Nova linha de crédito da Caixa deve fomentar o retrofit

A nova modalidade de crédito imobiliário da Caixa Econômica Federal, voltada para o retrofit, deve impulsionar os projetos de revitalização de prédios antigos, mas ainda depende de um conjunto de ações do poder público nas áreas que necessitam ser revitalizadas, para tornar os investimentos economicamente atrativos, avaliam especialistas do setor.
O diferencial da nova linha de financiamento é a possibilidade de os recursos serem aplicados na compra do imóvel e não somente na aquisição do terreno, o que, segundo o membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico, Sustentável e Estratégico de Belo Horizonte (Codese-BH) e diretor da Construtora Diniz Camargos, Teodomiro Diniz, pode ser determinante para as incorporadoras viabilizarem os negócios.
A compra de um terreno com imóvel já construído ou com construção iniciada tem um custo bem superior a um terreno ainda sem nenhuma construção, que é o alvo das linhas de crédito imobiliário tradicionais. A equiparação da compra do imóvel para retrofit à compra de um terreno para construção, pode fazer com que o custo até então superior fique no mesmo patamar da compra de um terreno sem nenhum imóvel.
Além disso, na linha de crédito para retrofit, a Caixa fará a antecipação de até metade dos recursos destinados ao incorporador, enquanto no crédito imobiliário tradicional a antecipação é de até 10%.
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“Isso é determinante, porque as empresas não têm esse capital para comprar o imóvel. O custo do capital é alto, mas tendo ele nas bases de financiamento imobiliário é um custo mais baixo. Se a Caixa financia como se fosse construção, vão ser as taxas do sistema financeiro, que são do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), que são juros muito módicos”, explica Diniz.
A nova linha da Caixa contará com recursos do FGTS e Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), com taxas de juros abaixo de mercado, além de recursos livres.
Mas o arquiteto e membro do conselho deliberativo da Sociedade Mineira de Engenheiros (SME), Alberto Dávila, faz a ressalva de que, por mais vantajoso que seja o crédito imobiliário da Caixa para retrofit, é necessário que o setor público crie as condições para que a revitalização realmente aconteça.
Essas condições, aponta, passam pela celeridade das prefeituras na documentação e a solução de problemas no transporte público, na comunicação, saneamento, iluminação, e, principalmente, na segurança pública. Problemas que geralmente são desafiadores nos centros urbanos, áreas que são foco da ideia do retrofit, já que são os locais onde há maior concentração de prédios antigos.
Sem agilidade na documentação e a resolução de problemas urbanos nas áreas que mais necessitam de revitalização, o investimento no retrofit de imóveis pode não se realizar, mesmo com crédito facilitado, pontua Dávila. “Alguém vai pegar esse dinheiro emprestado na Caixa. Ele precisa realizar esse dinheiro para retornar à própria Caixa. Mas se ele tem dificuldade de venda por causa de segurança, de infraestrutura precária, não vai resolver”.
O arquiteto explica que condições precárias nesses temas urbanos fazem com que, atualmente, 60% das lojas do centro de Belo Horizonte estejam fechadas. “A Caixa está fazendo uma ação, mas precisa de uma série de ações, em conjunto, para poder viabilizar isso. Só a Caixa dar o dinheiro não vai conseguir”, finaliza.
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