Economia

Novo Acordo do Rio Doce traça rota de reparação definitiva

Samarco destina R$ 170 bilhões para reparação dos danos do rompimento da Barragem de Fundão
Novo Acordo do Rio Doce traça rota de reparação definitiva
Obras previstas antes da assinatura do Novo Acordo foram concluídas em Novo Bento Rodrigues e Paracatu FOTO: NITRO HISTÓRIAS VISUAIS

A reparação da bacia do rio Doce teve um marco histórico no ano de 2024, quando a Samarco voltou a ser diretamente responsável pelas ações de reparação e compensação pelos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, que haviam ficado sob a tutela da Fundação Renova desde 2016, pouco menos de um ano após o rompimento, que causou a morte de 19 pessoas e danos ao longo da bacia do rio Doce, em Minas Gerais e no Espírito Santo. A virada foi determinada pelo Novo Acordo do Rio Doce, solução homologada pela Justiça Federal e que divide as ações de reparação entre o poder público e a empresa. Com o documento, a Samarco assume a conclusão definitiva das indenizações individuais, reassentamentos e parte da recuperação ambiental.

O documento foi assinado pela Samarco, suas acionistas Vale e BHP, a União, os governos de Minas Gerais e do Espírito Santo, Ministérios Públicos Federal e Estaduais e Defensorias Públicas da União e Estaduais (MG e ES), entre outros órgãos. Com as novas diretrizes para a conclusão definitiva da reparação, estabeleceu-se, por exemplo, o pagamento de R$ 170 bilhões, dos quais R$38 bilhões foram destinados, até setembro de 2024, a ações executadas pela Fundação Renova (em liquidação).

Além disso, outros R$ 100 bilhões estão sendo transferidos pela Samarco para o poder público, e mais R$ 32 bilhões para ações de reparação de atuação direta da mineradora. O primeiro montante será repassado em 20 anos e tem o objetivo de financiar políticas públicas contínuas para atender a população nas áreas de saúde, educação, infraestrutura, recuperação de equipamentos públicos, ações ambientais e projetos de fomento, permitindo a geração de emprego e renda, além de programas de transferência de renda. O segundo se destina à conclusão dos reassentamentos, ao pagamento das indenizações individuais e a parte das ações de recuperação ambiental na bacia do rio Doce.

De acordo com a diretora Jurídica, de Riscos e Conformidade da Samarco, Najla Lamounier, o Novo Acordo do Rio Doce representa um avanço significativo em relação aos modelos anteriores, por trazer maior clareza, segurança jurídica e efetividade à reparação dos danos causados pelo rompimento da Barragem de Fundão. Ela lembra que o instrumento foi construído ao longo de quatro anos de negociações.

“Diferentemente do TTAC de 2016, que estabelecia diretrizes amplas e deixava o detalhamento das ações para etapas posteriores, o Novo Acordo do Rio Doce defi ne com precisão o que deve ser feito, por quem e em que prazo.

Essa estrutura permite que as obrigações sejam monitoradas e cobradas com maior objetividade, o que contribui para a transparência e a responsabilização dos envolvidos”, destaca.Para Najla Lamounier, além das obrigações legais, o acordo tem um papel simbólico e prático relevante na reconstrução da confiança entre os diversos atores envolvidos nas operações da Samarco. Segundo a executiva, trata-se de um instrumento que consolida aprendizados acumulados ao longo de quase uma década de reparação e quatro anos de negociação, propondo um modelo mais transparente, objetivo e voltado para resultados concretos. “Do ponto de vista simbólico, o acordo representa um compromisso público da Samarco e de suas acionistas com a reparação definitiva, reconhecendo que o rompimento da Barragem de Fundão é um marco que jamais será esquecido. Ao estabelecer obrigações claras, metas mensuráveis e um modelo de governança mais eficaz, sinaliza uma mudança de postura: da indefinição para a responsabilidade, da judicialização para o consenso”, reafirma.

Na prática, segundo ela, o Novo Acordo do Rio Doce oferece previsibilidade e segurança jurídica, essenciais para a retomada da confiança institucional. “E permite que os envolvidos saibam exatamente o que deve ser feito, em que prazo e com quais recursos”, afirma.

Samarco assumiu indenização, reassentamento e restauração florestal

O Novo Acordo do Rio Doce previu a criação de duas novas iniciativas: o Programa Indenizatório Definitivo (PID) e o Sistema Agro e Pesca. Também estabeleceu critérios para sistemas já existentes, como Lucros Cessantes, Dano Água, Sistema PIM-AFE e Novel, além do pagamento do Auxílio Financeiro Emergencial (AFE) e, para povos indígenas, quilombolas e demais comunidades tradicionais, do Auxílio de Subsistência Emergencial (ASE).

Samarco faz monitoramento contínuo da qualidade da água, com publicação aberta dos dados coletados FOTO: NITRO HISTÓRIAS VISUAIS

As indenizações individuais relativas ao rompimento da barragem da Samarco já foram motivo de tensão e judicialização.

Conforme a diretora Jurídica, de Riscos e Conformidade da Samarco, Najla Lamounier, o Novo Acordo do Rio Doce busca justamente enfrentar esse desafio com um modelo mais claro, ágil e acessível. “Uma das grandes iniciativas é o PID, que traz uma perspectiva definitiva e célere de recebimento da indenização. O processo é rápido e a documentação exigida foi simplificada, o que facilita o acesso das pessoas ao direito que lhes cabe. Nos dez meses desde a assinatura do acordo, já foram feitos mais de 300 mil requerimentos na plataforma e realizados mais de 200 mil pagamentos de indenizações.
Esse novo modelo representa um avanço importante, pois transforma um processo historicamente complexo em uma solução definitiva, eficiente e transparente”, opina Najla Lamounier.

Segundo a empresa, foram pagos mais de R$ 13,5 bilhões em indenizações individuais e auxílios financeiros até 19 de setembro de 2025. Desse total, aproximadamente R$ 8,4 bilhões foram destinados ao PID, que já contabilizou mais de 327 mil requerimentos e cerca de 287 mil acordos firmados.

No caso da recuperação ambiental, está prevista a continuidade das ações, como o restabelecimento das áreas afetadas, medidas compensatórias ao longo da bacia do rio Doce, restauração florestal de 50 mil hectares, recuperação de 5 mil nascentes, restauração de margens e do ambiente aquático, saneamento e melhoria da qualidade da água.

Até o momento, mais de 41 mil hectares e 3,8 mil nascentes foram cercados e protegidos.

Também serão realizados estudos de viabilidade para a retirada adicional de sedimentos na Usina Hidrelétrica Risoleta Neves (Candonga) e para o gerenciamento de áreas impactadas.

Além disso, a diretora confirmou que a restauração do meio ambiente é um desafi o de longo prazo, que exige planejamento, coordenação e compromisso contínuo. Para ela, o acordo reconhece essa complexidade e estabelece metas específicas.

Para cumprir os compromissos, está prevista a entrega definitiva dos reassentamentos, incluindo os novos distritos de Novo Bento Rodrigues e Paracatu, sob acompanhamento do Ministério Público de Minas Gerais e de assessorias técnicas. Em julho, a Samarco anunciou a conclusão de 100% das construções previstas antes da assinatura do Novo Acordo do Rio Doce.

Por fim, a empresa se compromete a manter os atendimentos às famílias reassentadas, realizar os pagamentos de indenizações previstos e dar continuidade a outras obras e ações relacionadas aos grupos que perderam suas casas com o rompimento.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas