Covid-19 na China afeta a indústria farmacêutica

A nova onda de Covid-19 na China preocupa a indústria farmacêutica de Minas Gerais. Apesar de, no momento, não haver falta de medicamentos e sim uma oferta ajustada de algumas categorias, o receio é que faltem insumos médicos com o aumento dos casos. O receio se deve ao País ser altamente dependente da importação, comprando cerca de 85% dos insumos no mercado internacional, sendo a Índia e a China os maiores fornecedores.
O coordenador técnico do Sindicato das Indústrias de Produtos Farmacêuticos e Químicos para Fins Industriais no Estado de Minas Gerais (Sindusfarq-MG), Jomar Costa Rodrigues, explica que o número de mortes em decorrência da Covid na China subiu substancialmente nas últimas semanas.
Segundo ele, como em todo mundo, a pandemia e o aumento dos casos de gripe fez com que o consumo de medicamentos aumentasse também em Minas. No momento, há uma demanda elevada por antigripais, antibióticos e analgésicos e a oferta está ajustada.
“A preocupação é muito grande com essa categoria de medicamentos. O problema, hoje, é que a China e a Índia detém a maior parte do mercado mundial da matéria prima. O Brasil é muito dependente, comprando cerca de 85% dessa matéria prima da China e da Índia”.
Ainda segundo Rodrigues, devido à alta dependência, tudo que acontece na China tem um efeito imediato no Brasil. “Nosso parque industrial farmoquímico é, ainda, incipiente e a pandemia mostrou isso para todo mundo. Tecnicamente, a gente já sabia disso há muitos anos”.
A nova onda de covid na China pode agravar os impactos que já são sentidos pela indústria farmacêutica de Minas Gerais desde o início da pandemia. Um deles, segundo Rodrigues, é o aumento dos custos dos insumos, principalmente, dos Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs). Outro problema é a logística.
“Como a China tem fechado, às vezes seus transportes, principalmente, na época de maior crise, houve um atraso muito grande na entrega de matérias primas. Nós temos receio de que, agora, com esse aumento descontrolado da pandemia na China, isso possa voltar a acontecer em um período muito curto, como foi em 2020 e 2021. Lembrando que nossas indústrias compram nossos insumos, não só as IFAs, mas grande parte dos excipientes da China e da Índia. É um mercado importante para Minas e para as indústrias farmaceuticas”.
O aumento dos casos na China e os problemas de logística geram um atraso na chegada das matérias primas, criando-se um problema de falta no mercado interno.
“Não que falte o insumo. Mas, como os insumos chegam atrasados, os medicamentos são produzidos e entregues em um momento diferenciado, com o consumo muito alto. Nossa preocupação não é só em Minas, mas no Brasil como um todo. Nossas indústrias têm se preparado para isso, com planejamento e remessas mais rápidas, maior quantidade de matérias primas, principalmente, nas categorias de antigripais, antibióticos e analgesicos. Mas, mesmo com as indústrias antecipando nos planejamento e cronogramas, tem o impacto da logistica”.
Em relação ao desempenho das indústrias, os custos mais elevados dos medicamentos têm impactado nas margens, que estão menores.
“No Brasil, os medicamentos são um dos poucos produtos que o governo controla os preços. Esse impacto é enorme para as empresas e algumas já estão parando de produzir certos analgésicos. Perderam o interesse porque o custo não compensa”.
Além dos antigripais, antibióticos e analgésicos, a oferta ajustada também é vista em medicamentos para cardiopatias e para o controle de colesterol.
Em nível nacional, o presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), Nelson Mussolini, explica que até o momento nenhuma das empresas representadas pela entidade apresentaram problemas de atraso de compras, que seguem normais.
“Ainda não existe receio do setor em relação à falta de medicamentos. Mesmo com o aumento dos casos de Covid na China não há um locking down, então, não está afetando a programação para os próximos meses. Com a pandemia, muitas empresas aumentaram os estoques de IFAs”.
Ainda segundo Mussolini, o que de fato está afetando as indústrias é o custo do frete. “Achamos que os valores iriam voltar ao normal, mas ainda estão muito caros. Isso impacta na rentabilidade das empresas. Houve um aumento de custo muito forte no frete e no custo dos produtos”.
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