e detentor de reservas de nióbio e de minério de ferro, o Brasil tem uma rica e diversificada oferta de minerais considerados estratégicos para o desenvolvimento de tecnologias de transição energética, como lítio, níquel, grafite e minerais terras raras. E em um mundo voltado para a transição energética, a demanda por esses minerais será cada vez maior. Os carros elétricos, assim como a infraestrutura solar e de geração eólica, por exemplo, fazem uso intensivo desses insumos.
Ainda segundo o estudo, o crescimento da demanda por esses minerais até 2040 será vertiginoso. Por lítio será de 42 vezes; por grafite de 25 vezes; por cobalto, 21 vezes; por níquel, 19 vezes; por terras raras, sete vezes; e três vezes por cobre.
Além disso, vale lembrar que a meta global é alcançar até 2050 a neutralidade de carbono, reduzindo os piores efeitos do aquecimento global, o que somente será possível por meio da transição energética, com a adoção de fontes limpas em substituição às provenientes dos combustíveis fósseis.
Grandes corporações dominam a exploração minerária no País
De acordo com o levantamento, a transição energética plena só será possível com a ampliação da produção de diversos minerais críticos.
No Brasil, a exploração mineral é feita de modo dominante por empresas de mineração de grande porte – chamadas de major – com operações em todo o mundo, que são bem estabelecidas no mercado e com foco em matérias-primas do seu portfólio. Apenas 27% do aporte investido é atribuído a empresas do tipo junior, que são menores e tipicamente interessadas no desenvolvimento de novos projetos de descobertas minerais.
Destaca-se, entretanto, que em outros países relevantes para a mineração, as empresas junior são responsáveis por percentuais mais expressivos dos investimentos e também protagonistas na ampliação do leque de commodities exploradas.
Além disso, o os investimentos anuais na exploração mineral brasileira são limitados, especialmente em metais não ferrosos. O Brasil corresponde a somente 3% desse valor, já que 50% do orçamento global está em países com alto mapeamento geológico. Na América do Sul, o Peru e o Chile recebem investimentos substancialmente maiores do que o Brasil. Contribui também para isso a ausência de políticas nacionais de atração de investimentos e de mecanismos compensatórios de risco, previstos em outros países como Canadá.
Falta de diretriz e política são desafios para a indústria
Faltam diretrizes e uma política industrial adequada para uma efetiva transição energética no Brasil. É o que aponta o Barômetro da Infraestrutura, estudo produzido pela Ernst Young em parceria com a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib). Segundo o levantamento, menos de 10% do setor acredita que a indústria já esteja preparada para atender aos objetivos das mudanças necessárias e quase 60% dos empresários e especialistas não enxergam esse direcionamento.
Outros 49% dizem que faltam linhas de financiamento voltadas para a indústria, enquanto 33,9% reclamam da ausência de mão de obra especializada.
O cenário é de preocupação quanto aos desafios do País, já que o estudo aponta carência de políticas e de infraestrutura adequadas para o processo. Mas a tendência global é que os objetivos de crescimento econômico, cada vez mais ligados a soluções baseadas na natureza, e a busca por segurança energética impulsionem as políticas climáticas dos países, estimulando o investimento na economia verde e ampliando a velocidade das regulamentações de sustentabilidade.
A constatação, que faz parte do estudo “2024 Geostrategic Outlook”, elaborado pela EY, significa que, na prática, os governos precisam aumentar os incentivos financeiros para adoção da tecnologia verde pelas indústrias, enquanto promovem iniciativas voltadas para a descarbonização.
De acordo com o Barômetro, para incentivar o crescimento do investimento em infraestrutura, a redução das taxas de juros é vista como fator crucial por 64,2% dos respondentes. Já 59,8% acreditam que o financiamento interno, especialmente por meio de debêntures incentivadas e de infraestrutura, terá papel significativo.
O financiamento externo com proteção contra riscos cambiais é considerado relevante para 50,4% dos entrevistados e 38,2% veem os projetos verdes como uma fonte de financiamento cada vez mais importante. Para essa pergunta, podiam ser escolhidas várias respostas, o que foi feito pelos respondentes, demonstrando que, na visão do setor de infraestrutura, não há uma ação específica para incentivar o crescimento do investimento, mas um conjunto de iniciativas convergentes dedicadas ao financiamento.

Por fim, em comparação com o levantamento anterior, permanece a percepção do mercado de que o governo federal é o ente federativo que precisa se esforçar mais para promover investimentos em infraestrutura. Os governos estaduais mantêm a liderança como o ente que melhor adotou decisões significativas para a promoção de investimentos em infraestrutura nos últimos seis meses.
Barômetro da Infraestrutura
O estudo é realizado semestralmente pela EY e Abdib para identificar o ânimo dos empresários e especialistas dos setores de infraestrutura sobre os temas que impactam a realização de investimentos e o desenvolvimento de projetos. O objetivo desses levantamentos é oferecer uma contribuição às autoridades públicas e aos agentes institucionais sobre os caminhos para a promoção do desenvolvimento da infraestrutura. (Com informações da Agência EY)
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