Municipalização do Anel Rodoviário gera divergências entre especialistas

A municipalização do Anel Rodoviário não é uma unanimidade entre os especialistas. Para alguns, a medida vai agilizar a tomada de decisão, bem como as obras na rodovia. No entanto, outros apontam que a mudança na gestão da via não irá resolver os problemas, como acidentes e trânsito intenso. E para reduzir o tráfego seria necessário viabilizar outra via: o Rodoanel Metropolitano de Belo Horizonte.
O professor do Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ronderson Queiroz Hilário, avalia a situação como complexa, já que envolve o trânsito de três rodovias importantes, BR-262, BR- 381 e BR-040.
Com 26,2 quilômetros de extensão, o Anel Rodoviário começa na união das rodovias BR-262 e BR-381, na altura dos bairros Goiânia e Nazaré, na região Nordeste da Capital, e termina no encontro das rodovias BR-040 e BR-356, no bairro Olhos d’Água, na região Oeste.
“Então só municipalizar, construir alguns viadutos, não vai adiantar, não vai tirar o número de veículos do Anel Rodoviário”, destaca o professor. Para ele, a alternativa seria outra via, que já está prevista, que é o rodoanel.
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As obras do rodoanel devem começar em junho de 2025, segundo informações já divulgadas pelo Diário do Comércio. A concessionária Rodoanel BH S/A atualmente está envolvida nos projetos executivo, de desapropriação e licenciamento ambiental.
Para o coordenador da Comissão de Transportes da Sociedade Mineira de Engenheiros (SME), Nelson Dantas, a municipalização do Anel Rodoviário poderia acontecer quando o rodoanel estivesse pronto.
Ele ressalta que o Anel Rodoviário contempla dois tipos de tráfego, um deles, que envolve Belo Horizonte e região metropolitana. Outro, seria o tráfego de passagem, com o trânsito intenso de caminhões e carretas. “Não é que sejam tráficos incompatíveis, mas eles geram um conflito muito grande. Enquanto não tiver o rodoanel, vai ter que compatibilizar esses dois tráficos”, observa. Ele acrescenta que uma possibilidade para administrar o anel rodoviário poderia ser o governo do Estado.
Já o engenheiro civil especializado em transporte e trânsito, Iuri Lara, destaca que a municipalização da rodovia ajudará na agilidade das obras, com intervenções mais ágeis e assertivas. “O governo federal tem outras obras, outras prioridades”, observa. Ele também destacou a importância de viabilizar o rodoanel para ajudar na mobilidade.
Apesar de analisar a medida como positiva, o especialista lembra que o município de Belo Horizonte terá que administrar um ativo que necessita de recursos financeiros ao longo do tempo.
Para os próximos dias está previsto ainda um convênio entre o governo federal e a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para o investimento de R$ 65 milhões, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 3), com o objetivo de realização de intervenções em dois viadutos. As obras abrangem a construção de alças de acesso entre o Anel Rodoviário e a BR-040, além da ligação com a Via Expressa.
Proximidade
Outro especialista que avalia a municipalização do anel rodoviário como positiva para Belo Horizonte é o coordenador do curso de arquitetura e urbanismo e engenharia civil do Ibmec Belo Horizonte, André Prado. Ele destaca que a mudança vai permitir que a gestão municipal tenha um controle mais efetivo, tanto no dia a dia, na segurança, como também no que diz respeito às questões de manutenção ao longo do tempo.
“A prefeitura está mais próxima e vai conseguir ter um controle mais eficiente do Anel Rodoviário do que isso feito, em Brasília, pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes)”, observa.
Ele acrescenta que entre as vantagens da municipalização da via está a maior eficiência na gestão, com maior controle e planejamento do Anel Rodoviário integrado às políticas de transporte do município. “Por outro lado, a desvantagem é o alto custo de manutenção desses 26 quilômetros de via, que vão ser assumidos pelo município”, diz. Ele também cita a menor experiência na gestão de uma via com tráfego de veículos pesados de carga, enquanto o rodoanel não fica pronto.
Anel Rodoviário foi tema de reunião entre Fuad e Lula
A municipalização do Anel Rodoviário, reivindicada pela PBH, foi confirmada ao prefeito Fuad Noman (PSD) na quinta-feira (7), durante reunião em Brasília com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o ministro dos Transportes, Renan Filho, e representantes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Por meio de nota, a PBH informou que o objetivo da PBH, “ao reivindicar a gestão do Anel Rodoviário, é compatibilizar a infraestrutura existente às características atuais e projeções para o futuro, oferecendo condições mais adequadas e seguras para a mobilidade. O Anel Rodoviário hoje é palco de uma parcela significativa de acidentes de trânsito no município, muitos deles com vítimas fatais”.
O Anel Rodoviário de Belo Horizonte é uma via dedicada ao trânsito rápido e pesado de veículos que circulam pela capital mineira. Ele começou a ser construído no fim da década de 1950 e foi inaugurado em 1963 para desviar o tráfego de carga que crescia e passava pela área central da cidade. Entretanto, teve seu uso modificado, por conta do crescimento populacional da região metropolitana, e se tornou um dos corredores de trânsito urbano mais movimentados da cidade.
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