Investimento: ouro tem tendência de forte valorização
O estresse no mercado econômico mundial – resultado do processo inflacionário, alta dos juros e queda do consumo, o que vem provocando uma recessão econômica geral – vai fazer com que a valorização vista nos preços do ouro nos últimos meses, prossiga neste início de 2023. O metal precioso é considerado um bom caminho para investimentos em tempos incertos.
Apesar de ter encerrado 2022 com queda próxima a 6% na cotação, o ouro vem reagindo nos últimos meses. Mesmo com constantes oscilações, em novembro, após registrar a maior baixa do ano, R$ 268 o grama, a cotação subiu e encerrou 2022 a R$ 310,02. A tendência, segundo analistas de mercado, é que os preços se mantenham valorizados e, possivelmente, acima de R$ 300 o grama.
De acordo com o especialista da Valor Investimentos, Gabriel Meira, o ouro, no final de dezembro, ficou cotado acima de US$ 1.810 a onça troy. Com o aumento da taxa de juros nos Estados Unidos e a estimativa de uma recessão global, os preços do metal precioso tendem a valorizar, já que haverá uma maior demanda dos investidores.
“O mundo espera uma certa recessão global, principalmente, pelo aumento dos juros na União Europeia e também nos Estados Unidos, que ditam o tom do resto do globo. A alta de juros nos EUA, próxima de 5%, 5,5%, tende a trazer um fluxo muito maior para o ouro, que é considerado uma reserva de valor. Por isso, existe uma expectativa de alta para ouro”.
Apesar da estimativa de valorização, não é possível estipular valores, que segundo Meira, dependerão de vários fatores. Segundo ele, o preço do ouro dependerá do tamanho da recessão e do quão rápido serão as altas nos juros do mundo.
“Ainda existe uma intriga entre China e Taiwan que impacta nos preços das commodities de forma geral. Então, alguns fatores irão ditar o tom para a alta do ouro em 2023, com o consenso de que mundo está em recessão há maior corrida para os metais mais robustos e para reserva de valor, como o ouro”.
O economista e doutor em relações internacionais, Igor Lucena, explica que não há dúvida de que o preço da grama do ouro ter ultrapassado os R$ 300 o grama nas últimas semanas é um indicativo muito forte de estresse no mercado econômico mundial.
“Isso ocorre porque o ouro é, naturalmente, um investimento contra turbulências no mercado. A gente está assistindo, basicamente, a uma forte queda nos últimos meses dos preços de ações no mundo inteiro, isso ocasionado, majoritariamente, porque estamos em um processo inflacionário no planeta. Esse processo inflacionário faz com que as previsões de consumo caiam. As previsões de consumo caindo e também do crescimento econômico faz com que os preços das ações desabem. Então, com ações em baixa, os investidores procuram alocar seus recursos em outros ativos”.
Ainda segundo Lucena, inicialmente esses investidores iriam para ativos de renda fixa, como títulos do Tesouro, mas, o problema é que a inflação, principalmente, em países desenvolvidos como a Europa Ocidental e também nos Estados Unidos, está acima das taxas básicas de juros e as taxas básicas de correção dos títulos públicos.
“Ou seja, alocar recursos em alguns títulos públicos mais tradicionais para o mundo desenvolvido não corrige os valores da inflação momentânea. Dentro desse contexto, o ouro é a principal aposta dos investidores, então, a gente está assistindo, na prática, os efeitos da inflação no planeta inteiro, aliados com baixo crescimento econômico e uma queda no mercado de ações. Isso faz com que a cotação do ouro dispare e essa é a perspectiva, pelo menos, no curto prazo”.
No curto prazo, ainda segundo Lucena, vivemos um cenário inflacionário alto e um cenário onde bancos centrais continuam a aumentar as taxas de juros.
“Isso significa que continuaremos a assistir um rally de crescimento no preço da cotação do ouro. Isso é uma visão clássica do que está acontecendo”.
No médio e longo prazos, os aumentos das taxas de juros tendem a estabilizar a inflação no planeta inteiro e, para o final de 2023 e início de 2024, há uma tendência de diminuição da inflação.
“Isso vai fazer com que os investidores comecem a migrar para ativos de renda variável pensando em um ganho futuro para 2024 e 2025. Isso significa que os investimentos em ouro vão começar a diminuir e aí a cotação do ouro tende a cair com mais facilidade. Para o longo prazo, é esperada uma queda realmente expressiva quando os mercados se reorganizarem”.
O diretor de câmbio da Ourominas, Mauriciano Cavalcante, explica que o ouro se comportou com muita volatilidade o ano inteiro. “Motivos para essa oscilação não faltou, entre elas as mais impactantes foram as eleições presidenciais no Brasil, a guerra entre Rússia e Ucrânia e também a crise econômica global. Todos estes fatores também foram os responsáveis pela alta do ouro no final de 2022”.
Para Cavalcante, no curto prazo, apesar da tendência de oscilações, o viés será de alta na cotação.
“Ainda teremos muitas oscilações com viés para cima, pois todos os fatores corroboram para essas oscilações. No médio prazo, as perspectivas não têm muitas mudanças em relação ao ano 2022. Os fatores principais são os mesmos já citados, com um diferencial interno que é a troca de presidente do Brasil, pois é uma incógnita muito grande sem sabermos como o governo irá agir, principalmente, no campo econômico”, disse.
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