Números que fazem pensar

O Brasil deverá colher, na safra deste ano, pelo menos 300 milhões de toneladas de grãos, o que representa mais um recorde de produção, consolidando a posição de um dos maiores produtores de alimentos no planeta.
Algo a ser comemorado, é claro, porém sem que se perca de vista que nosso País figura também, mais precisamente, na décima posição no ranking dos que mais desperdiçam alimentos. Segundo dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), algo como 30% do total produzido, numa conta que soma algo como R$ 61,3 bilhões/ano de prejuízos.
Em todas as etapas do processo, do plantio, colheita, transporte e armazenamento até o comércio varejista são anotadas perdas bastante significativas e que não são contidas, apesar de todos os avanços, em termos de produção e produtividade, do agronegócio.
A rigor, isso acontece porque falta infraestrutura, em especial no armazenamento e transporte, áreas de apoio que não acompanharam os avanços verificados nas últimas décadas, reservando-se dessa forma ao País a triste condição de figurar ao mesmo tempo entre os maiores produtores e aqueles que mais desperdiçam, jogando fora, das mais diversas formas, alimentos que não chegam às mesas de milhões de brasileiros.
Com a perda de renda de parte significativa da população, estima-se, hoje, que pelo menos 30 milhões de indivíduos estão abaixo da linha da pobreza, muitos deles ajudando a compor o chamado mapa da fome. Algo que não parece fazer nenhum sentido para um país listado entre os principais produtores de alimentos mas que, conforme foi dito acima, figura também entre os campeões de desperdício de alimentos que se perdem, deteriorados, antes que cheguem ao prato de alguém faminto.
Algo ainda mais trágico e inaceitável diante da informação que com 7 milhões de toneladas de alimentos/ano seria possível zerar a fome entre os brasileiros. Repetindo, todos os anos o Brasil joga fora 27 milhões toneladas de alimentos enquanto apenas 7 milhões de toneladas bastariam para que ninguém passasse fome.
Essa conta é um desafio que deveria ofender a consciência coletiva, mas ao mesmo tempo pode ser a resposta que está faltando, que não aparece para acabar com a fome com a velocidade própria de quem não pode esperar. Os números comentados explicitam bem mais que distorções que não fazem sentido e não deveriam existir. Explicitam também que as soluções podem estar bem mais perto do que se imagina, ao alcance de quem estiver disposto a fazer mais e melhor.
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