Economia

Novo governo do Reino Unido é oportunidade para comércio com Brasil e Mercosul

Volta do Partido Trabalhista ao poder gera expectativa para negociações que envolvam transição energética, dentre outros setores; Keir Starmen é agora primeiro-ministro
Novo governo do Reino Unido é oportunidade para comércio com Brasil e Mercosul
Agora primeiro-ministro britânico, Keir Starmer pode ir além da proximidade ideológica com presidente Lula | Crédito: Stefan Rousseau Pool / Reuters

A volta do Partido Trabalhista ao poder no Reino Unido após 14 anos é uma oportunidade para o comércio com o Brasil e o Mercosul. O agora primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, tem, para além da proximidade ideológica com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), um olhar atento na transição energética e no fortalecimento dos serviços públicos.

“Temos aí uma convergência ideológica entre governo brasileiro e governo britânico. Então isso de certa forma facilita o diálogo”, comenta o professor de Relações Internacionais do Ibmec BH, Mario Schettino. “Não me assustaria se o Reino Unido e o Mercosul anunciassem negociações sobre um acordo de comércio”, completa.

O professor aponta que um acordo econômico Mercosul-Reino Unido tem um caminho bem mais facilitado do que com o União Europeia (UE), já que necessita da aprovação apenas do governo britânico e dos quatro países integrantes do bloco sul-americano. Com a UE, é necessária a aprovação de 27 estados. “Como tem dois governos (Brasil e Reino Unido) com uma convergência ideológica grande, a possibilidade de acordo é maior”, afirma Schettino.

Um empecilho possível pode estar nas relações diplomáticas entre Argentina e Inglaterra, abaladas pela disputa das Ilhas Malvinas. Caso não ocorra, o professor do Ibmec pontua que ainda há oportunidades econômicas para o Brasil, fora da competência do bloco econômico, como uma facilitação do comércio por meio da uniformização de procedimentos aduaneiros.

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A vitória esmagadora dos trabalhistas surge na esteira de uma crise social enfrentada pelos britânicos, que acarretou no Brexit. Schettino explica que os países desenvolvidos enfrentam dificuldades com o aprofundamento da globalização, como redução da produção industrial, o que gera desemprego e diminuição da renda nas classes médias da população.

Por conta disso, há um aumento de políticas industriais e protecionistas destes países nos últimos anos, tendo em vista principalmente as disputas comerciais com a China. “É também como mecanismo de desenvolvimento da economia nacional, exatamente para tentar retomar o nível de empregabilidade e renda dessas camadas médias da população, porque isso tem afetado a política doméstica”, aponta Schettino.

Oportunidades para o Brasil

No âmbito dessas crises internas, o primeiro-ministro Sir Keir – como é conhecido, pelo título de cavaleiro – aposta como impulso para a indústria local um caminho já adotado pelo governo Lula III: a transição energética. “A transição energética é oportunidade para países desenvolvidos retomarem sua produção industrial a partir do desenvolvimento de novas tecnologias e da produção no próprio território”, declara Mário Schettino.

O professor do Ibmec BH vê exatamente na pauta ambiental um ponto de parceria com o Brasil, principalmente em ações contra o desmatamento ilegal e descarbonização. Mas além disso, há também a preocupação de Keir Starmer com os serviços públicos, como o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês).

“Há várias convergências e sinergias no Sistema Único de Saúde (SUS), já que nosso sistema é para 200 milhões de pessoas. Os desafios são maiores e acaba sendo interessante para testar alternativas de gestão e ganhos de escala para produção de remédio e tratamentos”, explica.

O ensino superior é outra oportunidade. Com menor demanda pelo envelhecimento da população britânica, há abertura crescente para estrangeiros para garantir rentabilidade do ensino. “Pode ser que surja alguma iniciativa até mesmo entre governos”, finaliza Schettino.

Comércio entre Minas e Reino Unido

As exportações do Brasil para o Reino Unido alcançaram o valor de US$ 3,3 bilhões em 2023, focadas no ouro não monetário, além da soja, carne e café não torrado. Já as importações atingiram US$ 2,8 bilhões, com foco em bebidas alcoólicas, automóveis e medicamentos.

Em relação a Minas, a nação britânica não está entre os principais destinos das exportações do Estado, que tem predominância do ouro e do café, nem entre os principaispaíses de origem das importações mineiras, com liderança de máquinas e aparelhos, material elétrico e bebidas.

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