Ouro cai, mas queda não atrapalha desempenho do ativo

Desde que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou tarifas mais agressivas para as relações comerciais, o mercado do ouro tem enfrentado uma alta volatilidade. Na última quinta-feira (3), primeiro dia após o anúncio das novas taxas, o ouro atingiu mais um recorde histórico chegando a valores acima de US$ 3,16 mil por onça nas negociações, pressionado pelo receio da possível guerra comercial. Entretanto, na manhã dessa segunda-feira (7), os preços caíram para os menores níveis em mais de três semanas, conforme o informe diário da Monte Bravo Corretora, após queda nas bolsas e da retaliação chinesa.
De acordo com o estudo da Monte Bravo, os preços do ouro à vista recuaram 0,3%, passando a ser cotado a US$ 3,02 mil a onça no primeiro dia da semana. A variação é entendida por especialistas como um reflexo da ansiedade e da insegurança dos investidores em relação aos impactos que as tarifas podem ter na economia mundial e não como uma nova tendência da cotação do metal.
Conforme explica o CEO da Investo, Cauê Mançanares, o ouro sofreu queda na última semana assim como todos os outros ativos do mercado. “Inclusive títulos de renda fixa caíram. Entretanto, a queda do ouro foi muito menos expressiva, porque é um ativo de segurança, especialmente agora que há um questionamento sobre o dólar como reserva de valor”, observou.
Mançanares pontua ainda que, nesse momento, investidores de todo o mundo acabam colocando mais ouro nas carteiras. “Ele tem oscilado muito porque os mercados estão num período muito volátil, tem muita incerteza no mercado e isso faz com que todos os ativos, independente da classe, oscilem”, avalia.
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Porém, o ouro tende a oscilar na direção contrária dos outros ativos. “Quando tudo está caindo muito, o ouro chega até a subir um pouco. Na última semana ele caiu, mas caiu bem menos do que os outros ativos, o que o torna mais seguro e até uma proteção”, completou.
Mesmo com o vai e vém dos números e das retrações registradas, o ouro acumula uma valorização anual de cerca de 30%, sustentada pelo aumento das compras de reserva pelos bancos centrais, da inflação e da insegurança econômica.
Na avaliação do economista da Ourominas Investimentos, Mauriciano Cavalcante, a incerteza econômica afeta a confiança dos investidores. “Quando há incertezas nos mercados, muitos investidores buscam o ouro como um porto seguro, o que eleva o preço do metal precioso”, afirmou.
Além disso, Cavalcante ressalta que a elevação das tarifas impacta as economias globais, levando as bolsas a flutuações de valores globais. “Quando as bolsas caem, o ouro tende a se valorizar, pois é visto como uma proteção contra a instabilidade”.
O economista da Valor Investimentos Ian Lopes observa que quando o mercado está “em período de estresse” como o de agora, já é possível ver investidores vendendo ouro para pagar dívidas. “Ainda é muito da volatilidade do dia, mas a tendência em períodos de inflação é que o ouro siga como uma fuga para proteção”, afirmou.
O coordenador do mestrado profissional em controladoria e finanças da Faculdade Fipecafi, George Sales, pontua quatro motivos para o preço do ouro ter apresentado alta volatilidade recentemente. Além das tarifas de Trump que desencadeou preocupações sobre uma possível guerra comercial global, ele pontua as vendas para cobrir perdas em outros mercados. “A redução ocorreu porque investidores venderam ouro para cobrir perdas em outros ativos afetados pela volatilidade do mercado”, disse.
Sales também ressalta as expectativas de política monetária quanto aos cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed), em resposta a temores de recessão, que acabam também influenciando o preço do ouro. “Taxas de juros mais baixas tornam o ouro mais atraente, pois reduzem o custo de oportunidade de manter ativos que não rendem juros”, afirmou.
Por último, ele cita a compra do ativo por Bancos Centrais. “Especialmente o da China, têm aumentado suas reservas de ouro, sustentando a demanda e contribuindo para a valorização do metal”, finalizou.
Valorização do ouro deve seguir em 2025
Nesse cenário, a trajetória do metal segue de valorização. Só no ano de 2025, o metal já subiu cerca de 15%, mantendo sua posição entre um dos ativos de maior destaque.
Cauê Mançanares, da Investo, defende que a tendência é que quanto mais incerteza houver, mais o ouro se consolide como um ativo estrutural do portfólio de investimento com uma relevância cada vez maior. “São nesses momentos de incerteza que ele se destaca”, disse.
Segundo Mançanares, o ouro é uma classe de ativo que se destaca, assim como imóveis, como ativos ilíquidos, crédito, ou títulos de renda fixa do governo. Porém, não é possível, na opinião dele, vislumbrar um patamar que ele possa alcançar já que é pautado pela oferta e demanda.
“Enquanto a gente tiver uma incerteza, a demanda certamente continuará alta e tende a continuar sendo um ativo interessante para colocar no seu portfólio. Quando as coisas se acalmarem, a gente deve ver voltar aos níveis normais de interesse e de demanda”, afirmou.
Cavalcante, da Ourominas, disse acreditar que a continuidade desse cenário dependerá de vários fatores, como a evolução das políticas comerciais, as respostas dos mercados e a situação econômica global. “Se as tensões comerciais persistirem, é possível que o ouro continue a apresentar variações significativas”, disse.
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