Motoristas de aplicativos em BH se mobilizam para protesto nesta segunda

Motoristas cadastrados em vários aplicativos de transporte privado urbano que atuam em Belo Horizonte e nas demais cidades de Minas devem aderir ao chamamento nacional de paralisação dos serviços. A greve prevista para acontecer na próxima segunda-feira (15) tem como reivindicações principais o reajuste da remuneração e melhorias no modelo de operação dos serviços no Brasil.
Na capital mineira, o ato deve começar às 10h, e a estimativa é de que a mobilização percorra os principais corredores comerciais do Hipercentro. Até o momento, cerca de 350 motoristas de aplicativos devem participar presencialmente do ato.
Para a reportagem do DIÁRIO DO COMÉRCIO, o Sindicato dos Condutores de Veículos que Utilizam Aplicativos em Minas Gerais (Sicovapp-MG) apresentou, inclusive com detalhes, o que o movimento grevista requer. “As nossas reivindicações são por direitos de que a remuneração mínima por corrida seja no valor de R$ 10. Já o valor mínimo por quilômetro rodado geralmente cobrado pelas plataformas seja no valor de R$ 2″, explica a presidente da entidade, Simone Almeida.
Segundo ela, o sindicato em Minas, portanto, assim como os de outros estados, se empenha para comunicar os motoristas a fim de conseguir mais apoiadores e na intenção de reforçar os valores propostos. “Estamos nessa luta que não é somente pelos motoristas, mas sim pelas suas famílias. Precisamos de um pacote de direitos que estabeleça o respeito e o reconhecimento de nosso trabalho”, pontua a presidente do Sicovapp-MG. “Pedimos que todos os motoristas desliguem os seus aplicativos na próxima segunda-feira. Pedimos isso para que vejam que precisamos de valores justos e de taxas justas também”, continua.
Plataformas já não são vistas mais como fonte de lucro
Depois de deixar a função de padeiro numa panificadora de Contagem, na Grande BH, Emerson Midgel Van Couto conta que optou por trabalhar como motorista de app há aproximadamente dois anos. De lá pra cá, percebeu que à medida que continuava no novo trabalho, a rotina havia se transformado numa luta diária.
“Viver como funcionário de mim mesmo foi o pensamento que sempre quis naquela época. Via que trabalhar como motorista de aplicativo era uma boa saída com a situação de desempregado em plena pandemia. Se você trabalhar certinho, você não passa aperto, mas ultimamente ficou insustentável pra mim ter que me manter, pagar gasolina no preço que está, fazer reparo no carro e em troca receber uma remuneração que não dá para pagar nem 60% de tudo”, conta Emerson Couto.
Atuando com os serviços de duas plataformas de transporte há cinco anos, Valdemir Correia Neto conta que desde antes da pandemia, por conta de algumas pressões por parte dos sindicatos, as operadoras já prometiam a aplicação do aumento na remuneração da classe.
“Essa era uma promessa que nunca se cumpriu, na verdade. Antes mesmo da pandemia, nós recebemos essa informação de que a Uber estaria disposta a atualizar a nossa remuneração. Algumas rádios informavam que ela seria praticada a começar por São Paulo. O mesmo foi com a 99, anunciaram a possibilidade de reajuste no ano passado e até agora nenhum sinal. Então, já que fizeram o anúncio, foi somente da boca para fora, porque, na prática mesmo, eu não vi nenhum centavo a mais”, declarou o motorista.
Com tamanho descontentamento provocado pela falta de melhorias por parte das empresas de aplicativos de transporte privado urbano, a motorista Kenia Aparecida comenta a situação com indignação. “As plataformas, querendo ou não, vêm com taxas que chegam a 50% do valor da corrida. São valores que deveriam ser impraticáveis seja em Belo Horizonte ou em qualquer outro lugar. Eu tenho um veículo de R$ 128 mil, pago ainda as manutenções que são necessárias, fora as necessidades do dia a dia, as contas e tudo mais que todo cidadão precisa pagar. Quem é que consegue sobreviver com corridas recebidas a R$ 5?”, indaga a ex-professora de escola pública.
“Já é difícil ser mulher trabalhando como motorista de Uber no Brasil. Tudo bem que foram criadas as políticas preventivas de apoio e segurança a nós mulheres, mas isso é uma obrigação. Já quanto ao resto? Nada será feito? E a nossa proteção nas ruas? Não há um seguro contra acidentes? Essa questões não podem ser meros detalhes. Precisamos nos organizar em torno dessas falhas (remuneração e taxas justas). Por isso a greve é importante”, acrescenta.
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