Economia

Organizações da Sociedade Civil criam estratégias para manter ajuda durante a pandemia

Organizações da Sociedade Civil criam estratégias para manter ajuda durante a pandemia
ONG Oportunidade faz doação de cestas básicas - Crédito: Divulgação

As portas das Organizações da Sociedade Civil (OSC) significam, muitas vezes, o bilhete para a sobrevivência e o futuro de milhares de pessoas em situação de vulnerabilidade ou com acesso limitado à formação escolar e profissional. Crianças, jovens, adultos e o próprio meio ambiente se beneficiam das ações das OSC, que atuam, principalmente, em causas de interesse público e promoção dos direitos humanos. 

Mas a crise sanitária e o agravamento da crise financeira alterou a rotina dessas instituições. Como manter as portas abertas diante do inimaginável e com históricos de defasagem econômica? Segundo estudo da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), em maio de 2020, 73 % das OSC respondentes relataram que foram enfraquecidas pela pandemia da Covid-19 e tiveram redução da captação de recursos

Ainda segundo o estudo, que contou com 1.760 instituições respondentes de todo o Brasil, 87 % das OSC tiveram atividades integral ou parcialmente interrompidas. Entre os principais impactos positivos, além da diminuição da receita, estão a dificuldade de comunicação com o público atendido, apontada por 55% das respondentes, seguido por diminuição dos voluntários ativos (44%), sobrecarga de trabalho por parte da equipe (40%), além de redução de carga horária e demissão de pessoal (33%). 

Os desafios das OSC em Minas Gerais

De acordo com a superintendente-executiva da Federação Mineira de Fundações e Associações de Direito Privado (Fundamig), Júlia Caldas, o início da pandemia marcou as OSC com questões burocráticas, já que muitas delas tiveram que adequar Estatutos para a realização de assembleias virtuais e submeter a documentação a cartórios que também suspenderam suas atividades naquele período. 

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“Esse problema acarretou no bloqueio de contas bancárias de muitas organizações por falta de documentação comprobatória de representação legal. Além disso, constatamos problemas gerados pela não modernização de processos internos das organizações. Somente as maiores estavam preparadas para o trabalho remoto, mas esses problemas foram sanados com o passar do tempo”, explica Júlia Caldas.

Contudo, o agravamento da pandemia e a duração revelaram desafios graves: corte de recursos, patrocínios, parcerias públicas e acesso restrito aos voluntários, fatores revelados no estudo supracitado e endossado por Júlia Caldas. “Quando o terceiro setor se viu com a maior demanda por atendimentos da história, em todas as áreas, nos vimos ao mesmo tempo sem os recursos habituais”, conta a superintendente-executiva da Fundamig — Federação hoje formada por 118 associações e fundações, às quais presta apoio.  

Amparar e informar em meio à tempestade

Os momentos de tempestade exigem ainda mais proteção. E enquanto as portas das organizações estavam fechadas para a manutenção de protocolos de segurança, os guarda-chuvas foram – e ainda são – a solução para o momento. Solução que faz a diferença, por exemplo, no prato vazio de quem sente fome e no olhar desesperançoso de quem teme não ter trabalho no futuro por falta de formação. 

Segundo a diretora-presidente do Centro Mineiro de Alianças Intersetoriais (Cemais), Marcela Giovanna Nascimento, a pandemia “acendeu o alerta” da instituição para a garantia de direitos, principalmente aqueles relacionados aos idosos e às crianças. “Além de agravar problemas que já conhecíamos, (a pandemia) trouxe situações novas, como crianças e jovens que perderam toda a família e estão órfãs. Temos ainda o retorno do crescimento de problemas sociais que já caminhávamos para erradicar, como a fome, o trabalho infantil, a evasão escolar”, enfatiza Nascimento. 

Marcela Giovanna Nascimento, do Cemais – Crédito: Arquivo Pessoal

É em meio a esse cenário que o Cemais, que tem como objetivo fomentar o terceiro setor, ampliou a mobilização e o esforço para chegar em mais organizações para compartilhar conhecimento e quebrar as barreiras das inverdades por meio do diálogo — ressaltando que o primeiro setor é formado pelo governo e o segundo pelas instituições privadas. 

“A atenção com a nossa comunicação também foi redobrada. Entendemos que diante da crise sanitária, da situação de caos, desinformação e da falta de respostas, era preciso uma comunicação ainda mais humanizada e atenciosa com todos os nossos públicos”, conta a diretora-presidente. 

Reconhecer as vulnerabilidades

O Instituto Ramacrisna foi uma das instituições que não interrompeu as suas atividades. Com o privilégio de ter em sua estrutura equipes de tecnologia da informação e produtores de áudio e vídeo, a atuação da organização em benefício da profissionalização de jovens foi mantida. “A gente conseguiu de uma forma rápida manter o trabalho com os jovens. Nós sabemos que já é tudo muito difícil e que essa formação é importante para o futuro deles”, afirma a vice-presidente do Instituto Ramacrisna, Solange Bottaro. 

Disponibilizar o curso não era suficiente, já que a internet não é realidade nas casas de todas as famílias brasileiras. Diante dessa realidade, o Instituto fez uma doação de 600 chips telefônicos para que crianças e adolescentes tivessem acesso aos conteúdos escolares e profissionalizantes. 

“Nós temos também um grande número de alunos que quando vêm para o Instituto recebem almoço e lanche, mesmo nas férias. E isso é fundamental para as famílias vulneráveis. Com a ajuda de parceiros, até mesmo internacionais, conseguimos distribuir cestas básicas. Com a alimentação precária, como que um aluno pode retornar às aulas?”, reflete Bottaro. 

Durante a pandemia, Bottaro acredita que as estratégias de articulação e o envolvimento da equipe, além da credibilidade do Instituto pelos 62 anos de atuação e da destinação de recursos por parte da Fábrica de Telas Ramacrisna, foram responsáveis pelas ações que beneficiaram mais de 53 mil pessoas com a doação de alimentos e, em média, 16 mil alunos, que se profissionalizam anualmente no Ramacrisna

Reinventar em meio às perdas

Segundo o presidente da ONG Oportunidade, Breno Nolasco, as principais dificuldades do período estão relacionadas à perda de parcerias. “Nós tínhamos empresários que pagavam uma conta de água, luz ou o aluguel, e com a pandemia a dificuldade chegou para todos. Mas o mais difícil foi a paralisação do projeto, dos cursos, porque nós continuamos o projeto na parte social para doar cestas básicas e kits de higiene pessoal”, conta ele. 

Nos próximos dias, segundo Breno Nolasco, as atividades relacionadas aos cursos de formação profissional, que são o foco da ONG Oportunidade, serão retornadas de acordo com os protocolos de saúde. “Queremos ajudar as pessoas nesse momento de retomada, que é um momento tão importante, já que a maioria perdeu o seu emprego e agora nós vamos qualificá-las para que elas retornem ao mercado e abram o seu próprio negócio”, afirma Nolasco, que espera receber, por mês, cerca de 600 a 700 pessoas para as formações.

Qual a diferença entre ONG e OSC?

As Organizações da Sociedade Civil (OSC) e as Organizações não Governamentais figuram como palavras sinônimas. No entanto, para fins legais, utiliza-se OSC para evidenciar que as organizações não governamentais podem ter captação de recursos públicos. 

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