Oferta de etanol para postos gera polêmica em Minas

Os donos de postos de gasolina afirmam que está faltando etanol no mercado. Por outro lado, os produtores do combustível negam que haja problemas na oferta do produto. Certo é que o diálogo entre o Minaspetro, sindicato que representa os postos, e a Siamig, associação dos empresários do setor sucroenergético, está espinhoso e, pelo menos até agora, não foram divulgadas manifestações diretas de seus representantes. As duas entidades preferem falar por notas.
A comunicação do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Minas Gerais (Minaspetro) assevera que os postos de combustíveis mineiros, sobretudo os do interior, têm tido dificuldade para encontrar etanol para repor seus estoques. “A Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), que representa as usinas produtoras, admite que a safra deste ano está atrasada por questões climáticas e incêndios nos canaviais. A falta do produto tem chegado até as distribuidoras, que não estão conseguindo atender à demanda total da rede de postos”, diz a nota.
Os donos de postos dizem ainda que “o problema tem se agravado e chegado também na gasolina, que possui em sua composição 27% de etanol anidro, com revendedores encontrando dificuldade para encontrar o produto nas companhias”. E que “diante da atual escassez do etanol, o que o mercado tem observado é uma alta no valor do produto nas usinas produtoras”.
De acordo com o índice aberto ao público da Esalq/Cepea/Usp, nos últimos 30 dias, o etanol hidratado subiu 17,1% nos produtores (saltando de R$ 3,2739 para R$ 3,8366), ao passo que o anidro chegou a uma alta de 8,5% no mesmo período (de R$ 3,7647 para R$ 4,0838).
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A nota oficial do Minaspetro diz ainda que, em março, a entidade “alertou sobre o problema de escassez do diesel devido à defasagem do combustível em comparação com os preços de importação” e que a incerteza de suprimento se repete com relação ao etanol.
“É importante frisar que, em um momento de crise global dos combustíveis, todos os elos produtores precisam agir com responsabilidade, sem oportunismo comercial e, principalmente, se esforcem para garantir total abastecimento dos postos e, consequentemente, dos consumidores”, finaliza.
Não há problema
Já a Siamig, em sua nota de esclarecimento, diz que não há nenhum tipo de problema ou falta na oferta de etanol por parte das usinas, “e que apesar do atraso da nova safra (2022/23) os estoques remanescentes da safra anterior (2021/22) são suficientes para abastecer o mercado”.
A associação dos sucroenergéticos informa também que a safra de cana já foi iniciada e que para a segunda quinzena de abril e início de maio espera-se que a safra na região Centro-Sul entre em um ritmo mais acelerado, aumentando assim a oferta de etanol no mercado. A entidade reforça, em sua comunicação, “que a previsão da safra canavieira de Minas Gerais apresentará, em 2022/23, uma recuperação com uma maior produção de etanol e oferta para o mercado consumidor”.
Uma fonte do Minaspetro disse, porém, que o clima é de briga e garante que as alegações da Siamig não procedem. “Os postos não estão conseguindo etanol para comprar; quando conseguem, é em menor quantidade, tipo um caminhão apenas”, disse a fonte. Dono de postos na região de Monlevade, o empresário Taylor Fonseca confirma que está tendo dificuldades de fornecimento – nos últimos dez dias, está recebendo 50% a menos do que antes.
“Da semana passada para cá, começaram a cortar o produto. Ontem (anteontem), não tinha etanol hidratado, hoje (ontem) de manhã não tinha o anidro, que é adicionado à gasolina”, contou Fonseca, que também enfrenta o aumento no preço do combustível – entre 8% e 10%, dependendo da distribuidora. “Quando entregam”, frisou o empresário, que tem transporte próprio e, mesmo assim, não está conseguindo trazer etanol para seus postos.
O presidente da Siamig, Mário Campos, está em viagem à Índia, em missão do governo federal. No último dia 14, ele informou ao DIÁRIO DO COMÉRCIO que vários fatores estavam contribuindo para a elevação dos preços do etanol. Entre eles, os problemas climáticos enfrentados na safra de cana-de-açúcar, como a seca e as geadas em 2021, e também os incêndios nos canaviais, que provocaram um atraso no início da safra em cerca de 20 dias.
Campos disse então à reportagem que a safra atrasada não prejudicaria o abastecimento do mercado. “Temos ainda o estoque da safra anterior e que atende perfeitamente o mercado”, afirmou. Ainda segundo o dirigente, a demanda pelo etanol aumentou desde março e foi impulsionada pelos feriados de abril, que estimularam o consumo.
Gasolina do Brasil entre as mais caras do mundo
São Paulo – O preço do litro da gasolina no Brasil está cerca de 15% acima da média praticada em 170 países, segundo levantamento feito no site da consultoria Global Petrol Prices, com dados para a segunda-feira da semana passada, dia 11 de abril.
Na data, o litro do combustível nos postos brasileiros custava R$ 7,192, valor coletado pela consultoria junto à Agência Nacional do Petróleo (ANP) até aquela data -atualmente, está em R$ 7,22. A média mundial era de R$ 6,29.
Na média de preços de 3 de janeiro a 11 de abril, o valor foi de R$ 6,78 no Brasil. Entre os fatores que explicam a mudança de patamar dos preços no País estão o mega-reajuste anunciado pela Petrobras no início de março, após a invasão da Ucrânia pela Rússia ajudar a elevar o preço do petróleo, e a valorização do real neste ano.
O levantamento compara os preços locais, em geral informados por órgãos governamentais, convertidos em dólar. Os valores foram posteriormente transformados em reais pelo câmbio de R$ 4,6915.
Pelo dado mais recente, o Brasil ocupa a posição 118 na lista de 170 países ranqueados do menor para o maior preço. Olhando a lista de outra perspectiva, o Brasil estaria na posição 53 entre os países com a gasolina mais cara.
Os números consideram o valor final ao consumidor, com impostos, custos de logística e, em alguns casos, subsídios ao combustível.
Embora o preço na bomba do mercado nacional esteja acima da média mundial na data analisada, isso não significa que os valores por aqui serão necessariamente revistos.
A política de preços da Petrobras segue as cotações nas refinarias do derivado de petróleo na região considerada a melhor alternativa de suprimento para o mercado brasileiro, geralmente, o Golfo do México, que concentra grande parte da capacidade de refino dos Estados Unidos. Também são considerados a taxa de câmbio e os custos de importação do produto.
Por esse conceito, o preço no Brasil está defasado em relação à paridade internacional. Segundo cálculo da Abicom (associação dos importadores de combustíveis), com dados para a última segunda-feira (18), o preço da gasolina no Brasil está 6% abaixo da referência no exterior, o equivalente a R$ 0,24 por litro.
“Apesar da ligeira redução do câmbio e dos preços de referência da gasolina e do óleo diesel no mercado internacional, as defasagens mantiveram-se afastadas da paridade, inviabilizando as operações de importação”, afirma a Abicom.
O Brasil está entre os dez maiores produtores, mas a capacidade de refino não atende à demanda nacional, levando à necessidade de importação de até 20% do consumo local.
Gasto do brasileiro
Os dados da Global Petrol Prices também mostram que o Brasil possui uma das maiores taxas de gastos com o combustível em relação ao nível de renda, de 4,8%, ao lado de países da África e da América Central.
Considerando o custo de encher um tanque de 40 litros, ele equivale a 10,8% da renda média mensal do brasileiro. Os números são praticamente o dobro do verificado, por exemplo, na Argentina. (Folhapress)
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